Criado no que hoje descreve como um “ambiente rígido, onde o homem não entrava na cozinha”, Diego da Silva Santos, do bairro Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre, repetia para si mesmo que, quando casasse, seria defensor de regras mais flexíveis no convívio familiar. Aos 32 anos, casado há 12 com Daiane Novakoski, da mesma idade, ele segue cumprindo o que foi prometido ainda na adolescência, e com o consentimento da esposa. Pai biológico de Lorenzo, seis, e Christopher, 10, e de coração de Pedro, 14 anos – fruto do relacionamento anterior de Daiane –, Diego defende uma família sem diferenças no que se refere a responsabilidades e modo de criação.
– Todos, independentemente do sexo, têm os mesmos deveres e direitos. Se, quando eu era criança, não podia cozinhar porque era coisa de mulher, hoje meus filhos gostam de cozinhar conosco. Eles precisam aprender para não serem dependentes na fase adulta – explica.
Apesar do desejo de ter uma filha, por ter sido criado entre homens, Diego destaca que as regras da casa permaneceriam as mesmas das aplicadas aos guris. Todas as decisões são acordadas com Daiane e repassadas a Lorenzo, Christopher e Pedro, que dividem tarefas, incluindo a limpeza do quarto dos três. Enquanto um se responsabiliza por lavar a louça, o outro estende as camas e o terceiro varre a casa. E ninguém reclama. Pelo contrário: a divisão de responsabilidades está tão disseminada na família que nem sempre é necessário solicitar o cumprimento do dever de cada um.
– Tive uma infância muito boa, mas meu pai não aceitava opiniões dos filhos. Eu faço o contrário, ouço todos os lados. Já fizemos até mesa redonda à noite para discutirmos os problemas entre os meninos – revela, orgulhoso.
Depois de ter filhos, Diego confessa ter se tornado mais tolerante. Ao lado deles, aprendeu a assistir YouTube – sabe de cor os nomes de alguns youtubers famosos –, maratonar séries e conheceu a flauta doce. O instrumento é o favorito do filho Christopher, que também faz aulas de sapateado num projeto social do bairro e é apaixonado por música.
O pai ainda recorda ter crescido ouvindo que “mulher é o sexo frágil”, frase da qual discorda. No início da adolescência, foi liberado para sair à noite porque “era homem e podia ser mais livre”. Com o filho Pedro, porém, a regra é outra: depois das 18h, só sai acompanhado dos pais. A insegurança é igual para homens e mulheres, adverte.
– Não digo que sou pai de meninos, como se isso fosse mudar algo na criação. Sou pai – resume Diego.