Não havia tumulto ou acúmulo de ocorrências a serem registradas no Palácio da Polícia, onde fica a 2ª Delegacia de Pronto-Atendimento de Porto Alegre — a principal da cidade — no começo da tarde desta segunda-feira (9), o primeiro dia de paralisação dos agentes da Polícia Civil, em virtude do atraso no pagamento integral dos salários pelo governo estadual. O único caso em atendimento naquele momento era a prisão feita pela Brigada Militar de um homem flagrado após furtar uma loja no centro da Capital. Mesmo não sendo considerado um crime grave, o flagrante seria lavrado pelo delegado plantonista.
A estimativa do sindicato da categoria é de que apenas 30% do efetivo das Delegacias de Polícia do Estado atendem à população desde as primeiras horas do dia. A orientação, segundo o presidente do Ugeirm/Sindicato, Isaac Ortiz, é de que apenas crimes graves, como homicídio e latrocínio, Lei Maria da Penha e casos envolvendo crianças e idosos sejam atendidos.
— Casos de roubos, ou que envolvam violência, é claro que serão atendidos. Nossa intenção não é prejudicar a população. Nosso efetivo segue nas delegacias para acolher o cidadão e expor a ele a situação precária em que estamos trabalhando — diz o sindicalista.
No Palácio da Polícia, cartazes foram colados nas paredes da rua informando sobre a greve. Em princípio, a paralisação será até o pagamento integral dos salários, previsto para o dia 17 deste mês.
Quem não tem um crime grave a ser registrado é orientado pelos agentes a buscar o atendimento da Delegacia Online, site no qual 29 tipos de ocorrências podem ser registradas, como, por exemplo, furto qualificado, abigeato, roubo a pedestre, ameaça, desaparecimento de pessoas, violação de domicílio, entre outros. O diretor Regional Metropolitana, delegado Fábio Lopes, diz que o funcionamento das delegacias está sendo monitorado e que, até agora, não houve nenhuma reclamação sobre casos graves que deixaram de ser atendidos.
— Acredito que, já prevendo a paralisação, muitas pessoas estão buscando direto o atendimento online — ressalta Lopes.
Durante a manhã, muitas pessoas procuraram o Palácio da Polícia para a emissão da Certidão de Antecedentes Policiais e não conseguiram o documento. Essa certidão também pode ser obtida pela internet.
Mesmo que os delegados não tenham aderido à greve, o setor mais afetado pelo movimento deve ser o serviço cartorial, de investigação e planejamento de operações policiais.
— Nosso pessoal continua trabalhando normalmente nos atendimentos a locais de homicídios e no registro de crimes de trânsito. É claro que alguma ação de cumprimento de mandado de prisão ou busca, importante para esclarecer crimes, não está sendo feito — explica o diretor do Departamento de Homicídios de Porto Alegre, delegado Paulo Grillo.
Mesma situação é relatada pelo diretor do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), delegado Rodrigo Bozzetto.
De acordo com Isaac Ortiz, nenhuma ação de médio a grande porte da instituição ocorreu desde o início do mês no Estado. Entre as críticas da categoria, e que levaram à greve, não está somente a questão salarial. O acúmulo de presos em delegacias afeta diretamente o serviço na Região Metropolitana.
O Departamento de Polícia Metropolitana (DPM) diz que, somente em delegacias, há cerca de 180 presos à espera de vagas em presídios.