Estudo realizado pelo Centro de Pesquisa em Alimentos (Food Research Center/ FoRC), da USP, descobriu que a dieta paterna pode induzir o câncer de mama na prole feminina. Os resultados de testes feitos em animais foram publicados na revista Breast Cancer Research na última terça-feira.
Para realizar o experimento, uma equipe liderada pelo professor do Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP dividiu ratos machos em três grupos. O primeiro recebeu uma dieta rica em gordura animal (banha de porco), o segundo teve uma alimentação rica em gordura vegetal hidrogenada (óleo de milho) e o terceiro grupo, de controle, a recebeu uma dieta com pouca gordura. As fêmeas que cruzaram com foram nutridas com ração comercial.
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Após o cruzamento, os pesquisadores induziram o câncer de mama em filhotes fêmeas com 50 dias de vida e monitorou o desenvolvimento da doença. Os resultados mostraram que as filhas de pais que consumiram banha de porco apresentaram maior incidência de câncer de mama em comparação com filhas de pais que consumiram a dieta controle e o óleo de milho.
Já os tumores da prole dos ratos mantidos em dieta de óleo de milho cresceram menos do que os tumores da prole “filha” da dieta de banha de porco e também demoraram mais a aparecer. Além disso, o número de tumores na prole dos ratos mantidos com gordura de origem vegetal foi menor do que na prole dos ratos alimentados com a gordura animal.
A redução do risco de tumor para filhotes descendentes de ratos machos submetidos a dieta com óleo de milho surpreendeu os pesquisadores, uma vez que, em humanos, a ingestão de altos níveis de gordura costuma ser associada à má saúde.
– Isso mostra que a gordura tem efeitos distintos e que dependem das características de composição de ácidos graxos. A gordura animal é rica em ácidos graxos saturados e o óleo de milho é rico em poli-insaturados da série 6 – explicou Ong.
A coordenadora do FoRC, Bernadette Franco, chamou a atenção para o fato de que a descoberta, que classificou de inovadora, “poderá impactar significativamente os conhecimentos da relação entre a alimentação e a prevenção do câncer”. Ela acrescentou que estudos anteriores já haviam mostrado que o risco de câncer de mama é influenciado pela dieta lipídica da mãe.
– O trabalho da equipe de Thomas chama atenção para a dieta paterna e abre oportunidades para a investigação de novas estratégias de prevenção de doenças através da alimentação, que é um dos importantes focos de pesquisa dos cientistas do FoRC – concluiu.
A investigação, realizada em parceria com o Georgetown Lombardi Comprehensive Cancer Center, em Washington DC, nos Estados Unidos, incluiu a coleta de esperma dos ratos machos e das glândulas mamárias da prole para análise de moléculas de proteínas e de micro RNA presentes. As mudanças encontradas pelos pesquisadores nessas moléculas podem explicar as diferenças no desenvolvimento do câncer de mama das proles.
*Zero Hora com Agência FAPESP