A segunda quinta-feira do mês de março é o dia mais importante do ano para a nefrologia — especialidade médica dedicada ao sistema urinário, especialmente aos rins.
A data foi escolhida pela Sociedade Internacional de Nefrologia (ISN) para ser o Dia Mundial do Rim, evento que busca chamar a atenção para as doenças deste aparelho, responsável por filtrar e eliminar impurezas e toxinas do nosso organismo. Outra iniciativa da efeméride é educar e conscientizar tanto a população quanto a comunidade médica sobre o tema, como salienta o médico Osvaldo Merege Vieira Neto, presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia:
— É uma data em que a gente consegue expor o assunto para a população, conscientizar, falar como se faz a prevenção, mostrar que as pessoas podem ter uma doença e nem saber. A gente também consegue fazer a educação médica, com profissionais de outras especialidades, para orientá-los como agir para evitar a doença renal.
Os rins
Os rins são órgãos que ficam localizados abaixo das costelas e acima do umbigo, na parte posterior do corpo, um do lado direito e o outro do lado esquerdo. Eles têm um formato semelhante a um grão de feijão, medindo entre 10cm e 13cm e pesando entre 120g e 180g. Na maioria dos casos, o órgão do lado direito é ligeiramente menor que o do lado esquerdo.
Funções
Exercem funções vitais para o funcionamento do organismo, sendo a mais conhecida a sua atuação como uma espécie de filtro, que captura uma série de impurezas que circulam no sangue, eliminando-as por meio da urina. Por minuto, passa pelos rins cerca de 1,2 litro de sangue, o que representa praticamente 25% de todo o sangue do corpo.
Os rins também são responsáveis pela produção ativa de vitamina D e pela manutenção do equilíbrio químico do corpo, fazendo um balanço entre água, sais minerais e outras substâncias, atividades que têm impacto direto na saúde dos ossos. Além disso, ele produz dois hormônios: a eritropoetina, que atua na maturação dos glóbulos vermelhos e da medula óssea, e a renina, substância que atua no controle da pressão arterial.
Vilões
Na maioria dos casos, os quadros renais tendem a ser silenciosos, manifestando sintomas clínicos apenas em estágios mais avançados, mas isso não significa que não possam ser descobertos precocemente. Os principais vilões da saúde renal são duas enfermidades muito comuns no Brasil: a hipertensão arterial e a diabetes, sendo a maioria das complicações nos rins consequência dessas doenças crônicas.
Conforme o Ministério da Saúde, estima-se que 850 milhões de pessoas no mundo tenham alguma doença renal, sendo 2,4 milhões vítimas fatais deste quadro. No Brasil, o número de pacientes seria 10 milhões.
— A grande maioria dos casos é consequência de diabetes e hipertensão. Existem outras doenças, até que não são evitáveis. Crianças podem ter malformação congênita, adulto pode ter doenças autoimunes, mas são bem menos comuns. O grosso dos casos está nesses dois grupos, que é o mais fácil de evitar — afirma o nefrologista Vieira Neto.
O cálculo renal
Conhecido como pedra nos rins, o cálculo renal surge a partir do acúmulo de cálcio, amônia, magnésio, vitaminas, proteínas, minerais, oxalatos, cistina ou ácido úrico no rim, na bexiga ou nos ureteres — canais que ligam os dois órgãos. O problema pode ocorrer de forma isolada ou em grande número, apresentando-se em tamanhos que variam de 1 mm (equivalente a um grão de areia) até vários centímetros. A ocorrência de cálculos renais também é chamada de litíase ou urolitíase.
Prevenção
Como as doenças renais são, em sua grande maioria, consequência da hipertensão arterial e da diabetes, a prevenção passa por evitar esses quadros crônicos. Ou seja, a manutenção de um estilo de vida saudável, com alimentação balanceada e prática regular de atividade física, além de evitar o consumo exagerado de bebidas alcoólicas e o tabagismo, são os primeiros passos para prevenir não só a saúde dos rins, como muitas outras doenças.
Já que os quadros renais não costumam apresentar sintomas, o método mais eficiente para monitorar a atividade renal é por meio de exames, em especial dois: o que mede a creatinina no sangue, substância que deveria ser filtrada pelo órgão e, quando se apresenta em índices incomuns, pode ser um sinal de insuficiência renal, e o exame sumário de urina, que pode indicar perda de proteína ou de sangue por meio da excreção, levantando suspeita para uma lesão ou disfunção.
Conforme Vieira Neto, esses exames têm um preço acessível, mesmo em laboratórios privados, e devem ser feitos periodicamente. Além disso, é preciso controlar a pressão arterial e a glicemia no sangue.
Tratamento e sintomas
Embora pouco comum, pode haver presença de sintomas, sendo um dos mais comuns o inchaço pelo corpo. Também pode haver alteração na urina com cor diferente ou a presença de sangue, dor na região lombar e aumento da pressão arterial, que pode apresentar seus próprios sintomas.
O tratamento passa principalmente pelo controle da doença que originou o problema renal, seja ela qual for. Conseguindo fazer o controle da hipertensão ou da diabetes, o quadro renal deixa de progredir e o órgão pode manter seu funcionamento de forma adequada, já que consegue exercer a sua função mesmo com a capacidade reduzida.
— Nosso rim tem uma grande capacidade de reserva. Então, você tem que acabar com ele quase inteiro. A gente indica a diálise para um paciente quando a capacidade de filtração do rim está menos do que 10% do normal. Nos casos de diabetes, com menos de 15%. A indicação de transplante é a mesma. O transplante é realizado quando o rim já não funciona mais, sendo a grande maioria dos pacientes já em programa de diálise — explica o especialista. — Quanto ao rim único: se a pessoa tiver um rim único e funcionando bem, não vai ter limitação nenhuma. Ele compensa o outro, sem problemas, desde que esse rim seja saudável. Tanto que a pessoa que doa o rim fica com um só e tem vida normal.
Ação na Capital
Em Porto Alegre, os hospitais Divina Providência e Independência promovem uma ação educativa nesta quinta-feira (10) em parceria com o Instituto de Doenças Renais (IDR). Será distribuído material com informações sobre os rins, que conta com um questionário sobre risco de doença renal crônica, que também estará disponível no site do IDR.
O diretor do IDR e médico nefrologista do corpo clínico do Hospital Divina Providência, Fernando Thomé, detalha os objetivos da ação:
—Há uma grande necessidade de educar a população, porque, apesar da doença renal atingir cerca de 10% da população, a maioria das pessoas não tem ideia do que é a doença renal crônica e como ela pode ser evitada e tratada — justifica.
Fontes: Osvaldo Merege Vieira Neto, médico nefrologista, presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia, Sociedade Brasileira de Nefrologia e Ministério da Saúde
Produção: Állisson Santiago