É comum que doentes renais apresentem problemas no coração, assim como ocorre de doentes cardíacos terem alguma dificuldade nos rins. Mas, no caso de transplantes, a maioria dos pacientes necessita de apenas um dos órgãos ao longo da vida. Isto é o que dizem especialistas sobre situações como a do apresentador Fausto Silva, que fez um transplante de rim seis meses após já ter realizado o procedimento para receber um coração.
Na Santa Casa, o cardiologista Luiz Claudio Danzmann lembra de ter atendido dois casos de pessoas que precisaram de ambos os órgãos nos últimos seis meses: uma que fez transplante de coração e agora precisa de um rim e a outra que fez o inverso. Já o chefe do Serviço de Transplantes do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Roberto Ceratti Manfro, diz que o último caso assim de que se recorda ocorreu no ano retrasado e foi de um transplante simultâneo de rim e coração.
Faustão passou pela segunda cirurgia na última segunda-feira (26), após o agravamento de uma doença renal crônica e a espera na lista por dois meses. A cirurgia ocorreu sem intercorrências no Hospital Israelita Albert Einstein, segundo a instituição. Antes do transplante cardíaco, os rins de Faustão já estavam comprometidos e ele estava fazendo hemodiálise, afirmou sua família ao G1.
A presença de problemas renais e cardíacos simultaneamente é comum, já que os dois órgãos costumam ter seu funcionamento prejudicado pelas mesmas doenças, em especial a hipertensão e a diabetes mal controladas. Além disso, quando há doenças no coração, os rins costumam ser os órgãos mais atingidos como consequência.
— Os rins têm uma relação mais íntima com o coração, porque eles estão diretamente conectados ao órgão e dependem muito do bombeamento do sangue — explica Danzmann.
Quando problemas no coração fazem com que pouco sangue chegue ao rim, seu funcionamento pode ser prejudicado. O mesmo acontece quando os rins ficam enclausurados devido ao inchaço no corpo causado pelo excesso de líquido que se acumula porque o coração não teve forças para levá-lo adiante.
Pacientes com doenças renais podem desenvolver complicações cardíacas. Isso porque pessoas com problemas no rim costumam ter pressão alta, já que não eliminam o sal e o líquido do organismo adequadamente, explica Manfro. Por isso, nefrologistas acompanham as condições cardíacas dos pacientes por meio de exames, assim como cardiologistas monitoram também os rins.
Problemas após o transplante
A insuficiência renal também pode ser agravada ou originada por um transplante de coração, já que na cirurgia o paciente passa por períodos de baixa pressão arterial, corrigida por medicamentos que podem prejudicar os rins. Geralmente esses efeitos são resolvidos em algumas horas ou dias, mas podem causar danos prolongados.
Outro fator citado por Danzmann é que, para evitar a rejeição do órgão transplantado, o paciente precisa de remédios imunossupressores que podem provocar lesão renal. A reação do rim aos medicamentos vai depender da condição do órgão anterior ao transplante. O uso de antibióticos ou antifúngicos - que pode ser mais necessário após o transplante, já que a defesa do organismo está com uma atividade mais baixa devido aos imunossupressores - também pode agravar problemas renais.
Ao mesmo tempo, Danzmann alerta que o transplante em si não é o principal agente para o surgimento de doenças no rim. O mais comum é que o procedimento possa agravar uma situação que já existia. É improvável que o paciente desenvolva insuficiência renal depois do transplante sem ter problemas prévios.
— Geralmente ele já vai para o transplante com um problema mútuo e no pós-transplante pode, em alguns casos, piorar a função de um rim previamente insuficiente — diz o médico.
Mesmo com esses problemas que podem ocorrer, a maioria dos pacientes não chega a precisar do transplante de um órgão diferente do que recebeu.