Após declarar ao site UOL, na terça-feira (31), que o comando da Polícia Militar (PM) do Rio de Janeiro decorre de "acerto com deputado estadual e o crime organizado", o ministro da Justiça, Torquato Jardim, reforçou a afirmação e desafiou as autoridades cariocas a provarem que ele está errado.
Em entrevista ao jornal O Globo publicada nesta quarta-feira(1º), ele declarou que as autoridades federais têm evidências de que a PM do Rio colabora com o crime organizado e que é preciso investigar "toda uma linha de comando". No entanto, ele disse que não poderia apontar os indivíduos envolvidos porque isso é responsabilidade da Corregedoria da corporação.
— Havia uma operação (feita junto com as forças federais) planejada num morro, sabia-se que todo sábado de manhã uma das figuras mais perigosas do Rio jogava bola com a gangue dele ali naquele momento. A turma chegou escondida, secreta, silenciosa. O sujeito naquele dia não foi jogar bola onde joga bola todo sábado. Para mim, é muito curioso que o Roberto Sá (secretário de Segurança) não tenha encontrado entre os oficias da ativa um comandante-geral da PM. E foi buscar o coronel Dias que já estava aposentado. Então são essas circunstâncias todas que causam essa dúvida — disse Jardim.
Ele declarou que Ministério da Justiça, Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Ministério da Defesa, Polícia Federal (PF), Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e Gabinete de Segurança Institucional da Presidência investigam a votação para deputados em zonas controladas pelo tráfico. Perguntado se o bom resultado nas urnas coloca os parlamentares sob suspeita, ele disse que "é isso que está sendo investigado: por que há predominância de certos candidatos vinculados a quais instituições nas zonas de perigo".
O ministro da Justiça defendeu que não é possível que "R$ 10 milhões por semana na Rocinha com gato de energia elétrica, TV a cabo, controle da distribuição de gás e o narcotráfico" passem despercebidos pela Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) que monitora a área.
Ele também questionou a explicação dada pelas autoridades cariocas sobre a morte do coronel Luiz Gustavo Lima Teixeira, 48 anos, comandante do 3º Batalhão da PM. Seu carro foi alvejado por tiros – conforme a polícia, ele foi vítima de um arrastão.
— Disseram que ele estava fardado, num carro descaracterizado. Ou seja, um veículo de operação secreta ou informal. Se fosse um assalto eventual de arrastão, haveria tanto tiro de calibre pesado? Se vai assaltar um carro para tirar a carteira de um motorista, você não usa tanto chumbo, tanta munição — disse Jardim.
Questionado sobre o motivo de a Secretaria de Segurança do Rio insistir na tese de arrastão, o ministro da Justiça persistiu no questionamento e afirmou que "essa é a interrogação que se tem que fazer ao governo do Rio. Quem faz arrastão é o meliante pequeno, não é o pesadão que vem armado. Aí vai atacar um carro do sujeito fardado?".