O Rio Grande do Sul superou, nesta quarta-feira (24), a marca de cem óbitos pela dengue em 2024, alcançando 102 vítimas. O número de casos, por sua vez, passa de 82 mil este ano, sendo quase 70 mil contraídos dentro do próprio território do Estado. Até então, o registro recorde de mortes pertencia ao ano de 2022, com 66. Em 2023, foram verificados menos de 39 mil casos, somando os 12 meses.
Os últimos registros de morte são de uma mulher de 76 anos, de Rolante, um homem de 40 anos, de Santa Rosa, uma mulher de 49 anos, de Frederico Westphalen, um homem de 79 anos de Tapera e uma mulher de 89 anos de Alvorada. Segundo a Secretaria de Saúde do RS, o Estado tem 466 municípios infestados por dengue, sendo as faixas etárias entre 20 e 49 anos as mais afetadas. Já entre os registros de óbito, a maior incidência ocorre entre pessoas com mais de 60 anos.
Segundo o diretor adjunto do Centro Estadual de Vigilância Sanitária, Marcelo Vallandro, há uma maior vulnerabilidade nesta epidemia da doença.
— Chama bastante atenção nos óbitos do Rio Grande do Sul um grande número de idosos, que já são pessoas mais vulneráveis, e que, então, quando cursam com uma doença dessas, com o tipo da doença que a dengue é, têm uma resposta imunológica e fisiológica mais difícil — ressalta.
Na última segunda-feira, a prefeitura de Porto Alegre decretou situação de emergência em saúde pública, após a confirmação da segunda morte por dengue no município em 2024. Parte do cenário se explica a partir do fenômeno El Niño e pelas mudanças climáticas. Trata-se de uma combinação de chuvas intensas, que criam reservatórios artificiais de água, e temperatura elevada, que aceleram o desenvolvimento de todas as fases do mosquito.
Além disso, há regiões em que a falta de água causada por variações climáticas obrigou acúmulo em reservatórios, o que facilitou o desenvolvimento de larvas do mosquito. O Aedes aegypti se reproduz em temperaturas entre 18°C e 33°C , sendo que a faixa ideal para manter a transmissão do vírus é entre 21°C e 30°C. O diretor adjunto da Vigilância Sanitária alerta para a necessidade de atenção mesmo em tempos de temperatura mais baixa:
— Não adianta baixarmos a guarda agora quando começar a diminuir os casos no inverno, mas, depois, todos esses criadouros, esses ovos que foram depositados, quando o tempo melhorar eles, eles eclodem e voltam a causar o problema da doença — destaca.
Para que se caracterize dengue, é necessário que exista um conjunto de sintomas comuns, muitas vezes confundidos com outras doenças. Entre os sinais clássicos estão febre alta (39°C a 40°C), com duração de dois a sete dias, dor atrás dos olhos, dor de cabeça, dor no corpo, dor nas articulações, mal-estar geral, náusea, vômito, diarreia e manchas vermelhas na pele, com ou sem coceira.
Vallandro, do CEVS, recomenda a hidratação como uma das primeiras medidas diante do diagnóstico:
— Uma pessoa que tem uma boa hidratação lá no início da doença tem uma possibilidade de um curso da doença muito mais favorável. Algumas pessoas, mesmo assim, vão precisar de uma hidratação venosa, colocando o soro na veia do paciente. A hidratação é fundamental desde o início.
Para identificar a gravidade de um caso de dengue, GZH criou um simulador. Basta marcar os sintomas presentes e verificar a classificação de risco para a doença. A Secretaria da Saúde orienta a população a procurar atendimento médico logo nos primeiros sintomas.
A vacina contra a dengue, que está disponível apenas para crianças e adolescentes de até 14 anos não chegou ao RS. Segundo o Ministério da Saúde, foram compradas 5,2 milhões de vacinas neste ano. Os municípios foram escolhidos para receber os primeiros lotes das vacinas por estarem localizados em áreas de com alta incidência da dengue tipo 2 (Sorotipo 2), que provoca infecção mais grave da doença, deixando o Estado de fora dos critérios estabelecidos. O governo gaúcho pede inclusão no cronograma do recebimento dos imunizantes.
Marcelo Vallandro, do CEVS, não acredita, no entanto, que as vacinas possam solucionar o problema.
— Estamos aguardando posicionamento, mas igual se vier serão muito poucas doses e infelizmente não são aprovadas para nosso público de maior risco os idosos — defende.