Espirros, coceira no nariz e na garganta, coriza, manchas e descamações na pele, cólicas, vômitos, chiado no peito e tosse. Quem é alérgico conhece bem as agruras de que padece quando está em crise e tenta fazer o possível na tentativa de evitá-las. Entre as alergias mais comuns, estão as respiratórias (rinite e asma), a dermatite atópica e as alergias alimentares.
A imunologista e alergista Ana Paula Moschione Castro, membro do Departamento Científico de Alergia Alimentar da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), destaca que as alergias estão entre as doenças mais frequentes do mundo – quase todas elas de caráter crônico, ou seja, uma vez que você recebe o diagnóstico, há grande probabilidade de os sintomas o acompanharem ao longo de boa parte da vida. Existe uma predisposição genética para o desenvolvimento do problema: um pai com alergia terá quatro vezes mais chance de gerar um filho alérgico, e um casal de alérgicos eleva esse risco para sete vezes. Em relação à rinite, há estudos que mostram que a doença atinge até 40% da população. De tão comum, muitas vezes o problema é subestimado. Ana Paula explica que a rinite não é grave, mas que suas comorbidades podem ser bem mais incômodas e impactantes no dia a dia.
– Quem tem mais rinite tem mais risco de ter mais sinusite, mais otite, mais asma, mais distúrbios do sono, mais comprometimento da qualidade de vida – afirma a especialista.
A função básica do sistema imunológico é oferecer proteção contra agentes infecciosos, explica o médico Sérgio Luiz Nadvorny, especialista em alergia, imunologia clínica e otorrinolaringologia, atual presidente da seção gaúcha da Asbai. Algumas vezes, essa resposta do organismo a potenciais ameaças pode ocorrer de maneira exagerada ou inapropriada contra elementos ambientais não infecciosos, tolerados pela maior parte das pessoas, como alimentos, pólen, ácaros do pó domiciliar, mofos e insetos (picadas ou veneno). Os indivíduos que reagem de forma desproporcional produzem em demasia um determinado anticorpo, a imunoglobulina E (IgE), e essa reação de hipersensibilidade recebe o nome de alergia.
Em geral, as alergias aparecem ainda na infância. A criança que não tolera leite e clara de ovo, por exemplo, pode passar a tolerar esses alimentos a partir de certo ponto da vida. Há também alergias que aparecem apenas na fase adulta – alguém que nunca teve problemas com determinado medicamento, por exemplo, pode, em algum momento, ter reações alérgicas ao ingeri-lo.
– Há pacientes na faixa dos 20 ou 30 anos que não tinham uma rinite importante na infância. Ou tiveram, a rinite se resolveu e voltou depois. E tem paciente em quem a rinite só aparece na vida adulta. O desenvolvimento da alergia depende de fatores predisponentes, que têm a ver com a genética, e fatores ambientais – explica Nadvorny. – Vamos supor que o paciente tenha pré-disposição genética e, com 30 anos, muda-se para um apartamento úmido, onde se acumulam fungos e ácaros. Antes, ele não tinha contato com uma carga importante para causar a alergia, e agora passou a ter. Por isso, os sintomas são mais fortes agora. Outro exemplo é alguém que começa a trabalhar em um local fechado, com carpete e pouca ventilação, e antes essa pessoa não trabalhava num local assim – complementa.
Devido à imaturidade de seu sistema imunológico, crianças costumam sofrer mais com alergias. As crises são mais evidentes na infância, embora em alguns pacientes as manifestações só ocorram na idade adulta. Há manifestações que desaparecem ainda quando o paciente é pequeno, mas outras o acompanham por toda a vida.
Diagnóstico e tratamento
Para descobrir se o paciente é alérgico e de que tipo de alergia sofre, é fundamental ter uma boa conversa com o médico alergista. O profissional analisará episódios e reações que se repetem – com a recapitulação desse histórico, pode ficar evidente que a reexposição a uma causa suspeita provoca o mesmo tipo de sintoma.
– O exame clínico também é importante. No caso da pele, visualizam-se as lesões. Se o paciente está fora de crise, pode mostrar fotos de uma crise de dias ou semanas antes – orienta o presidente da Asbai-RS.
Os testes cutâneos de leitura imediata, mais conhecidos como testes alérgicos, podem ajudar a descobrir ou a tirar dúvida sobre o que está estimulando a hiper-resposta do organismo. No antebraço do paciente, o médico pinga as substâncias possivelmente causadoras da alergia (ácaros do pó domiciliar, pelos de animais, fungos, pólens etc.) e faz uma punctura (furinho). É como se fosse uma pequena provocação da alergia suspeita. Quem for de fato alérgico terá um excesso do anticorpo IgE, localizado junto aos vasos sanguíneos, às mucosas e à pele.
– Por isso, é possível realizar esse teste na pele mesmo para pesquisar uma alergia respiratória ou alimentar. Não é preciso testar uma alergia a leite, clara de ovo ou trigo no aparelho digestivo ou, no caso de rinite ou asma causada por ácaros, no aparelho respiratório. Testa-se na pele – esclarece Nadvorny.
Em geral, a reação aparece na forma de uma pápula (elevação cutânea de pequena dimensão), com hiperemia (vermelhidão) e coceira, em um intervalo de 15 a 20 minutos após o estímulo. Às vezes, é preciso testar mais de uma substância até que se descubra qual está causando a alergia.
