O coração acelera, o suor começa a se espalhar pelo corpo e se soma a tremores, náusea e formigamento nas mãos e nas pernas. Logo os sintomas físicos chegam ao ápice e a pessoa fica aterrorizada. Sente que não há o que possa fazer para sair dali, mas ficar onde está também é muito assustador. O pânico é completo quando associado aos fatores psíquicos: parece que algo terrível vai acontecer. Mesmo que tudo esteja calmo no ambiente, é como se, nos próximos minutos, tudo fosse acabar e não houvesse nada o que se pudesse fazer para evitar o flagelo que se aproxima.
Quem sofre de síndrome do pânico sente medo do que pode acontecer. De perder o controle, de enlouquecer, de morrer. Medo de tudo. Medo de ter medo. E esse sentimento não está associado a uma causa específica: dirigir um carro, falar em público ou dormir no escuro não são atividades que desencadeiam o problema. Experiências traumáticas como uma separação, um assalto ou a perda de alguém querido tampouco são responsáveis pela doença.
– O transtorno de pânico não tem necessariamente um fator desencadeador aparente. Sempre que o paciente acha que alguma coisa específica causou a crise, não é síndrome do pânico. É algum outro transtorno de ansiedade – explica o psiquiatra Antônio Geraldo da Silva, superintendente técnico e diretor da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).
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O que caracteriza a síndrome, quando recorrente, é o medo de passar mais uma vez por aquelas sensações físicas ruins. De novamente se sentir impotente, ameaçado, perseguido, incapaz de seguir a vida normalmente. Não é, portanto, o temor a alguma situação ou objeto específico: é o pavor de reviver aquela experiência ruim – o que, em um círculo vicioso, resulta em uma tensão constante que pode acabar em uma ansiedade ainda maior.
– A pessoa imagina que vai se sentir muito mal e quer evitar ter de passar novamente por aquela onda de sintomas, mas não consegue. E, pensando nisso, com esse medo, pode ser afetada por mais um episódio do transtorno – define a psiquiatra Gisele Gus Manfro, coordenadora do Ambulatório de Ansiedade do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
Ataque não é síndrome
Ficar nervoso antes de uma reunião importante ou ansioso nos momentos que precedem a apresentação de um trabalho não são características incomuns: há quem sofra em casos assim e quem não se preocupe tanto, mas nada disso necessariamente representa um mal que precise de tratamento. Mesmo que haja um episódio mais grave a partir desses medos comuns – como gaguejar ininterruptamente a ponto de não se fazer entender, tremer sem parar na frente dos responsáveis por uma avaliação –, o problema pode ser entendido como um ataque de pânico, relacionado a uma causa específica, mas não necessariamente é a uma doença.
– Se os ataques são seguidos e o paciente passa a ter medo de ter esses ataques, temos a síndrome. O que configura o transtorno é um ataque seguido do medo de ter esses ataques de novo – completa Gisele, também professora no Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Além de não ter uma causa clara, o temor exacerbado que caracteriza a síndrome tampouco tem hora para chegar. Pode acontecer em uma situação estressante ou na paz de um retiro; durante o trabalho ou em plena cama; no meio da multidão ou sem qualquer outra pessoa por perto.
– O que acontece é uma descarga enérgica sem motivo aparente, uma carga de adrenalina liberada sem regra ou motivo. E a adrenalina é um hormônio associado a situações de "matar ou morrer". Você pode estar sentado na cadeira de um cabeleireiro e, de repente, começar a temer pela própria vida – diz Geraldo da Silva, presidente eleito da Associação Psiquiátrica da América Latina (Apal).
O medo pode até ser irreal ou não aparentar uma justificativa plausível – e quem é afetado pode inclusive ter consciência disso –, mas o temor é tamanho que paralisa. A crise pode ter durações variadas, mas geralmente é curta: começa com uma inexplicável ansiedade que surge em questão de segundos e resulta em uma série de outros sintomas que atingem um extremo em poucos minutos, até que passa, deixando a pessoa exausta.