Um surto de rotavírus na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) causou a suspensão temporária das aulas e deixou quase 300 estudantes com sintomas como vômito e diarreia. Surtos em adultos não são comuns, mas podem acontecer, principalmente quando há aglomerações, conforme Fernanda Franchini, médica infectologista do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM).
O rotavírus é um vírus comumente causador de gastroenterite (um conjunto de sintomas caracterizados por vômitos, diarreia e febre), principalmente em crianças – entre as quais os surtos são mais frequentes. Por ser comum, é um dos principais causadores de doença diarreica aguda em adultos. A doença tem progressão rápida, com a manifestação dos primeiros sintomas em até 48 horas, explica Tarsila Vieceli, infectologista da Santa Casa de Porto Alegre.
A transmissão se dá por via fecal-oral – o vírus é eliminado nas fezes do paciente, podendo ser transmitido por meio das mãos, quando a higiene não é feita adequadamente – e por água ou alimentos contaminados. Uma pessoa contaminada segue eliminando o rotavírus nas fezes por até 10 dias.
— É muito importante a gente cuidar, higienizar bem verduras, alimentos crus, com água tratada. O ideal é que a gente coloque ali também um hipoclorito, além do cloro da água, fazer essa higiene adequada de verduras e legumes. E, especialmente, a lavagem das mãos — aponta Tarsila.
Sintomas
Os sintomas de rotavírus incluem vômitos, diarreia (com mais de três episódios de evacuação aquosa por dia) e febre (menos comum). Em adultos, o rotavírus costuma causar uma infecção autolimitada, com sintomas que se resolvem espontaneamente – em geral, em menos de uma semana, conforme a infectologista da Santa Casa.
Tratamento
Não existe tratamento específico, segundo as especialistas – o tratamento é de suporte, principalmente com hidratação, como água e soro, e medicação para reduzir o vômito. Não há indicação de uso de antibióticos.
A principal gravidade da diarreia é a perda de líquidos e eletrólitos, podendo levar à desidratação. Em alguns casos, ao atingir um ponto de desidratação e debilidade em que a pessoa não consegue beber água ou se reidratar, existe esse risco, já que o paciente continua a perder líquidos, explica a infectologista da Santa Casa.
Casos graves podem levar à desidratação severa, principalmente em idosos e crianças, necessitando de internação para realização de hidratação na veia, alerta a médica do HUSM.
O principal risco de desidratação também está relacionado a pacientes com comorbidades, como imunocomprometidos (pessoas com câncer, aids ou algum tipo de imunossupressão) ou pessoas com doenças graves, aponta Tarsila. Além disso, para pacientes com insuficiência cardíaca ou doença renal, por exemplo, a hidratação é mais complicada, pois precisa ser realizada sem sobrecarregar os rins.
Já as crianças enfrentam ainda risco de intussuscepção intestinal, uma complicação do intestino. Em crianças e imunocomprometidos, o vírus também pode causar crises convulsivas, acrescenta Fernanda.
Em caso de desidratação, é preciso procurar atendimento médico, especialmente em casos em que não esteja sendo possível repor os líquidos por via oral. Um paciente que está muito debilitado, com febre contínua, ou que apresenta piora do estado em geral, deve buscar auxílio médico.
Prevenção
- Lave as mãos
- Evite alimentos de procedência duvidosa
- Higienize bem verduras e legumes com hipoclorito
- Utilize apenas água tratada
- Vacine crianças. Crianças maiores também devem seguir os outros cuidados, sobretudo a lavagem de mãos
— A principal medida de prevenção é a higiene das mãos, que pode ser feita com água e sabão ou álcool gel. Deve ser realizada sempre antes das refeições, antes e após ir ao banheiro ou trocar fraldas, na preparação de alimentos — ressalta Fernanda.
Existe vacina para o rotavírus. Ela é indicada para crianças, pois elas apresentam maior risco de contrair a infecção e de desenvolver casos mais graves. O imunizante está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) para crianças de até quatro meses. A vacinação dos pequenos é importante por reduzir o risco de infecção e possibilitar a imunidade de grupo, reduzindo a transmissão na comunidade, explica Tarsila. A vacina não é indicada para adultos.
Antes da existência do imunizante, o rotavírus era a principal causa de gastroenterite viral. A vacina é recente, tendo sido incluída no calendário vacinal brasileiro em 2006. Não existem, contudo, dados sobre imunidade duradoura – estudos apontam para proteção por cerca de dois a três anos, segundo Tarsila. Assim, quem já recebeu a vacina na infância ou já teve infecção prévia pode ser infectado novamente pelo vírus; porém, normalmente, não apresenta sintomas, ou estes são mais leves, conforme Fernanda.