Sidnei Epelman (*)
O Brasil desempenha um papel significativo na pesquisa clínica e no crescimento das startups de saúde. Vários fatores contribuem para isso, incluindo uma população diversificada, profissionais de saúde qualificados e uma infraestrutura de pesquisa em constante desenvolvimento.
A pesquisa clínica é fundamental na descoberta de novos conhecimentos e avanços científicos. Por meio dos estudos clínicos, é possível entender melhor as doenças, os fatores de risco e as maneiras de prevenção. Essas descobertas podem levar a novas abordagens e estratégias de tratamento, contribuindo para a inovação no campo da saúde.
E o nosso país é muito atraente e propício para a pesquisa clínica devido ao elevado índice de heterogeneidade – quando falamos dos diferentes perfis da população. As variações de clima, cultura e socioeconômicas também são características que resultam em indivíduos com diferentes perfis. Hoje, o Brasil está na 20ª posição em pesquisa clínica mundial, com potencial para alcançar a 10ª colocação e ainda com capacidade para atrair investimentos de até R$ 5 bilhões, beneficiando milhares de pacientes e profissionais da área.
O Brasil também tem visto um crescimento significativo no ecossistema empreendedor, com um alto número de startups de saúde surgindo para abordar desafios específicos no setor. E essas startups de saúde estão utilizando tecnologias como inteligência artificial, telemedicina, wearables (dispositivo tecnológico usado como um acessório) e análise de dados para oferecer soluções inovadoras para diagnóstico, tratamento e gestão de saúde.
O aumento do acesso à tecnologia e a crescente conectividade digital têm impulsionado o desenvolvimento de soluções de saúde inovadoras. Como oncologista pediátrico, acredito que por meio da pesquisa clínica e do uso da tecnologia os pacientes podem ter acesso a tratamentos de alta complexidade.
Meu objetivo é promover o conhecimento a respeito da pesquisa e encurtar a jornada dos voluntários para encontrar estudos disponíveis para suas doenças. E o melhor de tudo, sem custo envolvido. Esse é um dos motivos pelo qual fundei a Motsa, uma plataforma digital de estudos clínicos que visa apoiar pacientes, médicos e familiares. Ao promover informações e acesso a novas tecnologias por meio da pesquisa clínica e inovação digital, nós damos chance à vida, aos tratamentos e cuidados com a saúde, independentemente da origem étnica, socioeconômica ou geográfica.
Projeto de lei cria regras
A pesquisa clínica também pode promover a equidade, na medida em que educa e conscientiza os pacientes sobre a importância da participação em estudos clínicos. Quando as pessoas compreendem os benefícios da pesquisa clínica e têm acesso a informações adequadas, eles podem tomar decisões respaldadas em informações confiáveis sobre seu tratamento e participação em ensaios clínicos. Investir em ações que valorizem o desenvolvimento de parcerias que fomentem o trabalho das pesquisas clínicas no Brasil é um caminho promissor – e ainda com bastante potencial de ser explorado –, que pode resultar no desenvolvimento de mais terapias para os pacientes que sofrem de doenças potencialmente graves, como o câncer.
Recentemente, pudemos celebrar uma conquista, com a aprovação pela Câmara dos Deputados de um projeto de lei que cria regras para a pesquisa clínica com seres humanos e o controle das boas práticas clínicas por meio de comitês de ética em pesquisa (CEPs). Com a aprovação final deste projeto de lei, as pesquisas deverão atender a exigências éticas e científicas, como embasamento em relação risco-benefício favorável ao participante; respeito a seus direitos, à sua segurança e bem-estar; respeito a sua privacidade e ao sigilo de sua identidade etc.
Com isso, as pesquisas ganharão celeridade, o país atrairá mais investimentos e poderá gerar mais empregos, e a população se beneficiará com acesso mais rápido a novos tratamentos para diversas doenças como câncer, Alzheimer e Parkinson.
(*) Médico oncologista e CEO da Motsa HealthTech