Acostumados a um passado nem tão distante no qual eram reconhecidos apenas como os provedores da família, os pais buscam cada vez mais estar presentes na vida dos filhos. Essa convivência mais próxima pode trazer aprendizados e experiências valiosos não somente para as crianças, mas também para os próprios pais. Ao exercer uma paternidade mais ativa e afetiva, os homens têm a oportunidade de desconstruir antigos valores e crenças sobre aquilo que acredita-se ser a criação certa para meninos e meninas.
Especialistas em terapia familiar apontam que, em muitos lares, a educação baseada em padrões de gênero – aquela que entende que meninos devem brincar de carrinho, enquanto as meninas cuidam das bonecas, por exemplo – está sendo repensada e reavaliada. Ainda assim, destacam, é comum e esperado que se tenha reações diferentes ao lidar com filhas ou filhos.
– É muito natural os pais terem uma expectativa, um jeito de lidar quando o filho nasce, dependendo se for menina ou menino. Os hormônios são diferentes no homem e na mulher, e eles geram sensações diferentes no corpo e também um desenvolvimento diferente. E não é negativo, é natural – aponta a psicóloga clínica, psicodramatista e especialista em terapia familiar Miriam Lopes de Barros.
Para a especialista em terapia de casal e família Denise Falcke, professora do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Unisinos, o caminho mais interessante é ir desconstruindo papeis tão estabelecidos de ser menina ou menino para não haver diferenças em relação ao modo de educar os filhos. O ideal, para ela, é o pai permitir que as crianças sejam como elas gostariam de ser, para que se tornem adultos mais completos e resolvidos.
– Isso precisa ser exercitado desde os primeiros anos porque ainda há muita diferenciação durante a infância. Menino não pode chorar. Menina não pode correr. Depois, quando se tornam adultos, espera-se que ambos consigam lidar bem com as emoções, que tenham comportamentos mais similares e lugares de igualdade – alerta Denise.
Miriam completa dizendo que, cada vez mais, os pais estão se questionando sobre o modo de criação e se permitindo dar mais espaço às crianças:
– Eles estão aprendendo com os próprios filhos a repensar que a diferença não está no esporte que eu pratico, nem na brincadeira que eu brinco, nem na cor que eu uso.
As especialistas sugerem aos pais uma educação de forma igualitária, dando a liberdade de escolha à criança com o jeito que ela mais se identifique, aprendendo todas as possibilidades de ser.
– A criança está escolhendo espontaneamente no que ela consegue se dar melhor e do que ela gosta. Cabe aos pais tomarem cuidado para não colocarem em cima da criança um rótulo e, até mesmo, um preconceito que é deles – resume Miriam.
Veja nesta reportagem as histórias de três pais que seguem aprendendo todos os dias com os filhos – sejam eles meninos ou meninas: