A Emergência Pediátrica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre opera com mais de 400% da capacidade nesta quinta-feira (11). Segundo a Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre (SMS), às 13h havia 40 crianças para apenas nove vagas disponíveis no local.
Às 9h57min, 46% dos casos do Hospital de Clínicas eram de crianças que vieram de outras cidades, principalmente Viamão, Alvorada, Canoas e Gravataí. Às 13h desta quinta, a proporção era de 20 da Capital e 20 de outras localidades, ou seja, metade dos pacientes não reside em Porto Alegre.
Na tarde desta quarta-feira (10), a ocupação havia chegado a 388% da capacidade da unidade. As crianças foram remanejadas em corredores, onde recebem assistência médica.
O sistema de regulação vai tentar transferir os pacientes pediátricos do Clínicas para outros hospitais com menor ocupação. A diretora geral da Secretaria Municipal de Saúde, Fernanda Fernandes, espera que essa medida faça com que a emergência do seja desafogada até o final desta semana.
— As crianças têm uma recuperação muito mais rápida que os adultos, de forma genérica. Então talvez a gente já consiga ver uma diminuição na demanda de pacientes da emergência ali pro final de semana — prevê.
A diretora analisa que a situação é pontual e não tem relação direta com doenças respiratórias, que acabam gerando maior procura quando começa a queda de temperatura. A SMS aponta que 28% dos casos atendidos por volta das 13h eram deste tipo.
— Não tem um motivo específico, porque é muito localizado, não é em todas as emergências. Embora as outras estejam com uma ocupação um pouquinho acima da média na pediatria, a gente também tem a questão da dengue que é excepcional nesse ano — salienta.
A diretora explica que há uma retração nos leitos de pediatria ao longo dos anos, porque houve uma redução na taxa de natalidade, ou seja, as pessoas estão tendo menos filhos em relação a outras épocas, como na década de 1980. Outro fator, de acordo com ela, é a eliminação de sequelas de doenças como sarampo e meningite pela ampliação da vacinação e dos avanços em saúde pública.
— A gente vai começar a ter uma demanda expressiva e que realmente lota os hospitais que têm pediatria a partir do mês de junho, no inverno — complementa Fernanda, que adianta que já há um edital publicado para ampliação de leitos durante o período de frio.
A Chefe do Serviço de Emergência e Medicina Intensiva Pediátrica do Hospital de Clínicas, professora Patrícia Lago, diz que a instituição observa o inicio da manifestação de doenças respiratórias, além de casos de dengue e de crianças vindas de outros hospitais, somados às de outras doenças que precisam de acompanhamento, como oncologia.
— Nossos pacientes estão sendo atendidos, porém numa situação bem difícil porque a unidade não é preparada para esse número cada vez maior de crianças — destaca.
A professora orienta que as famílias só procurem as emergências dos grandes hospitais em situações mais graves, como de febre persistente há mais de cinco dias ou acima de 39 graus, e em casos em que a criança está mais abatida e com dificuldade para respirar. Se a temperatura não estiver tão alta e o pequeno estiver ativo e brincando, o melhor é buscar um pediatra, unidade básica de saúde ou até os pronto-atendimentos, que não estão tão sobrecarregados.
— A grande maioria vem por demanda espontânea. Na verdade, essas crianças deveriam vir referenciadas de unidades básicas de saúde, mas estão com dificuldade e acabam vindo — constata.
Acompanhando o cenário, o coordenador do Núcleo de Pediatria do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), Daniel Sauer Wolff, acrescenta como fatores para a alta demanda o fechamento de emergências pediátricas como a do Hospital São Lucas da PUCRS e do Hospital Santo Antônio (que hoje não é portas abertas e atende apenas por encaminhamento), além da troca de gestão em hospitais de Alvorada e Cachoeirinha.
O especialista também vê como um problema não haver mais pediatras em unidades básicas de saúde, uma mudança que vem em âmbito federal, pelo Ministério da Saúde.
— Precisamos do pediatra para que não impacte nas emergências — defende.
Para Wolff, ter um médico especializado melhoraria o diagnóstico, evitando encaminhamentos desnecessários para emergências. A diretora da Secretaria Municipal da Saúde argumenta que a mudança está relacionada à melhora de dados da mortalidade infantil ao longo das décadas, fazendo uma alteração na política pública.