Por falta de vagas, 75 presos esperam para ingressar no sistema prisional amontoados na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) de Canoas, na Região Metropolitana, nesta quarta-feira (4).
Como a capacidade das quatro celas está esgotada, 59 destes detentos foram alojados no pátio da delegacia, onde dormem, tomam banho e se alimentam.
As necessidades fisiológicas são feitas em um banheiro químico acomodado sob um telhado de meia-água, até então útil apenas para não deixar as viaturas ao relento. É debaixo desta proteção que o grupo fica a maior parte do tempo.
— Somos tratados que nem cachorro — desabafa um detento.
Para o banho, improvisaram um chuveiro com garrafas pet. Cobertores levados pelas famílias fazem as vezes de colchões. Os mantimentos que chegam pelas visitas são armazenados em sacolas e caixas de plástico deixadas no chão, próximas ao banheiro.
Por volta das 13h, um dos detentos alojados no pátio passou mal e precisou ser socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Naquele momento, oito policiais e quatro viaturas deixavam de fazer o policiamento ostensivo para custodiar os presos.
No domingo, o temporal que castigou o Rio Grande do Sul obrigou os agentes a montarem um acampamento com lonas para impedir que os presos ficassem encharcados. Conforme a Polícia Civil, dois deles estão na delegacia desde 16 de agosto. Outros 12 aguardam por vagas há pelo menos um mês.
— Há 20 vagas na DPPA de Canoas, onde os presos deveriam ficar por no máximo 24 horas. Mais do que isso é algo completamente ilegal — comenta o diretor do Departamento de Polícia Metropolitana, Fábio Motta Lopes.
O delegado alerta que os policiais civis, devido à tensão do ambiente, estão permanentemente estressados.
— Estão todos adoecendo. Ninguém quer ficar nos plantões e isso dificulta o nosso trabalho. O pior é que não há o que a gente possa fazer. Não temos o poder de soltar. Quem pode fazer isso são os juízes. Também não temos para onde levar os presos, pois não tem vaga nas cadeias — explica.
Há, na Região Metropolitana, 178 detentos em delegacias aguardando vagas no sistema prisional. Onze estão na Capital, 75 em Canoas, nove em Alvorada, 31 em Gravataí, 12 em Viamão, 20 em Novo Hamburgo e 20 em São Leopoldo.
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) disse que a prioridade é remover os presos que estão em Canoas.
Em nota, afirmou que o governo do Estado tem redobrado os esforços na geração de vagas prisionais. "Serão investidos, em curto e médio prazo, cerca de R$ 50 milhões na construção de novas unidades. Duas galerias da Penitenciária de Canoas 2 já estão em operação. A ação disponibilizou 288 novas vagas, de um total de 2.400 ainda a serem ocupadas. A utilização plena dos módulos ocorrerá na medida em que o governo formar os 720 novos agentes penitenciários aprovados no concurso realizado neste ano e a Prefeitura Municipal de Canoas executar as obras de arruamento do complexo".
Entre outras medidas, citou a construção da nova Cadeia Pública, com 400 vagas a ser erguida por meio da permuta do imóvel da Federação para o Desenvolvimento de Recursos Humanos (FDRH) com o Grupo Zaffari. O governo estadual espera assinar a ordem de serviço dentro de 60 dias, com prazo de execução de 180 dias.