A Polícia Civil informou, na manhã desta quinta-feira (4), que as crianças encontradas esquartejadas em Novo Hamburgo podem ser argentinas. Batizada de Operação Revelação, a investigação tem como principal hipótese que os irmãos, cujos corpos foram localizados em setembro em um terreno baldio, tenham sido usados em um ritual satânico.
Como o DNA da menina, que tem de 10 a 12 anos, e do menino, de oito a 10 anos de idade, não foram localizados nos bancos de dados brasileiros, a polícia já desconfiava que pudessem ser estrangeiros. Com a identificação dos suspeitos, o delegado Moacir Fermino, coordenador da investigação, chegou a um homem nascido na Argentina.
— Ainda é uma hipótese, mas como ele é de lá, acreditamos que as crianças podem ter sido trazidas da Argentina. Não sabemos se foram sequestradas, compradas ou outra coisa — afirmou Fermino, que é titular da 2ª DP, mas está respondendo pela Delegacia de Homicídios de Novo Hamburgo.
Segundo o delegado, peritos especialistas em genoma serão consultados para avaliar o DNA dos irmãos, em busca de características como, por exemplo, traços indígenas e semelhantes a argentinos.
Na semana passada, três pessoas foram presas. Entre elas, está o suposto líder do grupo, identificado como "mestre e bruxo". Conforme o delegado, que prefere preservar o nome do suspeito para não atrapalhar as investigações, o preso é uma referência no país e na América Latina em termos de magia negra.
Ele seria adorador do deus Moloch, nome de um demônio na tradição cristã e cabalística, cujos fiéis, desde a Antiguidade, realizam sacrifícios com crianças. Uma das imagens que representam Moloch (figura ao lado) mostra um deus com chifres que recebe um recém-nascido em seus braços, tendo diversas pessoas o reverenciando ao redor.
— Esse tipo de ritual, que envolve abusos sexuais, sangue, morte e até aprisionamento em concreto, é muito comum nos Estados Unidos, em Uganda, na Europa e em outros lugares. No templo desse bruxo que prendemos, encontramos várias imagens de demônios, livros de bruxaria, magia negra e maçonaria — contou Fermino, acrescentando que o líder do grupo também é maçom.
Questionado se havia se assustado com o que encontrou no local — sem divulgar sequer a cidade onde fica —, Fermino disse que não:
— Sou um homem de Deus. Alguns dos meus homens ficaram com medo. Mas eu sou evangélico, não tenho o que temer.
O investigador confirmou que o ritual em que os corpos dos irmãos foram usados foi contratado por pessoas em busca de "prosperidade imobiliária" e que, por isso, haviam pago uma "grande quantia de dinheiro", sem revelar valores.
Outros supostos envolvidos ainda são procurados, por isso os detalhes da investigação ainda estão sob sigilo. A divulgação dos resultados e de todas as características do caso é prometida para a próxima semana.
Templo tem pentagrama no portão e fica em local afastado
A casa onde fica o templo do bruxo preso pela polícia e onde supostamente teria ocorrido o ritual em que as crianças foram sacrificadas fica em uma estrada erma de chão batido na Região Metropolitana — a cidade é mantida em sigilo para preservar as investigações.
Com poucas moradias no entorno, a residência pintada de laranja é cercada por mato. À frente, um portão preto exibe um pentagrama, uma estrela composta por cinco retas e cinco pontas, que possui diversos significados, desde mitológico, matemático e até na magia.
Revelação: o significado do nome da operação
Os investigadores de Novo Hamburgo deram o nome de Revelação à operação que investiga o esquartejamento de duas crianças, cujos corpos foram encontrados em setembro na Lomba Grande.
As "revelações", explica o delegado Moacir Fermino, acontecem quando Deus Se comunica com Seus filhos. Os fiéis acreditam que quando o Senhor revela Sua vontade, Ele fala por intermédio de profetas. Fermino acredita que a verdade sobre o caso foi "revelada" a ele e aos policiais, por isso o nome da operação.