Quando se trata de avaliar a gordura visceral (aquela localizada no interior do abdome), o famoso índice de massa corporal (IMC) não dá respostas claras e pode até ser enganoso. Preconizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o IMC é obtido pela divisão do peso de um indivíduo pela sua altura ao quadrado. Conforme o resultado, uma tabela de fácil consulta dirá se a pessoa em questão é magra demais, é saudável, tem sobrepeso ou é obesa. Uma das limitações do método é que ele não permite diferenciação entre a gordura subcutânea e a visceral (leia mais abaixo). E isso é importante porque uma pessoa pode apresentar um IMC normal e, mesmo assim, ter uma quantidade de gordura visceral que coloque sua saúde em risco.
– Pessoas com essa condição podem ter alterações no metabolismo semelhantes as de obesos, como alterações nos níveis de triglicerídeos e colesterol HDL e maiores níveis de glicose. São os chamados magros metabolicamente doentes ou magros metabolicamente obesos – afirma o endocrinologista Tiago Schuch, presidente da regional gaúcha da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia.
O IMC não é suficiente para uma avaliação dos riscos porque a distribuição da gordura no corpo varia bastante de pessoa para pessoa. Uma das razões para isso é genética. Uma pesquisa recente identificou 49 diferentes traços genéticos associados a diferenças na distribuição. O sexo também interfere, já que a localização da gordura está relacionada à exposição a níveis diferentes de hormônios sexuais. Os homens tendem a ter mais gordura visceral, o que é uma das razões para apresentarem com maior frequência doenças cardiovasculares. Nas mulheres, a adiposidade costuma ser mais distribuída.
Uma maneira clássica de compreender o tipo de distribuição, diz Tiago Schuch, é comparar o corpo com duas das frutas mais populares:
– Existe o perfil no formato de uma maçã, com a gordura acumulada da cintura para cima, que é o perfil de quem tem excesso de gordura visceral. O outro perfil, com gordura mais em distribuição subcutânea, é a obesidade em formato de pera, do quadril para baixo, que pode inclusive ter um efeito levemente protetor para alguns tipos de doença.
A prova dos nove é a medida da circunferência abdominal, mas há alguma discussão sobre os limites adequados. O valor de 102 centímetros para homens e de 88 centímetros para mulheres, amplamente adotado, foi adotado pelo National Cholesterol Education Program (Ncep), como orientação para a população norte-americana. As diretrizes da International Diabetes Federation são mais rigorosas: estabelecem as marcas de 94 centímetros para homens e 80 centímetros para mulheres. O endocrinologista Tiago Schuch, por exemplo, usa estes valores como referência, mas observa que ambos os padrões são aceitáveis.
Medições mais precisas da quantidade de gordura visceral podem ser feitas por meio de técnicas como a bioimpedância elétrica, a densitometria, a ressonância magnética e a tomografia computadorizada de abdômen, mas esses exames não costumam ser utilizados na prática clínica.
A distribuição da gordura no corpo
Maçã
O formato de maçã, com a gordura acumulada da cintura para cima, é o perfil de quem tem excesso de gordura visceral. É, portanto, o mais perigoso.
Pera
O formato de pera, com gordura mais em distribuição subcutânea, do quadril para baixo, é menos nocivo e pode, inclusive, ter um efeito levemente protetor para alguns tipos de doença.
Lipoaspiração pode até piorar o quadro
Uma das cirurgias estéticas mais populares entre os brasileiros, a lipoaspiração pode mascarar o problema do excesso de gordura visceral. Mais do que isso, pode estar até relacionada com um aumento da gordura dentro do abdômen. Em um estudo feito pela Universidade de São Paulo (USP), mulheres que se submeteram a uma lipoaspiração podem apresentar posteriormente um incremento da gordura visceral, o que seria uma espécie de mecanismo compensatório.
A lipo consiste na sucção de tecido adiposo de diferentes partes do corpo, mas a gordura envolvida é sempre a chamada subcutânea, aquela que fica à superfície e é menos nociva. A gordura visceral, muito mais perigosa para a saúde, permanece intocada.
Isso significa que uma pessoa com peso a mais que faz a cirurgia pode ficar com a figura esbelta, alcançar um índice de massa corporal saudável e obter um resultado excelente na medição da circunferência abdominal – e mesmo assim ter dentro de si uma espécie de cavalo de Troia: uma quantidade de gordura visceral capaz de levar a problemas cardiovasculares sérios e ao diabetes.
– A lipoaspiração diminui a barriga, diminui a circunferência abdominal, mas não diminui os riscos associados à gordura visceral. Ela pode passar uma impressão falsa – alerta o médico Airton Golbert.
A gordura visceral
O que é
Há dois compartimentos de gordura corporal: a gordura subcutânea, localizada logo abaixo da pele e superficialmente aos órgãos internos, e a gordura visceral, localizada no interior do abdome. As mulheres, apesar do maior percentual de gordura em relação aos homens, tendem a maior acúmulo de gordura na região subcutânea, enquanto os homens tendem a maior acúmulo de gordura visceral.
Como medir
A maneira mais simples para determinar se há ou não acúmulo de gordura visceral é através da medida da circunferência abdominal. Passe uma fita métrica ao redor da cintura, no meio do caminho entre a última costela e a extremidade superior do osso do quadril.
Os padrões
Segundo as diretrizes da International Diabetes Federation, os limites recomendados para a população são de até 94 centímetros para homens e de 80 centímetros para mulheres.O National Cholesterol Education Program (Ncep), dos Estados Unidos, estabelece 102 centímetros para homens e 88 centímetros para mulheres.Pessoas que ultrapassam esses valores podem ser consideradas com gordura visceral em excesso e devem procurar um médico.
Os riscos
O excesso de gordura visceral pode trazer graves consequências. Está associado a diversos problemas de saúde, como aumento do risco de diabetes tipo 2, hipertensão, doenças cardiovasculares, alterações nos níveis de triglicerídeos e colesterol, hepatite gordurosa e alguns tipos de câncer.
O que pode ser feito
Não existe tratamento específico para a redução da gordura visceral. Devem ser adotadas as mesmas medidas usadas para prevenir e controlar o excesso de peso de maneira geral: alimentação saudável, com diminuição da ingestão de calorias, e prática regular de exercícios físicos.