Ana Paula Moschione Castro salienta que, antes de se estimar o tipo ou o tempo de tratamento, o primeiro foco do médico deve ser a detecção do agente causador da alergia. Em alguns casos, esse elemento é eliminável, o que dispensa medicação. Se a pessoa é alérgica a camarão, por exemplo, basta retirar totalmente o crustáceo da alimentação para evitar as reações. Quando o alérgeno é o pólen, fica mais difícil, já que é impossível eliminá-lo do meio ambiente – especialmente agora, quando estamos em pleno início da primavera. Recorre-se, então, a estratégias de controle da alergia.
– Há muitos remédios com alto grau de segurança pra controlar os sintomas – comenta a imunologista e alergista.
Outra frente de tratamento, a depender do caso, é a imunoterapia alérgeno-específica, popularmente conhecida como vacinas antialérgicas. Com doses injetáveis crescentes do elemento desencadeador da alergia, busca-se a indução de tolerância. Ou seja, com o tempo, o indivíduo passará a tolerar o contato com o que até então provocavam suas crises. O esquema das injeções começa sendo semanal, e as aplicações vão se tornando mais espaçadas. A duração do tratamento é de dois a três anos, em média. O paciente poderá passar a aguentar o contato com o causador de sua alergia, tendo crises menos frequentes e menos intensas, reduzindo a necessidade de uso de medicamentos antialérgicos.
Os principais tipos de alergia
Rinite alérgica
Trata-se da alergia mais frequente. Estima-se que possa acometer até 40% da população. Entre os gatilhos, estão ácaros, pó, pelos de animais, mofos e pólen. Causa espirros em sequência, coceira no nariz, nos olhos, nos ouvidos e no palato, coriza, obstrução nasal. Quem tem rinite está mais sujeito a episódios de sinusite, otite e asma, além do desenvolvimento de distúrbios do sono e do comprometimento da qualidade de vida.
Dermatite atópica
A crise alérgica não depende de que a pessoa se encoste em algo. Desencadeia-se pela característica da pele, mais propensa a inflamações, e em consequência disso é mais ressecada. É como se a pessoa apresentasse um defeito na barreira cutânea, que tem entre suas funções impedir que algo de fora adentre nosso corpo. Os sintomas são pele seca, coceira intensa, pequenas feridas nas dobras das pernas e dos braços.Sudorese, banhos quentes demais ou alérgenos alimentares e respiratórios tendem a piorar a dermatite atópica. A doença pode ter as primeiras manifestações ainda nos primeiros meses de vida.
Alergia a medicamentos
Pode provocar urticária e inchaço e até reações imprevisíveis, de intensa gravidade. As crises devem ser observadas com atenção. Alguém que nunca teve alergia a determinado remédio pode, aos 30 anos, por exemplo, passar a ter. Entre os remédios que mais provocam reações alérgicas estão analgésicos, antitérmicos, anti-inflamatórios e antibióticos.
Asma
É uma doença inflamatória crônica das vias aéreas. Pode ser desencadeada quando a pessoa fica exposta a ácaros, poeira, poluição, pólen, mofos, pelos de animais e fumaça de cigarro, entre outros. Entre os sintomas, estão falta de ar, chiado e opressão no peito, e crise de tosse após esforço físico.
Dermatite de contato
Reação que se desenvolve no contato de substâncias específicas com a pele. É muito comum com cosméticos, como esmalte para unhas, e detergentes. Existe a dermatite de contato ocupacional, que acomete trabalhadores que lidam com substâncias químicas.Pode provocar erupção cutânea, coceira, vermelhidão e descamação.
Alergia alimentar
Em geral, envolve o aparelho digestivo. Pode causar dor abdominal, cólicas e vômitos. Manifestações na pele também são muito frequentes. Em crianças, são mais prevalentes as alergias a leite, clara de ovo e trigo. Há variações de acordo com os hábitos alimentares de cada país. Nos Estados Unidos, é comum a alergia a amendoim, muito presente na dieta americana. Adultos costumam ter alergia a camarão e frutos do mar.
Fontes: Ana Paula Moschione Castro, imunologista e alergista, membro do Departamento Científico de Alergia Alimentar da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), e Sérgio Luiz Nadvorny, especialista em alergia, imunologia clínica e otorrinolaringologia e presidente da Asbai-RS.
O que é uma reação alérgica
- Uma reação alérgica tem início no sistema imunológico, que nos protege contra organismos invasivos que podem provocar doenças.
- Se você tem uma alergia, suas defesas confundem um elemento que em outra situação seria inofensivo com um invasor. Esse elemento é chamado de alérgeno.
- O sistema imunológico reage exageradamente ao alérgeno, produzindo um anticorpo chamado imunoglobulina E (IgE).
- Esses anticorpos viajam até células que liberam histamina e outras substâncias, causando uma reação alérgica.
Fonte: Academia Americana de Alergia, Asma e Imunologia
Preste atenção
Uma reação alérgica pode provocar sintomas no nariz, nos pulmões, na garganta, nos ouvidos, no aparelho digestivo ou na pele. Em alguns casos, as alergias disparam sintomas de asma, como falta de ar, chiado e sensação de aperto no peito. Nos casos mais críticos, pode ocorrer até mesmo uma anafilaxia, reação do sistema de defesa do corpo que pode provocar urticária, coceira, colapso vascular, estado de choque e disfunção respiratória até mesmo letal.
Fonte: Academia Americana de Alergia, Asma e Imunologia