Arranje uma fita métrica, passe-a ao redor da cintura e meça a circunferência do abdômen. Se o resultado for superior a 102 centímetros (para homens) ou 88 centímetros (para mulheres), você tem um problema. Está com excesso de gordura visceral. Precisa mudar de vida.
Não sabe o que é a gordura visceral? Bem, ela é a gordura do mal.
Há dois tipos de tecidos adiposos no organismo. O mais conhecido deles forma a chamada gordura subcutânea, aquela massa mole mais superficial, que qualquer um sente e vê logo abaixo da pele, seja nas coxas, nos braços, no bumbum, no pescoço, no tórax ou mesmo na barriga.
Do lado de lá da parede abdominal, porém, nas nossas entranhas, há um outro tipo de gordura, formada por células diferentes e mais ativas. Ela se localiza entre os órgãos, envolve-os, está dentro deles. Essa é a chamada gordura visceral ou central.
Acabamos de dizer que essa é a gordura do mal, mas não é necessariamente assim. Em níveis adequados, pode até trazer benefícios à saúde. Sabe-se hoje que ela é uma espécie de grande órgão endócrino, responsável por produzir proteínas e hormônios que colaboram para regular o organismo. Ela está envolvida, por exemplo, no controle do apetite. Também libera uma substância conhecida como adiponectina, que pode diminuir o risco de diabetes e de alguns tipos de câncer.
– Antigamente, a gente achava que o tecido gorduroso só servia para isolamento térmico, para manter a temperatura do corpo, ou, então, ao redor dos órgãos, para proteger contra traumas. Hoje sabemos que esse é o maior tecido produtor de hormônios. Produz uma série de substâncias, principalmente no caso da gordura visceral. Algumas são benéficas, mas muitas são maléficas – observa Airton Golbert, professor de endocrinologia da Universidade Federal de Ciência da Saúde de Porto Alegre e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia.
O problema está no excesso
O que acontece é que, quando em excesso, a gordura visceral deixa de produzir substâncias protetoras. E então se converte meramente no ente do mal antes referido. É uma desgraceira: eleva o colesterol ruim, infla os triglicerídeos e aumenta o risco cardiovascular, com maiores chances de que ocorra um infarto ou um derrame. Também interfere na resistência à insulina, podendo levar ao desenvolvimento de diabetes tipo 2. Há estudos que associam o excesso de gordura visceral ao surgimento de alguns tipos de câncer.
– Sempre chamamos a atenção para o fato de que essa é a pior gordura que existe. Há aqueles gordinhos de toda a vida, em que geralmente a gordura é mais bem distribuída, e têm menos problemas cardiovasculares, porque não têm tanta gordura abdominal. Mas quando é aquela chamada barriga de tomar chope, a gente orienta: “Tem de perder essa barriga”. Porque essa é a gordura nociva, a que faz mal. É a gordura visceral – diz Golbert.
Por isso, quando o teste da fita métrica denuncia a existência exagerada desse tecido adiposo, a recomendação é procurar um médico. Ele possivelmente pedirá exames de sangue, para avaliar como andam a glicose, os triglicerídeos e o colesterol, e fará aquelas duas recomendações que todo mundo sabe que já devia estar seguindo há muito tempo: comer direito e fazer exercício físico. No caso da atividade física, não existe nenhuma modalidade específica. A regra é que o exercício que queima a gordura subcutânea também queima a visceral. E só nisso é que elas são iguais.
A gordura visceral
O que é
Há dois compartimentos de gordura corporal: a gordura subcutânea, localizada logo abaixo da pele e superficialmente aos órgãos internos, e a gordura visceral, localizada no interior do abdome. As mulheres, apesar do maior percentual de gordura em relação aos homens, tendem a maior acúmulo de gordura na região subcutânea, enquanto os homens tendem a maior acúmulo de gordura visceral.
Como medir
A maneira mais simples para determinar se há ou não acúmulo de gordura visceral é através da medida da circunferência abdominal. Passe uma fita métrica ao redor da cintura, no meio do caminho entre a última costela e a extremidade superior do osso do quadril.
Os padrões
Segundo as diretrizes da International Diabetes Federation, os limites recomendados para a população são de até 94 centímetros para homens e de 80 centímetros para mulheres.
O National Cholesterol Education Program (Ncep), dos Estados Unidos, estabelece 102 centímetros para homens e 88 centímetros para mulheres.
Pessoas que ultrapassam esses valores podem ser consideradas com gordura visceral em excesso e devem procurar um médico.
Os riscos
O excesso de gordura visceral pode trazer graves consequências. Está associado a diversos problemas de saúde, como aumento do risco de diabetes tipo 2, hipertensão, doenças cardiovasculares, alterações nos níveis de triglicerídeos e colesterol, hepatite gordurosa e alguns tipos de câncer.
O que pode ser feito
Não existe tratamento específico para a redução da gordura visceral. Devem ser adotadas as mesmas medidas usadas para prevenir e controlar o excesso de peso de maneira geral: alimentação saudável, com diminuição da ingestão de calorias, e prática regular de exercícios físicos.