Criado em 2011, o levantamento oferece dados exclusivos sobre homicídios e latrocínios em todos os bairros de Porto Alegre. Os dados são coletados e abastecidos na ferramenta (reprodução ao lado) a partir do momento em que as ocorrências são registradas. O mapa, portanto, é, independente das estatísticas oficiais da Secretaria da Segurança.
O estudo é o único disponível que permite identificar os crimes por ano, faixa etária, sexo e bairro.
— Estamos em uma época em que muita coisa se discute, mas muito pouco disso é baseado em dados, em informações concretas. Sem informação, não há democracia plena. A divulgação de dados é fundamental para fomentar soluções e discussões. A transparência é requisito básico para a democracia, que precisa ser feita com a "radicalização" das informações, cada vez menos exclusivas ao poder público, por exemplo — avalia o economista Ely José Mattos, especialista na divulgação e análise de dados públicos.
Segundo ele, um levantamento como o Raio X da Violência tem muito mais valor para o futuro do que para o presente.
— É uma provocação à busca de soluções — diz.
O também economista Daniel Cerqueira lidera uma pesquisa sobre os "crimes ocultos", com homicídios não contabilizados pelos órgãos de segurança pública no Brasil. No Rio de Janeiro, após a divulgação desses dados, o então secretário da Segurança Pública local, José Mariano Beltrame, firmou convênio com a Saúde para aprimorar a contagem de homicídios de lá.
No RS, os dados divulgados pela SSP limitam-se ao número geral dos homicídios por municípios. Desde 2011, o trabalho inédito diferencia-se por mostrar os homicídios pelo número de vítimas. O Estado só começou a incluir este dado em suas divulgações — e não apenas os homicídios por números de ocorrências — a partir do final do ano passado. Ainda assim, sob a forma de um asterisco abaixo dos índices oficiais.
Em São Paulo, por exemplo, após diversos trabalhos universitários sobre a realidade dos homicídios, os dados passaram a ser divulgados, há 15 anos, com todos esses detalhes.
— A divulgação de estatísticas criminais, com o máximo de detalhes e transparência possível, é fundamental para planejar ações de segurança pública sem o risco de cair em soluções mágicas que não são eficazes — diz o sociólogo Túlio Kahn.
Delegacias especializadas ampliaram índices de resolução de homicídios
O monitoramento independente de mortes teve impacto junto às autoridades. Diante do crescimento dos homicídios, no começo de 2013 foi criado o Departamento de Homicídios de Porto Alegre, com seis delegacias especializadas em lugar das duas que até então encarregavam-se da apuração destes crimes na Capital. De acordo com a Polícia Civil, o índice de resolução de homicídios em Porto Alegre teria saltado de 10% para mais de 60%.
A importância do levantamento também é observada como instrumento para a análise e projeção de cenários sobre a violência. No começo de 2015, o levantamento serviu de base para a divulgação dos homicídios da Região Metropolitana, pela ONG mexicana Segurança, Justiça e Paz. O índice, com dados dos crimes de 2014, colocou pela primeira vez a região entre as 50 mais violentas do mundo.
Como funciona
- O Raio X apresenta os nomes, datas, bairros e ruas em que acontecem assassinatos em Porto Alegre.
- Os dados são separados ainda pelo ano, tipo de crime (homicídio e latrocínio), as idades e o sexo das vítimas.
- A ferramenta permite que o leitor cruze qualquer um desses itens apresentados no mapa. (Exemplo: homicídios em 2011, no bairro Rubem Berta, com vítimas entre 18 e 24 anos, do sexo masculino)