Para aqueles que começaram a correr há algum tempo e se apaixonaram pelo esporte - caso da esmagadora maioria -, a pergunta sempre é a mesma: como fazer para evoluir nas distâncias e, quem sabe um dia, estar pronto para correr os sonhados 42,1 quilômetros da maratona? Há quem diga que não, jamais terá esse desejo. Porém, quantos morderam a língua e, pouco tempo depois, já se aventuraram nos 21 quilômetros e, naturalmente, passaram para o dobro do percurso, investindo (e muito) em treino e disciplina.
Aquele famoso ditado"nunca diga nunca"é facilmente aplicável quando falamos em corrida. Lembro bem de quando comecei, ainda na década de 90. Minha primeira rústica (que na época compreendia 10 quilômetros) na Maratona Internacional de Porto Alegre foi completada com muita alegria. Fiquei em 10º lugar e achei o máximo. Corri outras do estilo, sempre obtendo boas colocações. E percebi, logo adiante, que aqueles 45 minutos não eram suficientes. Procurei baixar meu tempo. Depois, aumentar os trajetos nos treinos, depois nas provas. Descobri o valor dos"longões"(treinos de duração maior, cujo foco é aumentar a resistência do atleta). Mas o sonho de cruzar a linha de chegada de uma competição nos moldes olímpicos surgia frequentemente na mente. A tal coceira que nunca passa.Adivinha? Só sosseguei quando meus
pés pisaram no tapete do pórtico final e a cobiçada medalha de finisher estava em minhas mãos.
Falando com treinadores especializados, a posição é unânime: ninguém consegue completar uma maratona num tempo razoável (abaixo de quatro horas) sem querer muito. Esse desejo não deve ser meia boca.Vai exigir seu tempo? Vai.Vai doer? Sem dúvida. A história de que há quem nasceu para ser maratonista até existe, mas é raríssima. Os quenianos que o digam - e, mesmo assim, eles treinam pra caramba. Todos os dias.
Jane Fonda estava bem certa quando proferiu a frase "no pain, no gain". Sem esforço, os ganhos são nulos ou, se vierem, não serão valorizados. Talvez por isso a corrida seja tão apaixonante: por dar a certeza de que seu esforço, no final das contas, terá valido a pena. Não só ao conquistar medalhas e pódios, mas por conhecer tanta gente legal, viver intensamente tantos momentos e perceber que cada gota de
suor derramado foi essencial.
Naquela lista de conselhos das coisas que todos deveriam fazer antes de morrer - escrever um livro, ter um filho, plantar uma árvore -, eu acrescentaria, sem sombras de dúvidas, "correr uma maratona". Experimente.