A casa onde fica o templo do bruxo preso pela polícia, onde supostamente teria ocorrido o ritual em que as crianças foram sacrificadas, fica em uma estrada erma de chão batido na Região Metropolitana — a cidade é mantida em sigilo para preservar as investigações.
Com poucas moradias no entorno, a residência na cor laranja é cercada por mato. À frente, um portão preto exibe um pentagrama, uma estrela composta por cinco retas e cinco pontas, que possui diversos significados, desde mitológico, matemático e até na magia.
Um vizinho confirmou que o bruxo mora ali e que o viu "até o final do ano passado" no local. Nesta quinta-feira (3), a reportagem localizou três cachorros no pátio da casa, mas nenhum morador. As janelas e portas estavam fechadas.
O templo tem CNPJ e já teve sede em Porto Alegre. Vizinhos da casa abandonada na zona norte da Capital confirmaram que o bruxo morou e fez rituais no local por algum tempo, mas que se mudou há cerca de um ano.
— A gente via de tudo ali. Ouvia, também. E todo tipo de pessoa frequentava. Pagavam um dinheirão. Um dia, uma mulher me disse que pagaram R$ 10 mil — contou um homem que trabalha nas redondezas.
A casa em Porto Alegre, que na época das bruxarias tinha duas águias de cimento nas laterais do portão de acesso, chegou a ser colocada à venda, mas a placa do anúncio teria caído.
Nesta quinta-feira (4), o delegado Moacir Fermino, que está coordenando a investigação, informou que a suspeita é de que as duas crianças podem ser argentinas, já que um dos suspeitos é natural do país vizinho.
Segundo o delegado, peritos especialistas em genoma serão consultados para avaliar o DNA dos irmãos, em busca de características como traços indígenas ou semelhanças a argentinos.
Na semana passada, três pessoas foram presas. Entre elas, está o suposto líder do grupo, identificado como "mestre e bruxo". Conforme o delegado, que prefere preservar o nome do suspeito para não atrapalhar as investigações, o preso é uma referência no país e na América Latina em termos de magia negra. Ele seria adorador do deus Moloch, nome de um demônio na tradição cristã e cabalística. Os fiéis dessa divindade realizariam sacrifícios com crianças desde a antiguidade.
Revelação: o nome da operação
Os investigadores de Novo Hamburgo deram o nome de Revelação à operação que investiga o esquartejamento de duas crianças, cujos corpos foram encontrados em setembro na Lomba Grande.
As "revelações", explica o delegado Moacir Fermino, acontecem quando Deus se comunica com Seus filhos. Os fiéis acreditam que quando o Senhor revela Sua vontade, Ele fala por intermédio de profetas. Fermino acredita que a verdade sobre o caso foi "revelada" a ele e aos policiais, por isso, o nome da operação.