Os números da criminalidade no Estado, divulgados nesta quarta-feira (1º) pela Secretaria da Segurança Pública, permitem diferentes abordagens. O dado positivo é a redução de homicídios (14,3%) e de latrocínios (59%) em Porto Alegre.
O aspecto negativo, revelado pelo repórter de GaúchaZH Eduardo Torres, é que os assassinatos migraram para nove municípios da Região Metropolitana com população superior a 100 mil habitantes. Nestas cidades, houve acréscimo de mortes em 21%.
De acordo com a reportagem, os assassinatos reduziram na Capital devido ao reforço do policiamento ostensivo: ingresso de novos PMs na tropa, remanejamento de soldados do Interior e permanência do efetivo da Força Nacional. Com mais policiais nas ruas, o acerto de contas entre as facções passou a ser feito na Grande Porto Alegre. O reforço do policiamento é parte de uma estratégia de segurança. O problema é que, no Estado, a estratégia inexiste ou não está clara. Não basta empurrar o crime para outras áreas. É necessário investimento social, parcerias com prefeituras e a sociedade civil, construção de presídios, "desprivatização" de cadeias, que são administradas pelas facções. Enquanto isso não for feito, vamos comemorar avanços e, ao mesmo tempo, lamentar recuos na área da segurança.
Ministro chuta o balde
Outro assunto de alta repercussão foram as recentes declarações do ministro da Justiça, Torquato Jardim, sobre a Polícia Militar (PM) do Rio de Janeiro.
Na terça-feira (31) ele disse ao site UOL que o comando da PM do Rio decorre de "acerto com deputado estadual e o crime organizado". Em entrevista ao jornal O Globo, publicada nesta quarta-feira (1), o ministro declarou que as autoridades federais têm evidências de que a PM do Rio colabora com o crime organizado e que é preciso investigar "toda uma linha de comando". No entanto, ele disse que não poderia apontar os indivíduos envolvidos porque isso é responsabilidade da Corregedoria da corporação.
Quem acompanha a dinâmica do crime no Rio sabe que violência e corrupção policial são irmãs gêmeas. Há mais de 20 anos, o então chefe de Polícia do Rio, delegado Helio Luz, fez um alerta à corrupção na Polícia Civil semelhante ao disparado pelo ministro. Eu entrevistei Helio algumas vezes. Na última conversa, em 2012, o delegado explicou:
— No Rio, nos anos 90, a Roubos rouba, a Furtos furta e a Homicídios mata. A situação continua assim.
Em outro trecho da conversa, o delegado falou sobre os sequestros naquele Estado:
— Em 1994, havia 140 pessoas sequestradas no Rio. O problema era muito sério. Os empresários, na época, queriam sair do Rio. Eles faziam seguro com empresas americanas para ter segurança na cidade. Foi um período de caos. Acabou o sequestro no Rio. Por que acabou? Porque a polícia antissequestro parou de sequestrar.
As declarações de Jardim assustam, mas não surpreendem.
Mãe, enfim, pode sepultar a filha
O calvário de uma mãe para sepultar a filha esteve entre os assuntos de segurança mais lidos em GaúchaZH nesta quarta-feira (1º). Cinco dias após receber a confirmação de que o corpo encontrado carbonizado em Gravataí era de sua filha, Márcia da Cruz Ferreira vivia o sofrimento e a angústia de não conseguir velar o corpo de Thiellen da Cruz Fernandes, 19 anos. A jovem havia desaparecido em Canoas no dia 5 de outubro, quando usou um aplicativo de transporte para ir até a casa de uma amiga. Conforme contou a repórter Cris Lopes, o martírio da dona de casa de 37 anos começou na sexta-feira passada (27), às 17h, quando encerrava o expediente do Departamento Médico Legal (DML) de Porto Alegre. Lá, Márcia foi orientada a retornar na segunda-feira (30) para que sua filha fosse liberada. Na segunda, ao entrar em contato com o DML, via telefone, ela foi informada que o perito que fez a necropsia de Thiellen só trabalha às sextas-feiras, sendo recomendado que ela retornasse somente na sexta-feira seguinte, 3 de novembro.
Surpreende a falta de empatia de funcionários públicos. Perder um filho é terrível porque, como se sabe, é completa inversão da ordem natural das coisas. Imagine perder um rebento e sequer conseguir enterrá-lo. Como ninguém foi capaz de perceber a dor desta mãe?
A informação causou indignação na família, que decidiu protestar contra a decisão na frente do DML da Capital. Nesta quarta, o DML anunciou que liberaria o corpo.