Ameaça crescente não apenas no Rio Grande do Sul, como em todo país, a dengue tem batido recordes de contágio em 2024 — já são mais 1,3 milhão de casos prováveis, conforme o Ministério da Saúde. O número de mortes confirmadas pela doença é de 343 e outras 775 estão em investigação no Brasil. No Rio Grande do Sul, são 14.255 casos já identificados e 15 óbitos, sendo o mais recente confirmado nesta quinta-feira (7), um homem de 33 anos, morador de Araricá.
No norte do RS, a morte da jovem Nathália Busatto, de 26 anos, também fez a população se questionar por que a dengue é capaz de vitimar pessoas jovens e sem doenças pré-existentes.
Na avaliação do médico infectologista e diretor técnico do Hospital São Lucas, Fabiano Ramos, que coordena a pesquisa do Instituto Butantan para a vacina contra a dengue no RS, a morte de jovens tende a ser multifatorial:
— Do atraso no diagnóstico e o manejo clínico inadequado ou tardio e até fatores genéticos que podem estar envolvidos em vários outros tipos de infeções e quadros mais graves.
Ramos, no entanto, destaca que a reinfecção pelo vírus da dengue por sorotipos distintos é o que agrava o quadro clínico, mesmo que seja possível óbito em pessoa sem um contato anterior com o Aedes aegypti. No Brasil, há quatro sorotipos de dengue identificados e, no RS, dois estão em circulação. Não há confirmação, até o momento, de que os dois jovens gaúchos que morreram devido à dengue tenham tido infecções anteriores pelo vírus.
— Normalmente, o caso mais grave de dengue vai acontecer no segundo episódio da doença, mesmo que a pessoa na primeira vez não tenha apresentado sintomas. O fato de circular mais de um tipo de vírus, obviamente, aumenta o risco de acontecer doenças graves — aponta Ramos.
Segundo o médico, pessoas que tiveram mais de um contato com o mesmo tipo de vírus, vão estar imunes. No entanto, se for um caso de contaminação e reinfecção por tipos diferentes, o paciente não está protegido e fica suscetível a quadros graves pela infecção prévia.
— Caso tenha o tipo 1 e o tipo 2 circulando, a esse segundo vírus a pessoa não está protegida e ainda acaba estando mais suscetível a quadros graves pela infecção prévia.
Ramos explica que esse tipo de caso fica mais evidente em períodos de maior circulação do vírus. Como há mais de um tipo do vírus no Estado — por enquanto, os sorotipos 1 e 2 da doença — o risco de uma contaminação mais grave aumenta.
— Às vezes, a infecção não apresentou sintomas e a pessoa nem sabe que foi exposta ao vírus da dengue. Isso fica mais comum em períodos de epidemia, ou quando a doença continua na região. Casos leves ou assintomáticos ficam mais frequentes e sem diagnostico — afirma Ramos.
Sorotipos de dengue
Denv-1
Na epidemia de 1986, identificou-se a ocorrência da circulação do sorotipo Denv-1, inicialmente no Estado do Rio de Janeiro, se disseminando, a seguir, para outros seis Estados até 1990.
Denv-2
Em 1990, foi identificada a circulação de um novo sorotipo, o Denv-2, também no Estado do Rio de Janeiro. Durante a década de 1990, ocorreu um aumento significativo da incidência, reflexo da ampla dispersão do Aedes aegypti no território nacional.
Denv-3
A circulação do sorotipo 3 foi identificada, pela primeira vez, em dezembro de 2000, também no Estado do Rio de Janeiro e, posteriormente, em Roraima, já em novembro de 2001. Em 2002, foi observada a maior incidência da doença, quando foram confirmados cerca de 697 mil casos.
Denv-4
O vírus da dengue tipo 4 foi identificado em casos isolados e restritos na região Norte em 1981, mas, depois de 2010, passou a ser identificado em outras partes do Brasil.
Denv-5
Um quinto sorotipo foi estudado, isolado de uma amostra de um caso grave, descoberto na Malásia, no continente asiático, em 2007. Até o momento, não foi identificado nenhum caso no Brasil.
Vítimas da dengue no RS em 2024
- Tenente Portela - mulher 71 anos
- Santa Cruz do Sul - homem 65 anos
- Santa Rosa - mulher 71 anos
- Tenente Portela - mulher 64 anos
- Tenente Portela - mulher 75 anos
- Cruz Alta - homem 63 anos
- Lajeado - homem 76 anos
- Frederico Westphalen - homem 79 anos
- Canoas - homem 59 anos
- Novo Hamburgo - homem 69 anos
- Independência - mulher 71 anos
- Cerro Largo - mulher 67 anos
- Frederico Westphalen - mulher 26 anos
- Giruá - homem 72 anos
- Araricá - homem 33 anos
O Ministério da Saúde (MS) informou que quatro tipos do vírus já foram registrados no país este ano. No entanto, a pasta ainda não trata o crescimento do número de casos como uma epidemia.
Até o momento, sete Estados brasileiros e o Distrito Federal decretaram emergência devido à epidemia por dengue. Entre eles, estão o Acre, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina. No começo de fevereiro, a secretária estadual da Saúde (SES), Arita Bergman, admitiu que o Rio Grande do Sul vive uma epidemia, com infestação do mosquito em mais de 90% dos municípios.
O governo do Rio Grande do Sul confirmou nesta quinta-feira (7) a antecipação do repasse de R$ 13,8 milhões a todos os municípios do Estado. A ação estava prevista inicialmente para ocorrer no dia 15 deste mês e tem como objetivo reforçar as ações no combate à dengue e outras arboviroses, como a zika e a chikungunya.
Principais sintomas (em qualquer sorotipo):
- Febre alta acima de 39°C
- Dor no corpo e articulações
- Dor "atrás dos olhos"
- Falta de apetite
- Dor de cabeça
- Manchas vermelhas no corpo
- Aumento progressivo na proporção de hemácias no sangue