O Rio Grande do Sul é o terceiro Estado com maior número de roubos de veículos. Em 2016, ladrões levaram 17.629 carros de vítimas. O levantamento do 11º Anuário Brasileiro de Segurança Pública aponta que apenas Rio de Janeiro e São Paulo estão à frente na estatística. Porto Alegre também figura como a terceira capital com mais registros desse tipo. Em comparação com 2015, tanto Estado como Capital tiveram queda no número de casos, mas mantiveram as mesmas posições no ranking.
Em 2016, o RS registrou média de 48 assaltos desse tipo por dia. Ou seja, a cada 30 minutos um morador do Estado teve o carro levado em assalto. O índice não considera o número de furtos de veículos, no qual não há emprego de ameaça ou violência. Se somados, furtos e roubos chegam a 37.185 casos (foram 19.556 furtos). Foram, neste caso, 101 veículos levados por dia ou um a cada 14 minutos.
Somente em Porto Alegre, aconteceram 52% dos roubos de veículos registrados em 2016 (9.253 casos). Conforme o delegado Adriano Nonnenmacher, da Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), desde fevereiro do ano passado, a Polícia Civil faz operações para prender e desarticular quadrilhas que roubam veículos na Capital.
Outra ação é força-tarefa da Secretaria da Segurança Pública para combater os ferros velhos clandestinos. Em 2016, conforme Nonnenmacher, foram 203 prisões relacionadas aos roubos de veículos, em cinco operações. Desde o início das ações, foram 370 presos ligados a roubos de veículos.
— Temos uma frota de quase 850 mil veículos, fora os que entram de outras cidades. Há uma queda. Tem de reduzir mais. Temos um trabalho constante de investigações. O combate ao roubo de veículo não tem como parar nunca. Nunca vamos estar numa zona de conforto — afirma o delegado.
Segundo o delegado Sander Cajal, diretor do Deic, a média atual de roubos de veículos na Capital é de no máximo 18 casos por dia. Em setembro, a média ficou em 17 por dia. Em 2015, segundo o anuário, eram 30 casos levados por dia em Porto Alegre.
— Claro que ainda é alto. Mas é um motivo de comemoração. Algo que tem nos feito ver que o combate está dando certo. Se alguém me perguntar o índice que queremos chegar eu vou dizer zero, mas eu sei que é impossível. A gente quer baixar cada vez mais dentro do que se pode fazer nessas possibilidades.
Para Christiane Russomano Freire, doutora em Ciências Criminais, o índice de roubos de veículos no Rio Grande do Sul está associado ao crescimento da criminalidade como um todo e ao poder das facções.
— Essas questões não estão dissociadas. O aumento do furto e roubos, o poder das das facções e as disputas entre elas. O roubo de automóvel ou mesmo de cargas e o tráfico são dimensões complementares de uma criminalidade que infelizmente cresce no Estado nos últimos quatro anos — explica.
Diferentes perfis de assaltantes
Segundo o delegado Nonnenmacher, o perfil dos ladrões de veículos não se limita mais ao de criminosos que roubam para desmanche ou para enviar para outro Estado.
— Antigamente esse era o perfil clássico. Hoje temos quatro ou cinco perfis. Muitos indivíduos jovens chegam a roubar para andar duas ou três quadras, depois abandonam o carro.
Outra utilização frequente dos carros roubados é como meio de transporte para cometer outros crimes, como assaltos a pedestres.
— O crime não anda a pé. O veículo roubado é só um meio para perpetrar outros crimes — diz o delegado.
Os veículos roubados também são destinados à clonagem ou mesmo envio para fora do país. Conforme o delegado, a polícia tem identificado casos de roubos nos quais carros de luxo são enviados para o Paraguai e até mesmo trocados por cargas de cigarros contrabandeadas.
O envolvimento das facções
Para Christiane, o modelo de aprisionamento adotado, com cadeias superlotadas, fortalece o domínio de facções, que acabam sendo responsáveis por comandar diversos crimes, mesmo de dentro dos presídios.
— Com certeza, o número de roubos expressa o crescimento da criminalidade, mas é só uma das dimensões. O que mais nos preocupa é o absurdo aumento de homicídios, de crimes violentos. Isso inegavelmente está ligado à perda do controle para as organizações criminosas. Esse tipo de aprisionamento que mantemos só alimenta essas organizações. A gente não tem visto uma política pública de segurança que faça frente ao aumento da criminalidade — analisa.
Receptação é motor da criminalidade
O subcomandante-geral da Brigada Militar, o coronel Mário Ikeda, atribui o índice de roubos principalmente ao mercado da receptação. Para o oficial, o combate a esse tipo de crime é essencial na repressão dos roubos. Segundo o oficial são realizadas ações diárias, como barreiras e abordagens principalmente nas áreas de maior incidência de roubos de veículos. A BM também participa das ações de fiscalização e fechamento dos desmanches.
— O roubo acontece porque tem um mercado que acaba absorvendo. Com a fiscalização e lei dos desmanches, em Porto Alegre foram fechados muitos locais onde havia a comercialização irregular, a venda de peças. Mas existe um mercado de venda de carros a um preço abaixo do valor de mercado. E lamentavelmente temos pessoas que compram esse tipo de veículo.
Para o diretor do Deic, delegado Sander Cajal, a receptação para o desmanche ou clonagem de veículos é o que alimenta a maior parte dos roubos.
— O índice maior de roubos é vinculado a alguém que vai receptar.
Para o delegado, ações como a Operação Jogo Limpo, na qual estão sendo fiscalizados os centros de desmanche de veículos (CDVs) credenciados — realizada em parceria com a Corregedoria do Departamento Nacional de Trânsito (Detran) — foram importantes na redução dos índices. Desde o início deste ano, em quatro CDVs foram encontradas irregularidades e três pessoas foram presas em Porto Alegre, Gravataí e Erechim.