Pela primeira vez em cinco anos, os números de homicídios de Porto Alegre estão na descendente. É o que demonstram os indicadores criminais divulgados na manhã desta quarta-feira (1º), pela Secretaria da Segurança Pública (SSP), considerando os registros até setembro desde ano. Foram 446 homicídios na Capital nos primeiros nove meses do ano, 14,3% a menos do que os 521 do mesmo período do ano passado.
Mesmo que Porto Alegre responda por quase um quarto dos homicídios do Estado, no RS, o índice segue em alta. E a explicação pode estar justamente no entorno de Porto Alegre. A Região Metropolitana seguiu um fluxo inverso. Nos primeiros nove meses de 2017, há alta de 21,7% nas mortes entre os nove municípios com mais de 100 mil habitantes da região. Foram 626 homicídios nestes locais.
Houve uma inversão no gráfico das mortes da Região Metropolitana, já que, no mesmo período de 2016, os nove municípios — que concentram mais de 1,8 milhão de habitantes — registravam menos homicídios do que a Capital, onde vivem 1,4 milhão de pessoas. Para as autoridades, o fenômeno pode ser explicado pela migração dos confrontos violentos entre facções criminosas, que se tornaram rotina em Porto Alegre no ano passado.
— A constatação é de que os grupos criminosos passaram a ocupar os territórios fora de Porto Alegre a partir do momento em que o combate aos homicídios se tornou mais efetivo na Capital. Nossa meta é intensificar as investigações, especialmente em Gravataí, Alvorada e Viamão, onde verificamos essa realidade das facções — diz o chefe de Polícia Civil, delegado Emerson Wendt.
Em Viamão, houve redução de 6,3% nos homicídios nos primeiros nove meses do ano em relação ao mesmo período do ano passado, mas Gravataí, com alta de 48%, e Alvorada, de 21,9%, demonstram a explosão desse tipo de crime.
Segundo o chefe da Polícia Civil, delegado Emerson Wendt, a maior parte do novo efetivo, que será formado no começo de dezembro, será destinada à Região Metropolitana.
Desafio é replicar estratégia
Para o subcomandante da Brigada Militar, coronel Mario Ikeda, o grande desafio para os próximos meses está em conseguir repetir na região o que se conseguiu em Porto Alegre.
—Todo o nosso planejamento é conseguir levar a Operação Avante de forma mais efetiva para os municípios da Região Metropolitana. E isso já aconteceu, em parte, nos últimos três meses, com a formação dos mil novos soldados. A maior parte deles foi direcionada para estes batalhões. No começo do ano, mais 400 serão formados. É inegável que o aumento do policiamento nas ruas travou os homicídios em Porto Alegre — avalia o oficial.
A redução dos homicídios na Capital, que até setembro chegou ao dobro da meta percentual de queda estabelecida no começo do ano, com o lançamento do Plano Nacional de Segurança, começou a ser percebida após o primeiro trimestre do ano. De acordo com o diretor do Departamento de Homicídios de Porto Alegre, delegado Paulo Grillo, a queda foi resultado direto de duas ações: o reforço no policiamento ostensivo em Porto Alegre — primeiro com a transferência de PMs do Interior, em conjunto com a Força Nacional, e depois com o direcionamento dos concursados — e a Operação Pulso Firme — com a transferência de lideranças de facções criminosas para penitenciárias federais.
— Tivemos 95 homicídios em janeiro, foi um recorde histórico. Aquilo acendeu o alerta vermelho em todos, e aí foi preciso uma estratégia elaborada entre os setores de inteligência da segurança. E deu certo — afirma Grillo.
Ao menos temporariamente, o conhecimento acumulado pelo departamento especializado de Porto Alegre foi levado a Gravataí. Há pouco mais de uma semana, uma equipe com seis investigadores atua como reforço na Delegacia de Homicídios do município que vive uma guerra aberta entre facções rivais.