Tenho uma amiga que adora bege. Bege. Tiane, minha amiga de infância, é daquelas mulheres elegantes. Arquiteta, sempre bem-vestida e discreta, é unanimidade entre as amigas: pessoa de fácil trato, simpática, educada, divertida. Mas gosta de bege. Tiane pratica pilates. Com corpo bem cuidado, foge do sol para não ter sardas ou rugas. Já tentou correr, mas não gostou. E é bem convicta, também nesse ponto: assim como não larga mão do bege, jamais vai "forçar" seu corpo a trotar por aí, pois acha que há esporte melhor. Mulher sábia, a Tiane.
Apesar de fugir do bege - um tom, no meu preconceituoso ver, burocrático, que lembra repartição pública, só pior que o marrom -, tenho muitas coisas em comum com minha amiga, cuja amizade perdura há mais de duas décadas. A mais forte delas, talvez, seja a falta de paciência e disposição para tentar ser uma pessoa que não sou, ou tentar forçar a barra para gostar de algo que não é do meu estilo. Tiane odeia correr. Acha chato. E não é porque é moda que ela vai sucumbir. Não adianta postar 567 fotos no Instagram dizendo que "correr vai mudar sua vida".
Cito esse peculiar caso para mostrar que não, você não é um ET se não gosta de correr. Se acha um saco acordar cedo e sair por aí, feito um Forrest Gump sem destino, há dezenas de esportes no cardápio: não há desculpa para ficar parado. Gosta de água? Natação, surfe, remo, stand up, wake board, canoagem. Curte um ventinho no rosto? Vá de bicicleta, skate, roller. Esportes coletivos? Futebol, basquete, vôlei, tacobol. Competitivo? Tênis, pingue-pongue, boxe, muay thai. Ou se não gosta de nenhum deles, paciência. Sinuca, xadrez. Qualquer coisa que faça mente, alma e corpo felizes. O principal é sair da rotina com leveza.
Em época de redes sociais e avalanches diárias de "fitness-chatos" e "corre-malas", devemos cuidar em discernir o que realmente nos serve para não entrar numa onda furada. Cada cabeça, uma sentença - e o mesmo vale para cada corpo, cada genética, cada limitação física e mental.
Assim como eu não tenho afinidade com esportes coletivos, principalmente com bola, em que minha coordenação motora é beirando o zero, ou indoor (como academias), me dou muito bem com atividades aquáticas, incluindo natação e surfe, esse último, meu esporte predileto, e com tudo que envolva corrida. E dificilmente vou mudar de opinião. Afinal, o que está em questão são aptidões físicas e, claro, sentimentos. O surfe e a corrida representam muito para mim. São meus pilares de felicidade - ao lado da família, do trabalho e dos amigos.
Torço para que todos descubram o esporte que faça o lado esquerdo do peito bater com mais intensidade. Essa energia, alegria e gana de viver está dentro de todo mundo. Basta explorar. E, como a minha amiga de infância acredita, depois que você se apaixona por algo - seja uma cor, uma pessoa, uma comida, um lugar -, não há quem o convença ao contrário.
Ah, se ela soubesse que sua cor favorita renderia tanta filosofia...