Médico fisiologista, professor por mais de duas décadas, palestrante e consultor em DHO (Desenvolvimento Humano e Organizacional), Eugenio Mussak não aparenta os 70 anos que tem – e faz questão que a plateia diga isso. Foi contando histórias e dividindo experiências da vida que o curitibano cativou os participantes do Health Experience, na manhã do dia 26 de março, quando abordou o tema “A saúde das pessoas no futuro”. O evento, promovido pelo Hospital Moinhos de Vento em parceria com o Bradesco Saúde/Mediservice, trouxe a Porto Alegre uma discussão sobre a importância da qualidade de vida no ambiente de trabalho. Em sua apresentação, com cerca de uma hora de duração, Mussak falou sobre a saúde empresarial versus saúde dos colaboradores, tipos de medicina e como podemos nos aproximar mais do extremo da saúde, afastando-nos, assim, da doença. Também distribuiu dicas simples de como reduzir o estresse:
— Tire férias!
Quais são os tipos de medicina de que o senhor fala?
Há três tipos. A curativa é aquela que ocorre quando eu procuro o médico quando estou doente. A preventiva é a mais eficiente e barata. Um dos maiores símbolos da preventiva é a vacina. Dessas duas medicinas, uma age antes e a outra, depois, mas ambas são semelhantes no foco: miram a doença. O tempo é diferente, mas o foco é o mesmo. Há o terceiro tipo, que é a medicina da saúde, que não mira doença, mas a saúde. A faculdade de Medicina trabalha com a doença e não com a saúde. Nós não sabemos o que fazer com um paciente que não tem nada. O paciente quer que o médico ache algo. O médico liga com um resultado e comemora que está tudo bem. Ele diz que você não tem doença, mas você diz que não tem saúde. A grande discussão é o que fazer para estar mais próximo do extremo de saúde.
Por que esquecemos da medicina da saúde?
Porque requer investimento de tempo, de determinação, de trabalho. Para ser promovida, ela depende da pessoa, mas, quando o tema é esse, as pessoas costumam delegar a responsabilidade para outros. E os médicos, curiosamente, não parecem que fazem muito esse esforço. Médico, no meu ponto de vista, além de ter o poder de curar, tem o poder de ensinar. Vejo médico também como um educador, mas por causa da velocidade, do número de pacientes que tem que ser atendidos por hora, ele acaba deixando de lado essa função, que seria de promotor da medicina da saúde.
O senhor fala sobre perigo emocional. O que é?
A gente costuma procurar o médico para resolver problemas emocionais quando eles se tornaram físicos, porque o físico padece em função do emocional, ou o contrário, o físico vai bem e graças a um emocional equilibrado. Quando me referi ao estresse derivado do perigo emocional, está relacionado com a expectativa. Todo mundo tem uma expectativa a nosso respeito e nós sempre achamos que não a estamos atendendo, seja do cliente, do chefe, da mulher, do marido, do pai, do filho. Os indivíduos têm expectativa, é normal que assim seja, mas carregamos conosco a sensação de que não estamos a atendendo e isso nos afeta emocionalmente.
Como o perigo emocional se manifesta nas empresas?
No mundo corporativo, isso é muito forte porque esses ambientes vivem em função de resultados. Aí, quando o grupo de trabalho entrega o resultado excepcional, atinge metas para o ano seguinte, a primeira coisa que o presidente diz é: “Vocês são maravilhosos, atingiram tudo, mas para o próximo ano eu quero mais”. Parece que há uma insaciedade, uma insatisfação com a expectativa. Não acho que isso esteja errado, na medida que promove a evolução: sinto que esperam mais de mim, eu procuro me aprimorar. A contrapartida é que nós aumentamos a chance de nos estressarmos.
Como podemos reduzir o estresse?
Uma maneira de ver isso é que o estresse e todos os seus correlatos, ansiedade, angústia, são construídos dentro de uma equação, de um gráfico, que coloca duas variáveis: a dificuldade e a capacidade. O estresse não deriva do tamanho da dificuldade que você está enfrentando, mas, sim, da desproporção entre o tamanho da dificuldade e o tamanho da capacidade. Para diminuir o estresse, pode-se fazer duas coisas: ou se diminui a dificuldade da coisa ou se pode aumentar a capacidade para encontrar solução. Uma forma de reduzir o estresse dentro da empresa é capacitando, fazendo as pessoas perceberem que elas podem ser melhores e nós (empresa) darmos condições para que elas sejam melhores. Então, a educação é uma forma de diminuir o estresse, pois ele aumenta a capacidade.
O senhor diz que a melhor forma de reduzir o estresse é tirando férias. Há outro jeito?
Além de férias, tem a questão da gestão do tempo. Um grande fator de estresse é o trânsito. Mas o que se percebeu é que não nos estressamos porque ele está ruim, mas porque estamos atrasados. Então, posso me organizar melhor e sair antes. Organização de vida ajuda com que a gente diminua o estresse. Acontece que nos estressamos por estarmos em perigo emocional. Não tem como lutar contra o estresse, apenas geri-lo. E para isso só tem um jeito: tire férias. Mas o que é tirar férias? Não é ficar um mês em Itacaré, que em uma semana você vai estar louco. É tirar um tempo para fazer o que se gosta. Dá para tirar férias todos os dias, uma hora por dia, dedicando-se ao que se gosta.
Como é essa história de tirar “uma hora de férias por dia”? Como colocar isso em prática nesse mundo extremamente conectado?
É a gestão dos aparelhos. Entrei aqui e desliguei o celular porque sabia que ele tocaria ou que mandariam mensagens e eu ia querer ver.
Então, a dica é desligar o celular?
Sim, é desligar o celular!