A abertura de novos leitos e a contratação de profissionais integram a estratégia da prefeitura de Porto Alegre para enfrentar o aumento de atendimentos pediátricos esperado para os próximos meses. O investimento será feito por meio da Operação Inverno, que começa em junho e segue até setembro.
Conforme o dashboard da prefeitura, as emergências pediátricas dos hospitais da Capital operavam com 131% da capacidade na tarde desta quinta-feira (18): havia 83 crianças no setor que comporta 63 leitos, além de 17 à espera de assistência.
O Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) é a emergência com maior lotação no dia. Na atualização da tarde, havia 17 pacientes em um espaço de nove leitos – ou 188% da capacidade. Na semana passada, a situação foi pior, ao chegar a 400%.
— As infecções virais costumavam ser mais comuns em maio e junho, mas, depois da pandemia, elas têm aparecido mais cedo, em março, abril e até em pleno verão. Neste mês, nossa lotação tem sido em média de 150% dos leitos na maioria dos dias. Isso quer dizer que as crianças são colocadas em berços no meio do corredor, o que não é o ideal — afirma Paulo José Maróstica, coordenador de Áreas Pediátricas do Clínicas.
Segundo o médico, infecções virais são as que causam mais internações na emergência do centro de saúde – influenza e o vírus sincicial respiratório (VSR) são os mais frequentes. Segundo Maróstica, a situação preocupa os profissionais do hospital por conta do aumento de pacientes esperado nos períodos mais frios do ano.
— Estamos com todas as áreas pediátricas ocupadas. O Clínicas aumentou o número de leitos neste ano, em uma tratativa com o gestor municipal, o que libera algumas crianças que usavam os leitos clínicos, mas não conseguimos (atender pacientes) acima disso. Esse aumento de leitos não é suficiente para atender toda a demanda— acrescenta.
Mais leitos e profissionais
O aumento da demanda esperado para os próximos meses motivará investimento na compra de leitos pediátricos e contratação de profissionais por meio da Operação Inverno. Segundo a prefeitura, serão abertos mais 70 leitos clínicos, com investimento de R$ 2,9 milhões. Também haverá mais 10 leitos de UTI pediátrica, ao custo de R$ 850 mil. A expansão da rede será até o fim do inverno.
— Os editais preveem que a demonstração de interesse (dos hospitais) seja feita até 30 de abril. Em maio começamos a avaliação documental e as adesões. Então, a ideia é que os novos leitos comecem a funcionar em junho, por um período de quatro meses. No entanto, podemos antecipar essa compra se houver aumento de volume de pacientes. No momento, estamos observando que a demanda da pediatria não está saturada — diz Paulo Bobek, coordenador municipal de urgências.
A prefeitura também contratará profissionais na Operação Inverno: 23 auxiliares de farmácia, 74 técnicos em enfermagem, 29 enfermeiros, quatro biomédicos, oito farmacêuticos, dois técnicos em laboratório e análises clínicas e oito médicos especialistas, por tempo determinado.
O recurso para contratação durante quatro meses será de R$ 4,8 milhões. Os contratos podem ser prorrogados por mais 60 dias, o que elevaria o investimento para R$ 7,6 milhões. A escolha dos profissionais está em andamento, segundo Bobek:
— As contratações vão servir tanto para a atenção primária quanto para as unidades de saúde, que dão suporte para as emergências da cidade. Vamos reforçar a quantidade de servidores no pronto-atendimento da Cruzeiro e também no HPS. A ideia é expandir o horário de atendimento nos postos.
Sindicato diz que investimento é paliativo
Um levantamento divulgado pelo Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) em março indica que a quantidade de leitos privados de pediatria na Capital aumentou 7% entre 2019 e 2023 – de 494 para 531. Já os leitos do SUS aumentaram em 11%, de 376 para 416, no mesmo período.
Houve, porém, queda no número de UTIs para crianças na Capital: quase 16%, de 135 leitos de complexidade para 114. A redução no SUS foi de 20%. Em 2019, Porto Alegre tinha 105 leitos de UTI públicos; em 2023, eram 84. Para a entidade, a Capital não está preparada para enfrentar a demanda por atendimentos.
— Temos um impacto sazonal quando nos aproximamos do inverno. É nessa época que se acentuam as dificuldades na rede: fica claro que temos um déficit de leitos, de UTIs pediátricas e UTIs neonatais — pontua Fernando Uberti, vice-presidente do Simers.
O médico define como paliativa a movimentação feita pela prefeitura de Porto Alegre, no enfrentamento ao aumento da demanda no período mais frio do ano.
— Isso pode atenuar um pouco o impacto da sazonalidade do inverno, mas precisamos de uma expansão da rede de leitos de pediatria. Temos visto uma dificuldade em relação ao número de leitos quando deveríamos ter uma expansão da rede no Estado. Há quantidade suficiente de pediatras, mas não temos uma política pública para fixá-los no Interior. A soma desses fatores faz com que pacientes sejam encaminhados para Porto Alegre, o que sobrecarrega ainda mais o sistema na Região Metropolitana.