O Departamento de Homicídios de Porto Alegre não define um prazo para encerrar o inquérito que apura as mortes de dois homens em um suposto confronto com dois policiais militares do 11º Batalhão de Polícia Militar (BPM) em agosto deste ano, no bairro Navegantes, na zona norte da Capital. De acordo com a delegada Roberta Bertoldo, que apura o crime pela 2ª Delegacia de Homicídios (DHPP), os resultados das perícias feitas nos corpos de Juliano Andrade Ferreira e Cristiano Severo Lima, ambos de 40 anos, além dos dados coletados nos carros dos policiais e das vítimas, serão fundamentais para a conclusão do caso.
— Restam também algumas pessoas a serem ouvidas para podermos esclarecer as circunstâncias do crime. É muito remota a possibilidade de que tenha havido uma tentativa de assalto, com reação, como descreveram os dois policiais militares no dia do fato, mas ainda precisamos descobrir as motivações e a forma como tudo aconteceu — afirma a delegada.
No final da última semana, o inquérito policial militar (IPM), que é uma investigação paralela à apuração pela Polícia Civil, e comandada pelo batalhão onde os dois PMs servem, concluiu que se trata de um homicídio, mesmo ainda sem os laudos periciais. Os dois foram indiciados e o caso foi entregue ao Tribunal de Justiça Militar (TJM). O comandante do 11º BPM, major Douglas da Rosa, não revelou a motivação dos indiciamentos.
— Os dados colhidos pelo IPM serão bastante importantes e considerados na nossa investigação, mas ainda há pontos a serem esclarecidos antes de algum indiciamento — entende Roberta Bertoldo.
Entre os dados colhidos pela investigação estão as imagens de uma câmera de monitoramento próxima das esquinas entre as avenidas Farrapos e Sertório, onde aconteceu o crime. Segundo a delegada, a qualidade do vídeo é bastante ruim, mas é possível perceber que é o Corolla blindado, usado pelos PMs, que se aproxima do Golf onde estavam os dois homens, e os aborda.
— Essa situação não é compatível com uma tentativa de assalto — aponta a responsável pela investigação.
Cena do crime alterada
A polícia não divulgará, por enquanto, as imagens, segundo a delegada, para não prejudicar as investigações. De acordo com Roberta Bertoldo, boa parte da apuração do caso ficou prejudicada pela alteração do local do crime. Os dois homens baleados foram socorridos imediatamente, sem que a Polícia Civil tivesse sido comunicada. Desta forma, não foi solicitado o exame residuográfico que poderia ter apontado se a dupla atirou contra os policiais.
Uma pistola e uma arma de brinquedo, além das armas dos dois PMs, foram entregues à polícia.
— Essas armas foram apresentadas, mas não temos nem como precisar se estavam realmente com os dois homens, e se foram usadas. A cena do crime foi toda alterada. Foi permitido por colegas que os dois policiais militares interagissem no local que deveria ser preservado até a chegada da autoridade policial, com o acionamento dos peritos — critica a delegada.
Roberta adianta que o inquérito também poderá indiciar envolvidos na alteração do local do crime.