Pesquisadores do Observatório de Clima e Saúde do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde da Fiocruz (Icict/Fiocruz) alertam, em nota técnica, divulgada nesta sexta-feira (14), para o aumento da incidência de doenças respiratórias, gastrointestinais e transmitidas por vetores entre a população do Rio Grande do Sul. Questões de saúde mental entre atingidos, trabalhadores de linha de frente e voluntários também é motivo de preocupação.
É orientado atenção contra enfermidades como leptospirose, covid-19, gripes, resfriados, tuberculose, hepatite A, diarreia infecciosa e dengue. Outro perigo deste momento pós-enchentes é o maior número de acidentes com animais peçonhentos, que podem aparecer dentro das casas com a baixa das águas.
— Com a subida do nível das águas podem ocorrer mais acidentes com aranhas e serpentes, assim como aumenta o risco da transmissão de doenças transmitidas por água contaminada e vetores, como leptospirose, diarreias e dengue. Essas doenças estão mais concentradas no verão, mas podem se estender nos próximos meses devido às alterações do ambiente original causadas pela chuva intensa e enchentes", explica o pesquisador do Observatório de Clima e Saúde, Diego Xavier.
Segundo Christovam Barcellos, também pesquisador do Observatório, a sobreposição desses riscos, de diferentes doenças, nas mesmas áreas e no mesmo período, "exige do sistema de saúde maior capacidade de realizar diagnósticos diferenciais e de identificar os casos mais graves, que precisarão de internação hospitalar ou tratamento especializado”.
Saúde mental e doenças crônicas
Os pesquisadores chamam a atenção para outra questão importante nessa etapa da tragédia: a saúde mental dos desabrigados, dos profissionais e dos voluntários que estão trabalhando na emergência. As perdas materiais e/ou de parentes e amigos podem causar aumento de casos de transtorno de estresse pós-traumático, depressão e ansiedade.
De acordo com estudo, as doenças crônicas, como diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares e transtornos mentais podem se descompensar devido à interrupção do acesso a medicamentos e cuidados médicos contínuos.
A nota técnica ressalta, ainda, que existem 1.518 estabelecimentos potencialmente poluidores dentro da área que foi inundada. São indústrias, terminais de transporte, obras civis, estabelecimentos comerciais e depósitos que, invadidos pela enchente, podem expor a população a substâncias tóxicas nos meses posteriores ao desastre.
— Para diminuir os riscos para a população, é importante que o sistema de saúde implemente iniciativas de cuidado coletivas, como campanhas de vacinação, fornecimento de água potável e de instalações sanitárias adequadas nos abrigos, o controle de vetores, o acesso contínuo a medicamentos e cuidados médicos para os doentes crônicos, além de serviços de apoio à saúde mental da população e das pessoas que estão trabalhando na emergência — afirma Diego Xavier.