O Brasil acaba de completar dois anos sem casos autóctones - contraídos em território nacional - de sarampo. Conforme o Ministério da Saúde, o último registro data de 5 de junho de 2022, confirmado no Amapá. Além deste, na época também foram notificados pacientes do Rio de Janeiro, São Paulo e Pará. Com os 24 meses sem novas ocorrências locais, o país busca a certificação que comprova estar livre da doença.
No Rio Grande do Sul, são quatro anos sem confirmações autóctones. Os últimos casos foram em abril de 2020, de acordo com a Secretaria Estadual da Saúde (SES). Naquele período, o Estado contabilizou 37 pacientes relacionados a um surto de 2019. Destes, seis de Porto Alegre. Porém, em janeiro de 2024, o RS confirmou um novo caso importado. Tratava-se de um paciente de três anos, não vacinado, que havia retornado do Paquistão.
O Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs) emitiu um alerta e reforçou a necessidade de atenção ao esquema vacinal, que é o principal método de proteção contra o sarampo.
— Foi feito todo o fluxo de bloqueio, com vacinação naquele momento, para evitar que a gente tivesse um aumento no número de casos, sobretudo aqueles adquiridos dentro do Estado — explica o supervisor médico do Controle de Infecção e Infectologia Pediátrica da Santa Casa de Porto Alegre, Fabrizio Motta.
Com o controle, não foram notificados casos secundários ou uma cadeia de transmissão associada. Por medidas como essas, o Brasil agora pleiteia a recertificação de país livre da circulação do sarampo. O selo havia sido concedido em 2016, mas o país foi de um extremo a outro, com uma explosão de casos em 2019 – mais de 20 mil registros e o vírus circulando ao longo de todo o ano.
É a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) que concede a chancela de eliminação do sarampo. Segundo a especialista em saúde da vigilância Epidemiológica do Cevs, Lara Villanova Crescente, no fim do ano passado o status passou para pendente na avaliação.
— Mas é importante destacarmos que em 2024 estamos vivendo um aumento de mais de 94% nos casos de sarampo a nível mundial. A Organização Mundial de Saúde (OMS) emitiu um alerta epidemiológico em 3 de junho, acenando para a ampla circulação. A Europa está com um grande número de confirmações, além de países como Argentina, Bolívia, Peru, México, entre outros — lista.
Vacinação disponível nos postos
Com a globalização e a circulação de pessoas atravessando os continentes, a recomendação expressa é pela vacinação. A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Porto Alegre destaca que a vacina aplicada para imunizar contra o sarampo é a tríplice viral (que previne contra sarampo, caxumba e rubéola). Conforme a SMS, doses estão disponíveis em todos os postos em funcionamento na Capital. Das 134 unidades de saúde, 120 estão abertas e 14 fechadas em função da enchente.
O imunizante é fornecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em um esquema vacinal de duas doses: a primeira aos 12 meses de idade, com reforço aos 15 meses. Em um adulto de até 29 anos, a orientação é de duas doses da tríplice viral para a proteção e, para quem tem até 59 anos, indica-se uma dose ou ter a confirmação de sarampo na infância, que também confere a imunidade.
Para que população esteja imune e o vírus não circule, a preconização é de 95% de cobertura vacinal nas duas doses. Os dados atuais do painel do Ministério da Saúde apontam para uma cobertura de 98% da tríplice viral na primeira dose e de 76,2% na segunda no Rio Grande do Sul no ano de 2024. Em 2023, os níveis ficaram em 94,1% na primeira aplicação e 68,49% na segunda.
Atenção aos sintomas
Fabrizio Motta explica que o sarampo é uma doença que provoca manchas avermelhadas na pele. Elas iniciam na região da cabeça e depois seguem para o resto do corpo. Concomitantemente, o paciente costuma apresentar febre, tosse, coriza e/ou conjuntivite.
— Assim como a vacinação, outra forma importante de prevenir é a suspeita clínica forte dos médicos, principalmente nas pessoas que vêm de fora e que não são vacinadas. Como muitas crianças têm as duas doses, é necessário avaliar a exposição, se o paciente viajou ou teve contato com algum caso suspeito ou confirmado. Também podem ocorrer outras doenças com esses sintomas — descreve o profissional.
A orientação é para que a carteira de vacinação seja sempre atualizada, com destaque para as situações de viagem programada.