Daniel de Freitas Gomes Soares (*) e Cláudio Telöken (**)
Muitos homens sofrem, de forma corriqueira, de dificuldades sexuais. Porém, menos de 25% deles conseguem vencer o constrangimento e chegar a uma consulta médica.
Os demais enfrentam longos períodos de insegurança, que resultam em afastamento de suas parceiras, ansiedade, depressão e solidão. Muitos recorrem a tratamentos por conta própria, adquiridos das mais diversas fontes e utilizados sem qualquer orientação médica.
A disfunção sexual que mais acomete os homens é a disfunção erétil, ou simplesmente impotência, que é a incapacidade de se obter, ou de se sustentar, uma rigidez peniana suficiente para o sexo. Várias são as razões para que essa condição apareça, e elas são mais frequentes do que se pensa.
As causas
A satisfação sexual está intimamente relacionada à saúde física e ao estilo de vida. Em indivíduos com menos de 40 anos, a disfunção erétil está mais comumente associada a questões psicológicas, como ansiedade, depressão, ou puramente estresse. Em pacientes mais velhos, problemas médicos como diabetes, hipertensão, doenças vasculares e alterações hormonais costumam estar presentes. Tabagismo, obesidade, sedentarismo, privação de sono… O que se observa na maioria dos casos é uma enorme variedade de fatores contribuindo, simultaneamente, para um desempenho sexual desfavorável. Oito entre os 12 medicamentos mais prescritos no mundo listam disfunção erétil como efeito colateral em suas bulas.
Sinal de alerta
Diversos estudos já demonstraram que a disfunção erétil pode antecipar, como um primeiro sinal de alarme, a ocorrência de eventos cardiovasculares, como infarto, AVC e morte súbita, em alguns anos. Então a consulta médica motivada por queixas sexuais é uma grande oportunidade para se avaliar a saúde geral. Simplesmente prescrever remédio nessa ocasião é um desserviço ao paciente.
A questão conjugal
Uma vida sexual problemática pode ser, ainda, indício de uma vida conjugal problemática. Não se pode esperar que relacionamentos conflituosos, por exemplo, contrastem com grandes performances sexuais. As dificuldades de convivência fazem parte do amplo espectro de fatores modificáveis que contribuem para a instalação e persistência das disfunções sexuais e que devem, como os demais, ser tratados.
Tratamento
O tratamento sofreu uma revolução com os medicamentos orais, eficazes especialmente quando parte de um tratamento amplo e individualizado. Interromper o cigarro, controlar o colesterol, perder peso e praticar atividade física melhoram significativamente a ereção.
Contudo, muitos pacientes necessitam de tratamentos mais invasivos, como injeções e implantes de próteses, cujas indicações devem ser discutidas com o urologista à luz de seus históricos de saúde, suas expectativas de resultado e os riscos envolvidos. Psicoterapia é, também, uma ferramenta fundamental, tanto no controle da ansiedade que cerca o mau desempenho, quanto na abordagem dos problemas de relacionamento e de autoestima. Todos os homens com disfunções sexuais merecem ser plenamente investigados e tratados. Para tanto, precisam ser francos a respeito de suas dificuldades, nem que seja entre as quatro paredes de um consultório médico. Falar sobre o assunto traz naturalidade e, mais do que isso, acolhimento. Nenhuma doença, muito menos a idade, deve ser justificativa para que um homem, ou um casal, abra mão da sua vida sexual.
(*) Urologista dos Hospitais Moinhos de Vento e Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre
(**) Professor de Urologia da Universidade Federal Ciências Saúde de Porto Alegre (UFCSPA)
Parceria com a Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina
Este artigo faz parte da parceria firmada entre ZH e a Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina (ASRM). A estreia foi em março, com a reportagem “Câncer: do diagnóstico ao tratamento”. Em abril, publicamos artigo sobre depressão e bipolaridade. Uma vez por mês, até dezembro, o caderno vai publicar conteúdos produzidos (ou feitos em colaboração) por médicos integrantes da entidade, que completou 30 anos em 2020 e atualmente conta com cerca de 90 membros e é presidida pelo otorrinolaringologista Luiz Lavinsky. De diversas especialidades — oncologia, psiquiatria, oftalmologia, endocrinologia etc —, esses profissionais fazem parte do Programa Novos Talentos da ASRM, que tem coordenação de Rogério Sarmento Leite e no qual são acompanhados por um tutor com larga experiência na área.