CORREÇÃO: das 21h39min do dia 31/10 até as 9h14min do dia 1º/111, este site informou equivocadamente o sobrenome Gomes no lugar de Ferreira ao tratar da mãe de Thiellen da Cruz Fernandes. O texto foi corrigido.
Quatro dias após receber a confirmação de que o corpo encontrado carbonizado em Gravataí era de sua filha, Márcia da Cruz Ferreira vive o sofrimento e a angústia de não conseguir velar o corpo. Thiellen da Cruz Fernandes tinha 19 anos e havia desaparecido em Canoas no dia 5 de outubro, quando usou um aplicativo de transporte para ir até a casa de uma amiga, onde faria currículos.
O calvário da dona de casa de 37 anos começou na sexta-feira passada (27) às 17h, próximo ao fim do horário de atendimento do Departamento Médico Legal (DML) de Porto Alegre. Ali, Márcia foi orientada a retornar na segunda-feira (30) para que sua filha fosse liberada.
Ao entrar em contato via telefone com o DML na segunda, foi informada que o perito que fez a necropsia de Thiellen só trabalha às sextas-feiras, sendo recomendado dessa forma que ela retornasse somente na sexta-feira seguinte, 3 de novembro, data na qual o corpo seria liberado. A informação causou indignação na família, que decidiu protestar contra a decisão na frente do DML da Capital.
— Isso é um descaso com a minha dor — desabafou a mãe.
Durante o protesto, que reuniu familiares da vítima, Márcia foi orientada na secretaria do DML a procurar a Defensoria Pública, pois só com decisão judicial liberaria o corpo da filha. Em meio à manifestação, mais indignação: uma funcionária teria aparecido, fornecendo duas informações diferentes.
— Primeiro ela chegou dizendo para eu retornar às 8h de terça (31), mas depois que saiu e reapareceu dizendo que o perito que fez o exame na minha filha estava de férias. Isso é um absurdo — indignou-se a dona de casa.
A família prosseguiu o protesto, com a intenção de interromper o trânsito na Avenida Ipiranga para chamar a atenção das autoridades, na esperança de velar a jovem, mãe de um menino de um ano e quatro meses. Ainda enquanto pedia ajuda na movimentada via da Capital, Márcia precisou ser amparada por familiares, pois sentiu-se mal.
Conforme o defensor público Jonas Farenzena, o exame de DNA não pôde concluir que o cadáver era da jovem, mas que era de uma das filhas da dona de casa.
— Quando o corpo fica muito carbonizado, perde as características do DNA da pessoa, ficando difícil uma conclusão. Assim, a mãe e os demais filhos vivos devem comparecer na Defensoria para os procedimentos burocráticos — explica.
O diretor do DML de Porto Alegre Luciano Haas informou que no caso de reconhecimento do cadáver via exame de DNA, como a situação de Thiellen, são necessários alguns procedimentos antes da liberação do corpo à família.
— As pessoas precisam pegar uma declaração, que pode ser adquirida na Secretaria do DML, depois ir até a Defensoria ou procurar um advogado de sua confiança e solicitar uma decisão judicial, na qual o juiz determinará que o corpo é da pessoa a quem o familiar procura — esclarece.
Diretor admite demora
Sobre as informações desencontradas dos funcionários e o caso do perito que está em férias, o diretor do DML da Capital, Luciano Haas, afirmou que quando o corpo precisa ser liberado, mesmo havendo servidor em férias ou em licença, o perito legista é chamado para assinar a declaração de óbito ou o alvará.
— Esse caso está se arrastando demais. Se precisar e o perito não puder vir até aqui, eu mesmo faço um novo atestado de óbito para liberar à família — garante.
Conforme a decisão do juiz de plantão Felipe Keunecke de Oliveira, por tratar-se de morte violenta, é necessária que a necropsia do corpo integre a investigação criminal. Dessa forma, o titular da Delegacia de Homicídios e Proteção a Pessoa (DHPP) de Gravataí, Felipe Borba, deve se manifestar para que, assim, o juiz da vara de registros públicos, Antônio Carlos Antunes do Nascimento e Silva, se pronuncie.
Borba informou que já respondeu ao pedido do juiz afirmando que de parte da Polícia Civil não há impeditivos para a liberação do corpo.
"Ela estava deprimida"
A mãe de Thiellen define a jovem como uma pessoa que fazia amizades facilmente e não gostava de preocupar a família.
— Notei que ela estava deprimida nos últimos dois meses, mas não dizia a motivação, pois não queria que me preocupasse. Ela era de amizades fáceis — recorda a mãe.
A dona de casa, que está hospedada em um cômodo de uma amiga em Canoas, mudou completamente sua rotina após a morte da primogênita. Ela, o padrasto e os dois filhos menores saíram de Cidreira, onde viviam, e talvez nem retornem mais ao Litoral.
— Hoje estava conversando com meu marido, que talvez a gente fique por aqui para ajudar a cuidar do nosso neto. Apoiamos o marido de nossa filha e ele apoia a gente — disse Márcia.
Para ela, a ficha vai demorar a cair, pois é muita burocracia em meio ao sentimento de perda.
— Para mim é algo ainda muito estranho. Parece que não está acontecendo com a gente. É como se ela em breve fosse entrar, falar conosco e nós seguiríamos a vida. É até difícil falar — completou
Até a publicação desta notícia, o corpo de Thiellen da Cruz Fernandes ainda não havia sido liberado.