As palavras ditas pela mãe, desde a infância, sobre respeito e direitos iguais entre os sexos são lembradas até hoje pelo porteiro Marcelo Ribeiro Leão, 34 anos, do bairro Restinga. Pai biológico de Raicca, 11 anos, e padrasto há 13 de Hérick, 14 anos, Marcelo defende uma criação igualitária para os dois filhos, e tem o apoio da mulher, Aline, 33 anos.
– Tento levar tudo no mesmo nível para não diferenciar porque o que um pode fazer, o outro também pode. Tento passar para eles tudo o que aprendi com a minha mãe. Ela dizia: “Independente de ser homem ou mulher, tu tem que fazer. Não dá para ficar só na dependência” – conta.
Marcelo tem mais motivos para garantir igualdade entre os filhos: ambos entraram numa escola de dança. Hérick, que começou na capoeira, foi o primeiro a pedir para participar da Escola Preparatória de Dança (EPD), que funciona dentro da Escola Municipal de Ensino Fundamental Senador Alberto Pasqualini, no bairro. Marcelo, que ataca de DJ nas horas vagas, deu todo o apoio ao menino. Meses depois, vendo a empolgação do irmão, Raicca também quis ingressar na EPD. Hoje, os dois fazem aulas de diferentes tipos de dança, entre eles, hip hop, sapateado e balé.
– Sou meio travado e tímido. Mas gosto de assistir às apresentações deles e me emociono ao ver os dois dançando. O Hérick está bem desenvolvido e a Raicca, no caminho. Com eles aprendi que tenho que dar carinho, sempre demonstrar amor, pois sou a base deles para terem um caminho bom – diz o pai, com os olhos marejados.
Emocionado, o adolescente é quem gagueja na hora de definir o pai de coração, que se tornou também seu padrinho ao ser batizado com oito anos.
– Ele me criou desde criança. Então, levo bem a sério o que ele diz. Me ensina o certo e o errado e eu sei que isso vai melhorar a minha vida. Além disso, é um pai bem divertido. Comparece nas nossas apresentações, está junto nos passeios. E eu, às vezes, até me emociono quando estou dançando e ele está lá me vendo porque sei que é difícil ele conseguir por causa do trabalho – confessa Hérick, antes de abraçar o pai.