Pesquisas indicam que, hoje em dia, a população está mais alérgica do que em outros tempos. Mudanças no estilo de vida podem ter nos tornado mais sensíveis a proteínas que deveriam ser toleradas pela maior parte das pessoas, por exemplo. Uma comparação entre crianças de zonas rurais e de zonas urbanas, cita o especialista em alergia, imunologia clínica e otorrinolaringologia Sérgio Luiz Nadvorny, mostra que aquelas que vivem em maior contato com a natureza têm o sistema imunológico mais “requisitado” para combater causas reais, o que deixaria as defesas do organismo melhor “treinadas”. A criança que mora na cidade e passa muito tempo diante da televisão ou do computador, pouco saindo à rua ou tomando sol, não se coloca em contato com situações que disparem a resposta imune de seu organismo.
– A imunidade dela fica “disponível” para reagir contra causas não potencialmente agressivas, como ácaros de pó domiciliar e epitélios animais. Esses alérgenos não têm o potencial de gravidade como os dos potenciais agressores que existem, por exemplo, no ambiente rural – explica Nadvorny.
O aumento do número de cesáreas em países como o Brasil também poderia ajudar a explicar o crescimento da parcela alérgica da população. Evidências sugerem que, no parto natural, o bebê, durante a passagem pelo canal vaginal, entraria em contato com determinados elementos da flora bacteriana da mãe que colonizariam seu aparelho digestivo e poderiam proporcionar uma proteção maior em relação a alergias. Na cesárea, a colonização bacteriana do trato digestivo da criança não se daria pela mesma flora, desfavorecendo a imunidade contra certos alérgenos. Outras condições favoráveis a alergias desde o início da vida seriam a administração de antibióticos e a alimentação precoce com fórmulas artificiais em vez de leite materno.
Especialistas não nomeiam com certeza as práticas que poderiam calibrar as defesas do corpo contra o desenvolvimento de alergias, mas se acredita que a alimentação saudável da gestante, o parto normal, o aleitamento no peito durante os primeiros meses do bebê e o convívio mais próximo com a natureza são comportamentos benéficos para a saúde.
Devido à imaturidade de seu sistema imunológico, crianças costumam sofrer mais com alergias. As crises são mais evidentes na infância, embora em alguns pacientes as manifestações só ocorram na idade adulta. Há manifestações que desaparecem ainda quando o paciente é pequeno, mas outras o acompanham por toda a vida.
Os principais tipos de alergia
Rinite alérgica
Trata-se da alergia mais frequente. Estima-se que possa acometer até 40% da população. Entre os gatilhos, estão ácaros, pó, pelos de animais, mofos e pólen. Causa espirros em sequência, coceira no nariz, nos olhos, nos ouvidos e no palato, coriza, obstrução nasal. Quem tem rinite está mais sujeito a episódios de sinusite, otite e asma, além do desenvolvimento de distúrbios do sono e do comprometimento da qualidade de vida.
Dermatite atópica
A crise alérgica não depende de que a pessoa se encoste em algo. Desencadeia-se pela característica da pele, mais propensa a inflamações, e em consequência disso é mais ressecada. É como se a pessoa apresentasse um defeito na barreira cutânea, que tem entre suas funções impedir que algo de fora adentre nosso corpo. Os sintomas são pele seca, coceira intensa, pequenas feridas nas dobras das pernas e dos braços.Sudorese, banhos quentes demais ou alérgenos alimentares e respiratórios tendem a piorar a dermatite atópica. A doença pode ter as primeiras manifestações ainda nos primeiros meses de vida.
Alergia a medicamentos
Pode provocar urticária e inchaço e até reações imprevisíveis, de intensa gravidade. As crises devem ser observadas com atenção. Alguém que nunca teve alergia a determinado remédio pode, aos 30 anos, por exemplo, passar a ter. Entre os remédios que mais provocam reações alérgicas estão analgésicos, antitérmicos, anti-inflamatórios e antibióticos.
Asma
É uma doença inflamatória crônica das vias aéreas. Pode ser desencadeada quando a pessoa fica exposta a ácaros, poeira, poluição, pólen, mofos, pelos de animais e fumaça de cigarro, entre outros. Entre os sintomas, estão falta de ar, chiado e opressão no peito, e crise de tosse após esforço físico.
Dermatite de contato
Reação que se desenvolve no contato de substâncias específicas com a pele. É muito comum com cosméticos, como esmalte para unhas, e detergentes. Existe a dermatite de contato ocupacional, que acomete trabalhadores que lidam com substâncias químicas.Pode provocar erupção cutânea, coceira, vermelhidão e descamação.
Alergia alimentar
Em geral, envolve o aparelho digestivo. Pode causar dor abdominal, cólicas e vômitos. Manifestações na pele também são muito frequentes. Em crianças, são mais prevalentes as alergias a leite, clara de ovo e trigo. Há variações de acordo com os hábitos alimentares de cada país. Nos Estados Unidos, é comum a alergia a amendoim, muito presente na dieta americana. Adultos costumam ter alergia a camarão e frutos do mar.
Fontes: Ana Paula Moschione Castro, imunologista e alergista, membro do Departamento Científico de Alergia Alimentar da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), e Sérgio Luiz Nadvorny, especialista em alergia, imunologia clínica e otorrinolaringologia e presidente da Asbai-RS.
O que é uma reação alérgica
- Uma reação alérgica tem início no sistema imunológico, que nos protege contra organismos invasivos que podem provocar doenças.
- Se você tem uma alergia, suas defesas confundem um elemento que em outra situação seria inofensivo com um invasor. Esse elemento é chamado de alérgeno.
- O sistema imunológico reage exageradamente ao alérgeno, produzindo um anticorpo chamado imunoglobulina E (IgE).
- Esses anticorpos viajam até células que liberam histamina e outras substâncias, causando uma reação alérgica.
Fonte: Academia Americana de Alergia, Asma e Imunologia
Preste atenção
Uma reação alérgica pode provocar sintomas no nariz, nos pulmões, na garganta, nos ouvidos, no aparelho digestivo ou na pele. Em alguns casos, as alergias disparam sintomas de asma, como falta de ar, chiado e sensação de aperto no peito. Nos casos mais críticos, pode ocorrer até mesmo uma anafilaxia, reação do sistema de defesa do corpo que pode provocar urticária, coceira, colapso vascular, estado de choque e disfunção respiratória até mesmo letal. Fonte: Academia Americana de Alergia, Asma e Imunologia