O assassinato de um adolescente de 17 anos na noite de terça (6), que marcou a chegada aos quatro mil homicídios e latrocínios em Porto Alegre desde janeiro de 2011, aumentou também a cifra dos bairros mais violentos da cidade. Ele foi executado no Sarandi, o mais populoso de Porto Alegre e, em números absolutos, o quarto bairro mais violento da cidade. Foram pelo menos 234 vítimas de assassinatos neste bairro desde o início do levantamento do Raio X da Violência, organizado por Zero Hora e Diário Gaúcho.
Somados aos crimes dos bairros Rubem Berta (480), Restinga (307), Santa Tereza (244) e Mario Quintana (202), as cinco áreas, que correspondem a 22% da população da cidade, concentram 36,6% dos assassinatos do levantamento. Mas a violência desde o começo da década está longe de ficar restrita a estes locais. Somente quatro bairros não registraram nenhum assassinato no período: Jardim Isabel, Pedra Redonda, Bela Vista e Três Figueiras.
— O crime aconteceu em uma área com forte influência de uma facção criminosa. Não temos relatos de conflitos recentes naquele local. Ao que tudo indica, a morte foi consequência dessas relações com o tráfico, mas ainda estamos apurando as circunstâncias — diz o delegado Cassiano Cabral, responsável pela investigação na 3ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
Na vizinhança do Loteamento Farroupilha, na Vila Asa Branca, o silêncio é quase absoluto sobre o episódio da noite de terça. Sabe-se apenas que dois homens armados invadiram a casa onde o adolescente estava com a mãe e uma irmã, de 15 anos. Elas não foram feridas. Ao menos uma testemunha relata que o rapaz vinha sendo ameaçado por traficantes e há alguns dias não aparecia na casa da família. Quando retornou, foi encontrado pelos seus algozes.
Os bairros mais violentos (números absolutos):
Rubem Berta: 480 vítimas
Restinga: 307 vítimas
Santa Tereza: 244 vítimas
Sarandi: 234 vítimas
Mario Quintana: 202 vítimas
—A maior parte das mortes em Porto Alegre está relacionada à ação ou influência das organizações criminosas. Onde elas atuam, ou entram em conflito, os números tendem a ser maiores. Não é exatamente a droga que leva a todas as mortes, mas é como um pano de fundo para outras submotivações. E quem está na linha de frente deste sistema são os jovens. São eles que engrossam a população carcerária, cometem os crimes e também morrem nestes crimes — explica o diretor do Departamento de Homicídios de Porto Alegre, delegado Paulo Grillo.
Tráfico como pano de fundo
A presença das facções criminosas em determinadas regiões de Porto Alegre é retratada pelo elevado número de assassinatos em um bairro como o Rubem Berta, que é disparado o mais violento em números absolutos desde o começo de 2011. De acordo com a polícia, a disputa de grupos criminosos torna a região uma verdadeira colcha de retalhos demarcada pelos pontos de tráfico.
Na proporção, porém, este não é o bairro mais violento de Porto Alegre. A desconfortável posição é do bairro Serraria, com um índice de 77,7 homicídios para cada 10 mil habitantes. O bairro é conhecido como base de uma das mais violentas facções criminosas da Região Metropolitana. Desde o começo do ano passado, no entanto, foram três registros de homicídios no bairro Serraria, a metade do que se observou em 2015.
— Desde o ano passado estamos em um período de baixa dos homicídios. É resultado do esforço de investigação da Polícia Civil e do reforço na repressão, pela Brigada Militar, nas ruas. É também resultado do isolamento de lideranças, com a Operação Pulso Firme, no ano passado, e do trabalho de combate à lavagem de dinheiro que a Polícia Civil tem feito. Todo o nosso esforço é para fazer com que a baixa de homicídios atual dure o maior tempo possível — diz o delegado Grillo.
Desde o começo do ano, foram pelo menos 99 assassinatos em Porto Alegre. É a metade do que havia sido registrado no mesmo período de 2017. O momento, segundo o diretor do Departamento de Homicídios, porém, não é de tranquilidade ou comemoração.
— O clima é de expectativa, porque as organizações estão sofrendo uma desestabilização, mas novas lideranças podem se formar. Creio que só teremos resultados permanentes contra os homicídios quando forem atacadas a política de drogas, o sistema prisional e o controle de armas — conclui o delegado.