Você já teve catapora na infância ou adolescência? Para quem já desenvolveu uma das doenças, é importante ter atenção e manter hábitos saudáveis para fortalecer o sistema imunológico e prevenir o desenvolvimento de herpes zoster, que é causada pelo vírus Varicela-Zoster (VVZ), o mesmo da catapora.
Após o quadro de catapora, o vírus permanece no corpo, “adormecido nas raízes nervosas”. A herpes zoster é uma nova forma de manifestação do VVZ, que reaparece em situações de baixa nos níveis de defesa do sistema imunológico.
— Normalmente, as pessoas se infectam na infância ou adolescência e resulta na catapora. Nós resolvemos a catapora, mas o vírus fica latente por toda a vida. Com o passar dos anos, a imunidade da pessoa começa a baixar, naturalmente. Por isso, a idade é o fator de risco mais importante, aí esse vírus que estava na raiz nervosa volta a ficar ativo — explica o doutor Diego Falci, infectologista do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e professor da Escola de Medicina da PUCRS.
No Brasil, não há exatidão com relação aos números sobre a atuação do herpes zóster na população. De acordo com dados do Ministério da Saúde, entre 2006 e 2016 o número de internações pela doença no Sistema Único de Saúde (SUS) variou entre 4.200 e 12.600 por ano. No mesmo período, foram registrados 649 óbitos pelo vírus.
Falci destaca que o índice de mortalidade causado diretamente pela doença é “quase nulo”, mas alerta que o vírus pode desencadear outras condições e doenças que podem levar ao óbito. Conforme o especialista, a dor neuropática é uma das complicações mais comuns e graves do vírus.
— Como é uma doença que vem do sistema nervoso, ela naturalmente causa dor durante a infecção. A principal complicação é a dor neuropática, quando o paciente resolve a herpes zóster, mas permanece com a dor por meses e semanas. Em um idoso, por exemplo, isso pode acarretar em tomar diversos remédios para tratar a dor, ocasionando novos problemas.
Fatores de risco e sinais
Na prática, além da dor em regiões de inervação específica, a herpes zóster se manifesta a partir de feridas bem características na pele. As áreas mais afetadas costumam ser a região das costas, a cervical e a barriga. Abaixo, confira os aspectos das feridas:
- Vermelhidão na pele
- Crescimento de pequenas “bolinhas” — cientificamente chamadas de vesículas — com água
- Inflamação na região
- Formação de uma crosta no local, após o rompimento das vesículas
— Não se deve ficar tocando a mão no local. Isso aumenta o risco de contaminar a lesão com alguma bactéria e ocasionar uma superinfecção. Essas feridas podem gerar, ainda, a possibilidade de transmissão para pessoas que, por acaso, não tiveram catapora ainda ou estão vulneráveis a infecção — orienta Falci.
O infectologista ainda ressalta que os primeiros sintomas, antes do aparecimento das “bolinhas”, podem ser as dores nevrálgicas — a partir dos nervos — e destaca que alguns pacientes podem apresentar febre baixa, ardência e coceira nas regiões afetadas, além de fraqueza.
Sendo uma doença que se manifesta a partir de momentos de fragilidade no sistema imunológico, pessoas com 50 anos ou mais, imunossuprimidos e pessoas em tratamento de algum câncer estão mais suscetíveis a desenvolver o herpes zoster, inclusive com casos mais graves e complicações.
Diagnóstico e tratamento
É fundamental que o paciente procure ajuda médica nas primeiras 72h após o aparecimento de alguma lesão na pele, pontua Falci. O diagnóstico precoce possibilita um tratamento mais oportuno e que reduz as chances de agravamento da doença e complicações.
— O diagnóstico é clínico, a lesão é bem característica. Raramente, em casos de dúvida, podem ser realizados exames complementares, como biópsia da ferida. Quanto antes for diagnosticado, menores os riscos de desenvolver alguma complicação.
O tratamento, de modo geral, é baseado na prescrição de antivirais para uso oral. Em casos graves ou com complicações, pode ser necessária a internação do paciente para administração de medicação intravenosa.
Atualmente, há duas vacinas disponíveis para prevenir casos de herpes zóster. Uma delas, segundo Falci, com vírus vivo atenuado, apresenta contraindicações para os grupos de risco e não é tão eficaz. No entanto, há uma nova vacina, feita à base de proteínas do vírus, que tem apontado bons resultados
— É bastante segura, indicada especialmente para pessoas acima de 50 anos ou imunossuprimidos. É relativamente nova no Brasil, ainda não está disponível no SUS, apenas em redes privadas — comenta.
Como forma de prevenir quadros futuros de herpes zoster, o infectologista destaca também o reforço do sistema imunológico, através de atividades físicas e alimentação saudável.
*Produção: Lucas de Oliveira