Que tipo de pai é você? Repressor demais, protetor em excesso, indiferente? Será que sua maneira de exercer a paternidade é benéfica ou prejudicial ao seu filho?
Essas são indagações muito frequentes nos tempos atuais, refletindo a ansiedade dos adultos em relação ao futuro dos filhos e revelando a crença arraigada de que o sucesso de uma criança depende em grande medida daquilo que os pais fizeram ou deixaram de fazer no período em que ela estava em formação.
Uma ferramenta que pode ajudar a resolver essas dúvidas é a teoria dos estilos parentais, muito utilizada pelos especialistas, desenvolvida na década de 1960 pela psicóloga americana Diana Baumrind, atualmente com 90 anos. Diana classificou os tipos de pai e mãe de acordo com duas variáveis que considerava fundamentais, a responsividade (que tem a ver com a capacidade de acolher, de compreender, de participar) e a exigência (relacionada com o estabelecimento de regras e limites). A partir daí, chegou a quatro estilos parentais, que descrevem os modelos de paternidade presentes na sociedade.
Os tipos de parentalidade
- Autoritário: é o pai com alto grau de exigência e baixo grau de responsividade. É o pai rígido, que só exige, às vezes abusivo.
- Indulgente: tem alta responsividade e baixa exigência. É aquele pai permissivo, que não estabelece limites, que cede às vontades das crianças. Está associado aos filhos mimados.
- Autoritativo ou autorizante: alta responsividade associada a alta exigência, ou seja, cobra limites e estabelece regras, mas ao mesmo tempo está atento às necessidades da criança. É firme, mas não rígido.
- Negligente: baixa responsividade e baixa exigência. É basicamente o pai que se omite, deixando a criança à própria sorte.
O estilo menos indicado é o negligente. O mais adequado, afirma a psicóloga Ângela Bein Piccoli, que está se doutorando na Fundação Universitária de Cardiologia com uma tese relacionada ao tema, é o autorizante.
– Ele consegue exigir, mas também consegue apoiar. Está presente quando o filho precisa – observa.
Quando se fala em pais superproterores, que criam os filhos em uma espécie de redoma, antecipando-se às frustrações deles, estamos diante do estilo indulgente.
– Eles são menos exigentes. Não deixam os filhos se frustrarem e estão sempre resolvendo os problemas por eles. Existe uma probabilidade, nesses casos, de que esses filhos não consigam lidar com a frustração, resolver sozinhos as situações, ser independentes e autônomos – diz Ângela.
As pesquisas da psicóloga apontam que os estilos predominantes na realidade brasileira são justamente os que estão nos extremos – o benfazejo autorizante e o reprovável negligente. O indulgente, aquele que protege demais a criança das frustrações, não estaria tão presente. Por isso, Ângela não compactua com as visões apocalípticas de que os pais de hoje estariam gestando uma geração de indivíduos mimados, incapazes de lidar sozinhos com as agruras da vida:
– Não sou alarmista. Mas acho que o problema existe. Há pais que não estão suportando o choro do filho, e há uma frase que se diz que o bom pai é aquele que consegue suportar esse choro, que consegue dizer “não” quando a criança quer que ele compre um tablet, quer ver mais TV ou não quer estudar.
Ângela considera que a teoria dos estilos parentais merece ser conhecida por todos, para que cada um ganhe consciência de que está jogando com duas categorias fundamentais (a responsividade e a exigência) e tente enxergar onde se posiciona ali. Ela observa também que os pais podem, de acordo com o contexto, transitar pelos diferentes estilos, o que é saudável. Reconhece, no entanto, que pode ser complicado saber como se situar e como adotar o estilo mais adequado:
– Não tem fórmula, não tem manual de como ser pai. Tem momentos que é necessário ser mais exigente, outros em que é preciso ser responsivo. Tem de contrabalançar os dois níveis, mas em que momento? Nem sempre é simples saber. Por exemplo, qual é o limite da frustração hoje? Não vejo resposta fácil.