A qualidade da água do Rio Sena, em Paris, tem sido tema de muitas polêmicas desde o início dos Jogos Olímpicos de 2024. No domingo (4), o Comitê Olímpico da Bélgica (BOIC, na sigla em inglês) anunciou a desistência do triatlo misto devido a hospitalização da atleta Claire Michel, infectada pela bactéria E.coli enterohemorrágica após nadar no rio durante a prova feminina na quarta-feira (31).
Nadar no Sena era proibido há mais de um século, principalmente por conta da má qualidade da água. Mais de 1 bilhão de euros – aproximadamente R$ 6,3 bilhões, na cotação atual – foi investido no projeto de descontaminação do rio para os Jogos Olímpicos de Paris.
Em maio, análises da Associação Surfrider apontaram que o nível de E.coli na água do Sena era três vez maior do que o permitido pela Federação Internacional de Natação (World Aquatics). Apesar da prefeita da capital Francesa, Anne Hidalgo, ter nadado no Sena, na última semana provas e treinos do triatlo foram cancelados devido à poluição do rio.
Presente em nosso organismo de forma “inofensiva”, em grandes quantidades a bactéria pode representar riscos à saúde e se manifestar de diferentes formas. A E.coli tem transmissão oral-fecal, ou seja, entra no organismo a partir do contato com água contaminada por coliformes fecais – caso do contágio da atleta belga que nadou no Rio Sena – e também pelo consumo de alimentos como carne, ovos e leite, malcozidos.
— O nosso corpo é uma colônia, vivem no nosso corpo muitos vírus, fungos e bactérias, especialmente no intestino, em uma quantidade muito alta. Eles vivem em paz, em harmonia ali dentro. Por algum motivo existe uma quebra dessa harmonia ou essa bactéria, uma vez saindo do corpo de um (humano), entra em grande quantidade no corpo de outra pessoa ou ela produz uma toxina e aí passa a causar doença — explica Alessandro Pasqualotto, chefe o serviço de infectologia da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, que ainda salienta que as chuvas recentes podem ter favorecido o desenvolvimento da bactéria no Sena e atrapalhado o processo de despoluição recente da água.
A E.coli pode originar infecções urinárias, dores intestinais severas e quadros de diarreia com a presença de sangue. Em situações mais graves e raras, pode causar pneumonia, perda de função dos rins e representar risco de morte.
— Ela causa muitas doenças dependendo de por onde ela entra, o mais comum é que ela cause diarreia. Então, a pessoa, digamos, ela se alimenta de algo, uma comida ou água contaminada e desenvolve um quadro que pode ser brando, uma diarreia simples e que vai embora sozinha. Mas pode ser quadro de diarreia muito grave, com muita dor de barriga, com vômitos, com sangue nas fezes — explica.
Prevenção e tratamento
Os primeiros sintomas da contaminação surgem entre três e cinco dias após o contato com o germe. As infecções costumam durar cerca de 10 dias.
A administração de antibióticos durante o período de infecção auxilia a reduzir os sintomas e manifestações das infecções originadas pela E.coli. No entanto, a depender da severidade do caso, é necessário utilizar medicamentos de "mais espectro", destaco Pasqualotto.
— O problema é que essa bactéria, muitas vezes, se torna muito resistente, e aí pode precisar de antibióticos de espectro maior, mais recentes — diz.
Para prevenir a contaminação por E.coli, é recomendável evitar o contato rios e praias não liberados para banho, especialmente para nadar, pois aumenta a possibilidade do banhista engolir a água. Também indica-se consumir alimentos frescos e limpos, preparados dentro do tempo adequado de preparação.
*Produção: Lucas de Oliveira