Desde 2013, mais de 38 mil casos de violência contra médicos no ambiente de trabalho foram registrados no país, 47% contra mulheres. O Estado de São Paulo lidera a lista com quase metade dos registros, 18 mil, a maioria, 45% entre profissionais mulheres.
A proporção indica que, a cada três horas, um médico é vítima de violência em estabelecimento de saúde público ou privado no país.
No Rio Grande do Sul, foram 225 casos durante o período. Conforme o CFM, o Estado forneceu apenas dados de violência contra médicos sem definir o local onde ocorreu o fato. Por isso, o conselho adotou a estimativa mínima de 10%.
Os dados são de um levantamento inédito do Conselho Federal de Medicina (CFM) divulgado nesta terça-feira (22), feito com base em boletins de ocorrência registrados em delegacias de polícia civil de todos os Estados entre 2013 e 2024.
“Os dados mostram que a situação fica cada vez mais fora de controle, uma vez que o volume de queixas vem aumentando ano após ano. O recorde foi batido em 2023, mas os dados completos de 2024 somente serão conhecidos ano que vem”, avaliou o CFM em nota.
Os registros consideram boletins de ocorrência em que médicos aparecem como vítimas de ameaça, injúria, desacato, lesão corporal e difamação dentro de unidades de saúde, hospitais, consultórios, clínicas, prontos-socorros e laboratórios. Há, inclusive, registros de mortes suspeitas de médicos dentro de estabelecimentos de saúde.
Recorde
Em 2013, foram registrados pouco mais de 2,7 mil boletins de ocorrência desse tipo no país. Dez anos depois, em 2023, o número alcançou a marca de 3,9 mil casos, a maior da série histórica. Ou seja, em 2023 foram registrados 11 boletins de ocorrência por dia no país devido a situações de violência contra médicos nos locais onde atuam.
Os números mostram ainda que 66% dos casos ocorrem em municípios do interior do Brasil. Os autores dos atos violentos são, em grande parte, pacientes, familiares de pessoas atendidas e desconhecidos. Há ainda casos minoritários de ameaça, injúria e até lesão corporal cometidos por colegas de trabalho, incluindo enfermeiros, técnicos, servidores e outros profissionais da saúde.
Estados
Em São Paulo, que possui o maior número de registros, a média de idade dos médicos que sofrem algum tipo de violência é 42 anos. De acordo com os dados, 45% dos ataques a médicos em São Paulo (8,4 mil casos) ocorreram dentro de hospitais (pronto-socorro, unidade de terapia intensiva, centro cirúrgico e consultório).
Já o Paraná, que aparece como o quinto estado com a maior quantidade de médicos, figura em segundo lugar no ranking, com, pelo menos, 3,9 mil casos durante o período analisado. Curitiba concentra 12% dos registros.
Em terceiro lugar está Minas Gerais, segundo estado com o maior número de médicos do Brasil. A Polícia Civil do Estado registrou 3.617 boletins de ocorrência envolvendo esse tipo de violência, sendo 22% deles na capital Belo Horizonte.
De acordo com o CFM, o Rio Grande do Norte não encaminhou as informações solicitadas a tempo e o Acre informou não ter os dados em sua base. Já Mato Grosso e Paraná informaram dados relativos à violência em hospitais e clínicas médicas contra qualquer profissão – a partir daí, o conselho elaborou uma estimativa mínima de 10% que envolveria apenas médicos.
Estimativa semelhante foi feita com o Rio de Janeiro, onde a maioria das ocorrências não tem a profissão da vítima.
Orientações
Em casos de ameaça, o CFM orienta que o médico:
- registre ocorrência na delegacia mais próxima ou online;
- informe, por escrito, às diretorias clínica e técnica da unidade hospitalar sobre o ocorrido;
- apresente dados dos envolvidos e testemunhas;
- encaminhe o paciente a outro colega, se não for caso de urgência e/ou emergência.
Se a ocorrência envolver agressão física, a entidade indica que o profissional:
- compareça à delegacia mais próxima e registre boletim de ocorrência (haverá necessidade de exame do corpo de delito);
- apresente dados dos envolvidos na agressão e de testemunhas;
- comunique o fato imediatamente às diretorias clínica e técnica da unidade hospitalar para que seja providenciado outro médico para assumir suas atividades.