A decisão das mulheres dos policiais militares do Espírito Santo de se manter na porta dos quartéis, impedindo o retorno da tropa às ruas, descumprindo o acordo feito com o governo do Espírito Santo, trouxe grande preocupação ao Palácio do Planalto.
A expectativa era de que neste sábado, quando os quatro ministros desembarcassem em Vitória para se reunir com o governo local, o quadro já fosse de início de volta à normalidade.
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A manutenção do motim acendeu uma luz amarela porque ficou a certeza de que o problema se prolongará por mais tempo, ampliando a preocupação com a contaminação disso para outros Estados. No Rio de Janeiro já existe uma parte do efetivo parado. As PMs do Pará, da Paraíba e do Rio Grande do Norte também ameaçam greve.
Os representantes do governo federal foram ao Espírito Santo para garantir apoio do Planalto ao Estado no que for preciso, inclusive com aumento de tropa.
Embora toda a condução do processo seja do governo do Espírito Santo, a ideia é que as negociações sejam mantidas para que se consiga a volta total ao trabalho. A decisão de endurecimento legal com os grevistas, com enquadramento deles como amotinados, é considerada fundamental e tem o apoio do Planalto.
Esse enquadramento é considerado importante porque dá um sinal para os demais Estados de que o mesmo poderá acontecer em sua região se estas greves pipocarem. Mesmo o governo federal não podendo interferir diretamente, houve críticas internas no Planalto à postura do governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), que ante a primeira ameaça dos PMs, ofereceu um reajuste de 10% dos salários para eles – apesar do Estado estar em crise profunda que não lhe permite pagar sequer os salários em dia.
No caso do Espírito Santo, a avaliação de um dos interlocutores do presidente Michel Temer é de que a posição das mulheres acabou desmoralizando as lideranças das associações dos PMs, que haviam feito o acordo com o governo do Estado, que acabou não cumprido. Com isso, o que se tem, agora, é "um movimento anárquico, sem lideranças identificáveis, o que dificulta a negociação do governo do Estado".
Mas, com a presença das Forças Armadas nas ruas, a cidade, aos poucos, começa a viver uma certa normalidade, embora ainda haja muitos problemas com os transportes.
No Rio de Janeiro, as informações repassadas ao Planalto são de que "a situação é tensa, mas está sob controle". O entendimento é de que o comando da PMRJ está atuando bem e, até agora, não há pedido para emprego dos militares das Forças Armadas no Estado para ajudar a polícia local. O Exército, no entanto, já realizou um planejamento e está pronto para ser empregado, de imediato, se for solicitado.
No Rio, há quartéis sem funcionar mas a maioria tem o seu pessoal nas ruas. No entanto, há preocupação de que a adesão possa aumentar. O governo sabe também que o endurecimento com enquadramento em motim do pessoal do ES, com possível decretação de prisão e até pagamento de multas, pode levar a dois distintos caminhos: a intimidação da categoria, que recuaria no avanço da greve não só lá, mas em outros Estados, ou a criação de um sentimento de união e reforço à greve.
Uma das grandes preocupações com o Rio de Janeiro, por exemplo, é com a percepção de que uma paralisação de policiais levaria a cidade ao caos e a repercussão internacional disso. O temor considera a proximidade do Carnaval, que é a maior festa do país com turistas do mundo inteiro e poderia ser afetada caso a paralisação se amplie e se prolongue. Isso poderia trazer grande prejuízo, também, à imagem do país e do presidente Michel Temer.
Embarcaram para o Espírito Santo para dar apoio ao governo do Estado, por determinação do presidente Temer, os ministros da Defesa, Raul Jungmann, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Sérgio Etchegoyen, da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy, e o interino da Justiça, José Levi Mello do Amaral Júnior.
*Estadão Conteúdo