Os períodos de frio que o Rio Grande do Sul enfrenta ao longo do inverno demandam cuidados e prevenção em relação à saúde, devido ao aumento de aglomerações, quadros virais e alterações da imunidade, alertam especialistas. Doenças como pneumonia costumam ter maior incidência neste clima – e os hospitais estão atentos a um possível aumento de casos.
Em Porto Alegre, o Hospital Moinhos de Vento registrou 431 altas de internações entre janeiro e julho (até o momento) deste ano, um aumento de 38% em relação ao mesmo período do ano passado (313). O maior número de casos, neste ano, é registrado entre pessoas acima de 80 anos. Maio teve a maior quantidade de altas: 96. Em 2023, foram 68 em julho, o pico do ano.
O Hospital Ernesto Dornelles destaca que a pneumonia é uma das causas relevantes de internação hospitalar, representando em torno de 20% dos casos admitidos no serviço de pneumologia. No entanto, não foi observada mudança significativa nas internações no hospital desde 2021, quando ainda era bastante frequente a pneumonia viral por covid-19.
A Secretaria Estadual da Saúde (SES) e a Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre (SMS) não discriminam registros por doença, como dados específicos de pneumonia, apenas doenças respiratórias como um todo. Os hospitais também enfrentam dificuldade para realizar os levantamentos em seus sistemas.
A pneumonia é uma infecção dos pulmões. Ela é provocada por um agente infeccioso, como bactérias, vírus, e, em casos mais raros, fungos (principalmente em imunocomprometidos), ou por um agente irritante (como suco gástrico, em caso de refluxo). É a maior causa de morte por doenças infecciosas no mundo, conforme a médica pneumologista Liana Corrêa, do Hospital São Lucas da PUCRS.
Sintomas
Os três principais sintomas de pneumonia, segundo os especialistas, são:
- Febre alta
- Tosse – podendo ser inicialmente seca e após produtiva, com catarro de cor escura, amarelada ou esverdeada, proveniente das vias aéreas inferiores
- Dor no tórax (geralmente pior ao respirar fundo, tipo “facada”, ou ao tossir) ou nas costas – localizada, e não difusa
- Prostração, fraqueza e dor no corpo também podem surgir
A médica alerta que as famílias devem estar atentas aos sintomas em crianças e idosos: estes últimos podem apresentar apenas alteração do estado mental (confusão mental, agitação ou sonolência), sem febre; e as crianças também podem ter sintomas inespecíficos, como prostração e inapetência.
Existe, ainda, um quadro de pneumonia por bactérias atípicas, que geram tosse seca persistente sem febre e outras queixas, denominado “walking pneumonia”. O diagnóstico exige diferenciação de quadros de tuberculose e rinite, explica Liana. Em casos de tosse persistente (mais de 15 dias), recomenda-se procurar um pneumologista.
O Hospital Moinhos de Vento percebeu, em junho e julho, o aumento de uma bactéria que causa pneumonia atípica, chamada Mycoplasma pneumoniae. Em junho, foram registrados 17 casos, sendo 16 em pacientes pediátricos. Em julho, até o dia 20, foram 12 diagnósticos, sendo 10 em pacientes pediátricos. De acordo com o chefe do Serviço de Infectologia, Alexandre Zavascki, o fenômeno já foi relatado após a covid na China, na Europa, nos Estados Unidos e, agora, parece estar chegando ao Brasil.
Transmissão
A transmissão da pneumonia acontece por inalação, após uma pessoa doente espirrar ou tossir, no caso de vírus (assim como na gripe e na covid, que, como outros, também podem causar pneumonia), explica Fábio Svartman, médico pneumologista do Hospital de Clínicas e e do Hospital Nossa Senhora da Conceição. A pneumonia viral costuma ter maior incidência no outono e no inverno (principalmente por influenza) e pode ter sintomas prévios de resfriado, como obstrução nasal, coriza, dor de garganta e/ou dor no corpo, que, ao invés de melhorar, levam a sintomas mais clássicos de pneumonia, como catarro e febre alta.
Já a pneumonia bacteriana normalmente é causada por bactérias que já fazem parte do organismo e, devido a um desequilíbrio imunológico, que pode acontecer por diversos fatores – inclusive por uma infecção viral inicial –, conseguem se proliferar e gerar uma reação inflamatória no pulmão. A pneumonia bacteriana é, muitas vezes, mais preocupante, segundo Svartman.
A doença também ocorre por micro e macroaspiração (como nos casos de vômito seguido de aspiração, de engasgo com comida ou de doenças neurológicas com distúrbios de deglutição – quando “vai para o buraco errado”); ou pelo sangue (quando uma infecção em outro órgão ou estrutura, por via hematogênica, chega ao pulmão), acrescenta Liana.
Os grupos de risco, que podem desenvolver quadros mais graves, incluem:
- Extremos de idade (crianças menores de cinco anos e idosos maiores de 60)
- Alcoolistas
- Tabagistas
- Pessoas com doença pulmonar obstrutiva crônica (conhecida como enfisema)
- Imunodeprimidos (pacientes transplantados e oncológicos)
Pessoas com comorbidades (doenças crônicas do pulmão, do fígado, cardiovasculares, diabetes, entre outras) têm maior predisposição a ter pneumonia e com maior gravidade, com grandes consequências principalmente no caso de pacientes mais idosos – o pneumologista alerta para a necessidade de seguir o tratamento adequado e constante para a comorbidade.
Prevenção
As formas mais importantes de prevenção são lavar as mãos, não fumar, evitar aglomerações e vacinar-se. A vacina contra gripe (disponível no SUS) e contra pneumonia (recomendada principalmente para pessoas com mais de 60 anos e disponível em alguns casos na rede pública) são fundamentais, conforme as recomendações do calendário vacinal. Svartman também recomenda as vacinas contra covid-19 (no SUS) e contra o vírus sincicial respiratório (na rede privada, e de uso mais restrito, mas que pode prevenir complicações em idosos e portadores de doenças crônicas graves).
— Mesmo não sendo capazes de prevenir todos os casos de pneumonia, podem evitar as formas mais graves e, consequentemente, a mortalidade da doença — frisa Liana.
Tratamento
— O início do tratamento de forma precoce pode diminuir bastante as chances de complicação que o paciente pode ter da pneumonia — informa Svartman.
Recomenda-se que pacientes idosos procurem atendimento prontamente no sistema de saúde, pois podem sofrer danos renais. É importante manter boa hidratação e alimentação. No caso de pneumonias bacterianas, o tratamento é feito com antibióticos. Nas virais, pode ser realizado um tratamento específico, caso seja possível identificar o agente (como no caso da influenza), mas, na maioria dos casos, é feito com base nos sintomas, aponta Liana.
Caso haja sintomas, é importante procurar assistência médica para realizar a distinção de diagnóstico em relação a outros quadros, indicam os especialistas. Em caso de dificuldade de respiração, alteração do nível de consciência (sobretudo nos extremos de idade), dificuldade para se alimentar ou febre alta persistente, recomenda-se procurar um hospital.
As complicações da pneumonia incluem insuficiência respiratória, abscesso (formação de pus no pulmão) ou empiema (formação de pus na pleura) e infecção generalizada, conforme a médica do Hospital São Lucas. O especialista do Hospital de Clínicas lembra que a pneumonia grave ou a demora para iniciar o tratamento podem ocasionar quadros críticos e até mesmo a morte. Pode haver necessidade de dreno ou tratamento cirúrgico, de oxigênio, disfunção e comprometimento de outros órgãos, necessidade de transferência para a unidade de terapia intensiva (UTI) ou de ventilação mecânica.