A família da adolescente de 12 anos apontada pelo Ministério Público Estadual (MP) como responsável pela morte da estudante Marta Avelhaneda Gonçalves, 14 anos, conversou com a reportagem no escritório dos advogados de defesa Cristian Wasem e Marcos Vinicius Barrios. Além da menina e da mãe, estavam presentes os avós e uma tia.
Franzina, com voz baixa e delicada, a adolescente contou sua versão dos fatos. Respirou fundo, cobriu os olhos com as mãos e enxugou as lágrimas antes de responder à primeira pergunta. A adolescente confirma que houve a briga, mas nega que tenha golpeado o pescoço da colega. Segundo ela, não havia nenhuma rixa que justificasse a desavença no segundo dia de aula.
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A mãe contou que a rotina da família mudou após a morte de Marta. A mulher e o casal de filhos saem pouco de casa. Outro dia, teve carro apedrejado. Os estudos dos filhos foram interrompidos temporariamente. Ela lamenta pela perda da família Gonçalves:
– Estou muito sentida pela mãe da Marta, sei que ela deve estar me odiando, mas queria dar um abraço nela, sinto a dor que ela deve estar sentindo.
Os advogados pretendem apresentar manifestação à 4ª Vara Cível de Cachoeirinha na segunda-feira para demonstrar que, na visão deles, não há requisito processual que exija a internação provisória solicitada pelo MP.
– Ela foi agredida, foi derrubada no chão e o que tentou fazer foi se defender. A gente vai tentar demonstrar que não existe essa cautela de interná-la. Com a prova já consegue se perceber que ela agiu em legítima defesa, se efetivamente a lesão foi ocasionada por ela. Não há como se presumir possível reincidência, é um ato absolutamente isolado na vida dela, a família é estruturada – afirmou Barrios.
Leia a entrevista na íntegra:
Como foi o primeiro dia de aula?
Quando ela (Marta) entrou na sala de aula, perguntei como era o nome dela, ela até respondeu meio seca, né. Perguntei quantos anos ela tinha, a gente conversou, sabe. A gente também fez educação física juntas. Na quarta-feira que aconteceu tudo aquilo. Não consigo explicar (o que estou sentindo). Tô triste por tudo isso.
O que aconteceu naquele dia?
A gente estava sem professor. Meu colega falou que eu era "feia", outra amiga falou que "tem gente pior". Quando ela falou isso, a Marta passou e achou que fosse ofensa para ela. Depois disso, a gente desceu (ao primeiro andar da escola) para avisar a diretora que não tinha professor. Quando entrei na sala (no segundo andar), a Marta estava atrás da porta e me deu uma rasteira e me puxou. Aí caí no chão. Ela sentou em cima de mim. Aí, começou a me bater. Quando aconteceu isso, um amiga começou a pedir para separar a briga, e outra amiga separou. Joguei água no rosto dela para ajudar. Subiram os professores e fizeram os procedimentos (de socorro) nela.
O MP disse que você teria golpeado o pescoço dela. Isso aconteceu?
Não, não peguei (no pescoço), porque estava embaixo (dela). Quando ela me deu a rasteira, colocou meus dois braços para trás, nas costas. Só me debatia porque não conseguia encostar nela.
O MP disse ainda que ninguém avisou os socorristas sobre a briga, é verdade?
Antes de o Samu entrar na escola, prenderam todos nós em uma sala, ninguém falou com os socorristas, só os professores. Ninguém falou nada porque ninguém sabia o que tinha acontecido com ela.
Um depoimento diz que você teria relatado a uma colega que apertou o pescoço da Marta.
Não falei isso para ninguém. Antes de acontecer tudo isso, tinha uma amiga, só que ela não queria que eu tivesse outras amizades e parei de falar com ela por causa disso. Queria ser amiga de outras gurias, mas ela não queria deixar. Quando a Marta tinha entrado, sentou com ela. Uma hora olhei (para a Marta) e (a amiga) virou o olho. Acho que a (amiga) falou alguma coisa contra mim.
Alguém tentou separar vocês?
Foi uma (menina) só que vi tirando a Marta de cima de mim. Não vi por onde foi. Elas caíram no chão.
Quanto tempo demorou a briga?
Um minuto, acho. Foi muito rápido. Não cheguei a falar nada para ela, só me debati e pedi socorro. Mas todo mundo só ficou olhando. Até que uma amiga falou: "separa".
Como você está se sentindo?
Fiquei bem triste, né. Queria tentar ajudar ela também. Ai, não sei explicar. Até tentei ajudar ela (Marta) quando caiu no chão.
Por que você escreveu uma carta endereçada para Marta após a morte dela?
Escrevi depois que aconteceu tudo isso, não sei porque. Eram umas palavras que estavam dentro de mim, não sei explicar. Não imaginei que ia acontecer briga, nem nada. Nem conhecia ela, não tinha porque querer brigar com ela. Muita gente disse que fiz bullying com ela, mas não tem por quê.