Para a doceira Florinda Oliveira da Silva, 81 anos, o inverno começa sempre com antecedência. Em maio, ela já sente os sintomas da estação vindoura: dificuldade para respirar, tosse e secreção nasal. Por conta de um enfisema pulmonar detectado há duas décadas, toma pelo menos três remédios de uso contínuo. Fumante há 70 anos, Florinda diz que no inverno os sintomas se agravam. Por isso, nesta época evita sair nas primeiras horas da manhã ou depois das 17h, para driblar as temperaturas mais baixas.
— Dói o peito, a garganta, tem tosse que mal consigo respirar, de asfixiar mesmo. Aí, nem durmo direito à noite. Fico na base do remédio, de antibiótico — conta a moradora de Porto Alegre.
Quem tem doenças respiratórias crônicas costuma sentir a piora dos sintomas no inverno e rapidamente aponta o culpado: o frio. Mas ele não é o único vilão. O chefe do serviço de Pneumologia da Santa Casa e presidente da Sociedade Gaúcha de Pneumologia, Adalberto Rubin, explica que as temperaturas baixas e a umidade prejudicam o sistema respiratório. O problema está principalmente no choque térmico, quando a pessoa sai do banho quente e tem contato com o ar frio, por exemplo.
— A mudança brusca de temperatura faz com que os sistemas de defesa das vias respiratórias fiquem comprometidos. É muito ruim, porque o organismo não tem condições de se adaptar, ele não está preparado, e fica muito mais fácil para adquirir uma infecção respiratória, um quadro gripal ou de pneumonia bacteriana — diz o pneumologista Paulo José Zirmermann Teixeira, professor da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).
Para piorar o cenário, no inverno as pessoas ficam mais em ambientes fechados. Como o tempo está mais frio e úmido, forma-se um prato cheio para os vírus, germes e bactérias se proliferarem. Essa combinação agrave doenças como asma, bronquite e enfisema, além de aumentar crises respiratórias e casos de gripe, pneumonia e sinusite.
Para prevenir, valem aquelas dicas tradicionais das mães, que mandam se agasalhar e cobrir principalmente as extremidades, como pés, mãos e cabeça. O corpo, para não perder tanto calor, diminui a circulação nessas áreas – é por onde o frio aporta no organismo. Entra na lista de orientações não sair com o cabelo molhado e, sempre que possível, abrir janelas para arejar os ambientes. Crianças e idosos, por terem sistema imunológico mais frágil, exigem ainda mais atenção. Esses grupos, nos dias mais frios, devem evitar sair de casa muito cedo pela manhã ou à noite.
Também é importante:
- Tomar vacina contra a gripe, principalmente se fizer parte do grupo prioritário. Não sair de casa se tiver com os sintomas da doença e evitar ter contato com pessoas gripadas. Quem tiver doenças respiratórias crônicas deve fazer tratamentos preventivos indicados pelo médico.
- Sempre estar bem agasalhado e não sair com o cabelo molhado. Proteger principalmente as extremidades, com luvas, gorros e meias quentes. Isso evita doenças respiratórias e a sensação de desconforto.
- Sempre que possível, arejar os ambientes para evitar proliferação de germes, vírus e bactérias. Como em todas as épocas do ano, também é fundamental manter sono em dia e alimentação equilibrada para estar com o organismo forte para combater o frio.
- Cuidado com as mudanças bruscas de temperatura. Evite sair de ambientes quentes para frios sem uma adaptação gradativa.
Fontes: médicos pneumologistas Adalberto Rubin e Paulo José Zirmermann Teixeira