Enquanto, para alguns, trata-se de um período de recolhimento, para outros o Carnaval é sinônimo de festa. Quem já está contando os dias para a algazarra da próxima semana precisa, também, estar atento: curtir descuidando da própria saúde pode ter consequências ruins para o organismo.
Pode parecer repetitivo, mas, para garantir que a folia seja nota 10, nunca é demais lembrar da importância do uso do preservativo nas relações sexuais, da hidratação com muita água durante o período e dos perigos do excesso de álcool que costuma acompanhar a festa. Fora isso, a grande sacada é se divertir à vontade e recarregar as energias para o restante do ano.
A seguir, reunimos informações preciosas para quem quer aproveitar a folia sem deixar de lado a saúde
Hidrate-se
A combinação de sol, calor e gasto de energia requer atenção. Ao suar, nosso corpo perde eletrólitos (sódio e potássio), portanto, é fundamental hidratar o organismo sob pena de apresentar sintomas como cefaleia, sonolência e prostração.
— Quando as pessoas pulam Carnaval, as perdas de líquido são reais — diz Leonardo Fernandez, chefe do Serviço de Emergência da Santa Casa de Porto Alegre.
Para reidratar, nada melhor – e mais acessível – do que água. A recomendação é ingerir 35 mililitros para cada quilo de peso – uma pessoa de 60 quilos, por exemplo, deve beber 2,1 litros de água por dia. Outra escolha certeira é a água de coco, que hidrata e ainda repõe os eletrólitos. Não entram nesse cálculo águas aromatizadas, com gás, chás e chimarrão.
— Dependendo da composição da erva, o líquido vai ser mais diurético — aponta Juliana Gonçalves, nutricionista e doutora em Ciências da Saúde.
Maneire no álcool
Primeiro, vem a desinibição, a euforia e o prazer. Depois, há uma depressão do sistema nervoso central, que causa apatia e sonolência. De forma simplista, é assim que o álcool funciona no organismo. Fora isso, ele ainda acelera a perda de água pelo corpo, como explica Fernandez:
— Quase tudo o que tomamos precisa ser eliminado. E o álcool inibe o hormônio antidiurético, fazendo com que a gente urine mais.
A indicação é beber com calma: nunca de estômago vazio, com a quantidade controlada e intercalando a bebida alcoólica com água.
E se extrapolar? Dor de cabeça, náuseas, vômitos e dores no corpo indicam que você passou do limite. Nesse caso, Juliana sugere bebidas naturais que aliviam os sintomas.
— Chá de gengibre é ótimo para acalmar o estômago. Quem tolera amargor, pode beber de alcachofra.
Comer banana, que contém vitamina B6, ajuda a controlar as náuseas. Tomar suco verde, com couve e limão, pode acelerar o processo de desintoxicação do fígado. Por outro lado, café ou bebidas à base de cola prejudicam esse processo. Bebidas à base de açaí e chá verde são opções naturais para ajudar a garantir um gás extra. Os energéticos industrializados devem ser evitados, apontam os especialistas.
— Eles têm muita cafeína concentrada: variam de 50 miligramas a 500 miligramas — comenta a nutricionista, acrescentado que ainda contêm açúcar e outros ingredientes prejudiciais.
— Em termos de comparação, uma xícara de café tem entre 75 miligramas e 150 miligramas — diz a nutricionista.
Misturar bebidas alcoólicas com energético é ainda pior. Trata-se de uma cilada, como define Leonardo Fernandez:
— Essas misturas podem fazer a pressão subir, dar taquicardia e expor a pessoa a arritmias. Não é uma boa combinação.
Prato cheio. E nutritivo
Nada de feijoada antes de pular Carnaval! Mas também não saia de barriga vazia. O ideal são alimentos leves e nutritivos. Juliana indica um prato com 50% de vegetais crus e cozidos, que são ricos em vitaminas e minerais, 25% de carboidratos complexos, como arroz a massa integral, e outros 25% de proteínas vegetais, como feijão e grão de bico, e carnes brancas, como peixe e frango.
