Alex Saint´Pierre tinha 29 anos quando, um certo dia, acordou com a metade esquerda do corpo paralisada. Havia tido um AVC em função do estresse. Ficou 30 dias no hospital, um bom tempo sobre uma cadeira de rodas e teve de passar anos fazendo fisioterapia. Foi o preço por não saber respeitar os próprios limites.
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Como saber se você está estressado?
Era jovem, proprietário de uma agência de publicidade na Capital - onde, com certa frequência, almoçava, jantava e até dormia. Tinha a vida guiada por metas, prazos e pressões que vinham de todos os lados. Vivia irritado. Amigos, colegas e familiares tentavam o alertar, mas era início de carreira, e o dinheiro que entrava na conta no fim do mês valia a pena.
O cenário econômico é um ponto que se reflete em outros agentes estressores: o segundo principal motivo elencado em uma pesquisa da International Stress Management Association (IsmaBR) foi a falta de tempo - o primeiro é a falta de reconhecimento - que na visão de Ana Maria Rossi, presidente da entidade, é reflexo da redução no quadro de funcionários; em terceiro, o relacionamento interpessoal, que antes figurava na quinta posição. Neste contexto, torna-se cada vez mais necessária a cooperação entre chefes e colegas.
De forma extrema, o corpo do publicitário reagiu. Naquela manhã, lembra ele, ficou estático na cama. Não conseguia nem piscar. Foi o gatilho para mudar de vida: deixou de ser sócio da empresa e passou a se dedicar como professor na Faculdade de Comunicação da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), em Canoas. Quando não está em sala de aula, pode ser encontrado em casa, confeccionando capacetes estilosos e sob medida para motociclistas. É seu outro trabalho, que encara mais como hobby - uma vez que é também um aventureiro sobre duas rodas.
- Agora tenho uma rotina que não pode nem ser comparada com a antiga. Ainda existem momentos de estresse no trabalho, mas aprendi a lidar melhor com eles. Hoje, aos 41 anos, minha vida é dar
risada - resume.
Entenda por que o estresse é prejudicial
A maneira que Saint´Pierre encontrou para ter uma existência mais leve, depois do susto, foi mudar de emprego. Ao olhar para trás, ele vê um jovem "louco", que não soube prestar atenção aos sinais que o corpo lhe dava. Seu caso foi radical, mas o conselho, afirma ele, é o mesmo para todos:
- Todo mundo diz que está enlouquecendo com o trabalho. É preciso prestar atenção, agir e, se necessário, parar.
Parar, respirar e desacelerar é o mantra de Rafael Severo
Ao invés de largar o trabalho, o empresário mudou de estratégia para diminuir o estresse
Aos 25 anos, Rafael Severo era um jovem empresário. Proprietário de um negócio em investimentos e educação financeira, ele trabalhava mais de 12 horas por dia. Era preciso. O negócio estava em expansão, abrindo filiais no Brasil e com perspectivas de sucesso - que se concretizaram. Mas não sem um custo: ganhou 12 quilos em oito meses, reclamava de cansaço e mal tinha vida social. Não havia tempo para isso.
- Percebi que minha energia estava baixa, estava estressado demais e precisava me reconectar, ficar mais presente e lúcido. Parecia que eu tinha perdido o equilíbrio com o ritmo de trabalho alucinante - conta Severo.
Resolveu não abandonar o barco. A opção foi continuar com as mesmas atribuições, só que se preparando para lidar melhor com as pressões e o estresse gerados pela rotina desgastante. Ao buscar uma proposta que reunisse qualidade de vida, bom relacionamento humano e ferramentas que pudesse usar no trabalho, como reeducação respiratória e administração do estresse, Severo encontrou o Método DeRose. A escola reúne atividades culturais e práticas e cursos teóricos para quem tem, como objetivo final, a expansão da consciência e o autoconhecimento.
- Os caminhos são vários. Esse foi o que encontrei. A prática me ensinou a ter consciência das emoções e a saber lidar com elas. E eu levei esses ensinamentos para o trabalho. Quando tenho sintomas de ansiedade, por exemplo, paro, respiro, desacelero e retomo a atividade com maior concentração e controle. Isso faz toda a diferença - garante.
Você é um workaholic ou worklover?
Aos 32 anos, Severo se define como "um cara que conheceu seus limites". Ele continua trabalhando no mundo dos investimentos e da educação financeira. Mas o relógio é diferente. Segundo ele, a "chavezinha" virou: hoje, sabe os valores e as coisas que quer viver. É isso o que traz leveza e alivia a pressão do dia a dia.