Camile Cesa Stumpf (*) e Carlos Henrique Menke (**)
A expectativa de vida aumentou nas últimas décadas, mudando a perspectiva de cuidados e levando as mulheres de 50 a 60 anos a buscarem uma juventude que, por vezes, vai contra a fisiologia normal do ser humano.
Nesse contexto, vemos a busca incessante por tratamentos dermatológicos, terapias antienvelhecimento, cirurgias plásticas e reposições hormonais milagrosas.
Mas o que é natural dessa faixa etária?
Coincidentemente a essa fase, temos o climatério, que representa a fase entre o final da vida reprodutiva e a senilidade, período que vai entre 40-65 anos, aproximadamente. É caracterizado, no início, pela diminuição da produção de estrogênio até a falência dos ovários como fonte de estrogênio e progesterona. A menopausa é um marco do climatério ( última menstruação).
E o que isso representa ou o que muda na vida da mulher nesse período?
Inicialmente, as menstruações começam a ficar irregulares, podemos ter pausas de três a seis meses entre cada menstruação. Mulheres começam a apresentar um cansaço maior nas suas atividades diárias, ondas de calor, mais irritabilidade, insônia, menos libido, dor nas relações sexuais por secura vaginal e mamas mais pendulares pela perda do tecido mamário e substituição por gordura.
Como lidar com todas essas transformações quando temos uma ideia cada vez mais presente de jovialidade eterna?
1) A terapia de reposição hormonal pode aliviar sintomas físicos, psíquicos e relacionados aos órgãos genitais. Porém, ela pode ter contraindicações e deve ser recomendada expressamente por um médico.
2) Praticar atividade física, de preferência diariamente, mesmo que leve. Isso ajuda a fortalecer os músculos e a prevenir doenças, pois a massa óssea diminui nessa fase. A reposição de cálcio e vitamina D podem auxiliar, mas cuidado com a autoingestão. A recomendação para o uso é dever do médico.
3) Manter uma alimentação e também uma dieta saudável. O mais recomendado é intervalos menores entre as refeições, podendo trazer benefícios tanto para aliviar sintomas físicos quanto psíquicos.
4) Manter-se sempre hidratada, ou seja, pelo menos dois litros de água diariamente é uma recomendação essencial.
5) Os fogachos, ou as conhecidas ondas de calor, que podem ser sentidas por 75% das mulheres, podem se tornar mais toleráveis com o uso de roupas leves e mantendo-se em ambientes bem ventilados. A reposição de estrogênio é um tratamento comprovadamente eficaz. A pacientes que não podem fazer uso, temos tratamentos alternativos que auxiliam nesses sintomas.
6) Evitar o consumo exagerado de álcool e não fumar.
7) A diminuição da libido ou do apetite sexual é multifatorial nessa fase. É importante avaliar como está o seu relacionamento conjugal, sua autoimagem, auto estima e atentar para os sintomas naturais da idade e tratá-los (como secura vaginal, alterações de micção, falta de estrogênio). E o mais importante: se reinventar, buscar o autoconhecimento, aumentar estímulos como erotização (literatura, filmes etc).
8) Yoga, meditação e hábitos de leitura ao dormir auxiliam na insônia.
9) Por fim, é importante manter suas consultas com o ginecologista. Nessa fase, há o aumento na incidência de diversas neoplasias (câncer), então é fundamental atentar-se à prevenção.
Cuidado com tratamentos milagrosos!
Não existe mágica ou um tratamento inovador que nenhum outro médico descobriu ainda. Existe, sim, uma fase de transformação fisiológica da mulher e mudanças de estilo de vida ou reposição medicamentosa que podem ajudar. Nesse período, mais do que nunca, a paciente precisa "ser paciente".
Cuidado com a venda de tratamentos inovadores com hormônios "bioidênticos". O termo bioidêntico tem sido usado indevidamente como algo novo, ou algo mais natural. Na verdade, os hormônios produzidos pela indústria há anos são bioidênticos, são seguros e sofrem um rigoroso controle de qualidade. Assim também ocorre com a "modulação hormonal", que não tem respaldo científico, ético e legal.
(*) Mastologista do Hospital Moinhos de Vento, mestre e doutora em Ginecologia pela UFRGS
(**) Professor de Ginecologia da UFRGS e ex-presidente da Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina
Parceria com a Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina
Este artigo faz parte da parceria firmada entre ZH e a Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina (ASRM). A estreia foi em março, com a reportagem “Câncer: do diagnóstico ao tratamento”. Em abril, publicamos artigo sobre depressão e bipolaridade. Uma vez por mês, até dezembro, o caderno vai publicar conteúdos produzidos (ou feitos em colaboração) por médicos integrantes da entidade, que completou 30 anos em 2020 e atualmente conta com cerca de 90 membros e é presidida pelo otorrinolaringologista Luiz Lavinsky. De diversas especialidades — oncologia, psiquiatria, oftalmologia, endocrinologia etc —, esses profissionais fazem parte do Programa Novos Talentos da ASRM, que tem coordenação de Rogério Sarmento Leite e no qual são acompanhados por um tutor com larga experiência na área.