Durante a folia, dá para consumir barrinhas de cereal ou bolachinhas de boa qualidade, ou seja, que sem conservantes e nem açúcar. Frutas fáceis de carregar, como maçã, também são indicadas. E lembre-se: o ideal é comer a cada três horas.
Quem optar por se alimentar na rua deve fugir dos lanches gordurosos, como xis e cachorro-quente.
— Fique atento à higiene do local onde se vai comer, para evitar intoxicações — destaca a nutricionista.
Roupas leves e sapatos confortáveis
Roupas de fibras naturais são duplamente indicadas para quem planeja entrar na folia. Em primeiro lugar, facilitam a troca de calor, portanto, reduzem a perda hídrica. Segundo: são mais confortáveis para quem for correr atrás do trio elétrico. Nos pés, não esqueça de usar calçados cômodos. Fuja de saltos, sapatos novos (que ainda não foram submetidos a testes como o uso prolongado) ou com tiras.
— Se puder ser com meia, melhor — sugere a dermatologista Alessandra Romiti, coordenadora do Departamento de Cosmiatria da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).
Em caso de bolhas, a indicação é fazer um curativo, protegendo o machucado, e optar por um calçado que não provoque mais atrito na área.
Filtro solar sempre
Sempre é bom usar filtro solar. Ele deve ter, no mínimo, fator 30 de proteção, destaca Alessandra. Como sua duração é limitada, a médica recomenda as versões para a prática de esportes, que resistem melhor ao suor. Embalagens pequenas, que cabem na bolsa, também são uma solução para que se possa reaplicá-lo.
— Os filtros com base (cor) também são excelentes, pois aumentam a proteção — recomenda.
Colorir e dar brilho ao corpo, aliás, são clássicos do Carnaval. Mas é preciso ficar atento para o tipo de produto usado: sempre use tintas para a pele e evite glitter perto dos olhos.
— Às vezes, as pessoas usam tinta para tecido, madeira ou outros fins, e isso pode dar alergia. Tem de comprar produtos específicos, testados na pele.
No fim da festa, é fundamental retirar as pinturas. Prefira os demaquilantes oleosos ou mesmo água micelar.
Preserve-se
Com a aproximação do Carnaval crescem as campanhas para uso de preservativos nas relações sexuais. Para a médica da família do Hospital Conceição Manoela Coelho Alves, isso acontece por que uma parcela dos foliões fica mais suscetível a comportamentos de risco, resultado da combinação de álcool e drogas.
Ela alerta para os números alarmantes que essas condutas produzem: por dia, 1 milhão de pessoas adquirem infecções sexualmente transmissíveis no mundo. Isso significa que algo como 700 indivíduos são infectados por minuto.
— Feridas nos genitais, corrimentos, ardência para urinar ou na relação podem ser indícios de doenças. Contudo, a maioria delas são assintomáticas, ou seja, podemos ficar doentes e nem saber, o que torna fundamental o uso dos preservativos. Tanto o masculino quanto o feminino devem ser utilizados em todas as relações: vaginais, orais ou anais — reforça a médica, que também é professora da Unisinos.
Os postos de saúde públicos distribuem gratuitamente os dois tipos de preservativos (alguns, no entanto, não têm disponibilidade do feminino) e lubrificante à base de água.
As infecções mais expressivas são as hepatites B e C, sífilis e HIV – todas preveníveis, com testagem e tratamento oferecidos pela rede pública de saúde. Fora esses problemas, o uso de preservativo também protege contra gravidez indesejada.
Descanse
Tudo bem que aproveitar três ou quatro dias de festa não vá trazer grandes prejuízos. Contudo, Fernandez orienta que sejam respeitadas, pelo menos, de seis a oito horas de sono por dia.
— Mas isso preferencialmente à noite, que é quando ocorrem algumas secreções hormonais importantes — diz o médico da Santa Casa.