Classificado como um tumor maligno que afeta as estruturas da boca, como lábios, língua, gengiva, assoalho de boca e palato, o câncer bucal é o quinto que mais acomete pessoas do sexo masculino no Brasil e o oitavo em maior mortalidade nesse mesmo grupo, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA). Na maioria dos casos, a condição é originária de carcinomas, tumores formados em células da pele.
— O câncer de boca compreende toda as neoplasias que são localizadas na cavidade oral. O carcinoma, tecnicamente falando, é uma neoplasia que vem da pele ou dos tecidos que recobrem os órgãos. Ele vem de uma agressão à célula, então aquela célula, aquele tecido que sofreu esta agressão, alguma mutação, ele pode sim desenvolver um carcinoma. A célula começa a se dividir de uma maneira errada e pode se desenvolver ali o carcinoma — explica a doutora Fernanda Pruski, oncologista do Centro de Oncologia do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e do Grupo Oncoclínicas.
Dados do Atlas da Mortalidade por Câncer (SIM), apontam que 6.338 pessoas morreram em decorrência do tumor no Brasil em 2021. Das vítimas, 4.878 eram homens, o que representa 76,96% do total de mortes.
Para o doutor Cláurio Roncuni, cirurgião de cabeça e pescoço do Hospital São Lucas da PUCRS e do Grupo Oncoclínicas, pessoas do sexo masculino são mais afetadas porque “possuem uma carga tabágica maior em relação sexo feminino”. Fumar é o principal fator de desenvolvimento de câncer de boca.
Fatores de risco e sinais
Feridas na cavidade oral que não cicatrizam por mais de 15 dias são os primeiros sinais de alerta. Sangramento, nódulos no pescoço e manchas vermelhas e/ou brancas também são alguns sintomas a serem observados. Em caso de algum destes sintomas, é necessária uma avaliação com um dentista estomatologista e um cirurgião de cabeça e pescoço.
— O mais importante é verificar a duração dessa lesão. Se ela não regride em duas semanas e aumenta, é indicado investigação. É muito importante o exame físico minucioso, uma biópsia retirando um pedaço desta lesão e mandando para análise na patologia — explica a oncologista Fernanda Pruski.
O tabagismo e o consumo excessivo de álcool são os principais fatores que aumentam o risco de desenvolver o câncer de boca. Além deles, há outros fatores que elevam as chances de desenvolver o tumor:
- Má higiene bucal;
- trauma por próteses dentárias mal ajustadas;
- consumo com frequência de líquidos em altíssimas temperaturas;
- exposição dos lábios ao sol, sem proteção;
- infecção pelo vírus do papiloma humano (HPV).
— Existem alguns raros casos nos quais uma pessoa, sem fatores de risco, pode apresentar o câncer de boca por mutações genéticas — acrescenta o doutor Roncuni.
Cirurgia e tratamento
Se diagnosticado em estágio inicial, o paciente tem 90% de chances de cura, destaca Pruski. Na maioria dos casos de câncer de boca há necessidade de cirurgia.
— O tratamento é cirúrgico, em processo realizado pelo cirurgião de cabeça e pescoço. Quando o tumor é inicial, há casos em que a cirurgia pode ser feita até mesmo com anestesia local, dependendo da região afetada. Em casos mais avançados, necessita-se abordar cirurgicamente os linfonodos do pescoço, uma vez que esse é o principal sítio de metástase desse tipo de câncer. Infelizmente, o câncer de boca ainda é tardiamente diagnosticado no Brasil, gerando cirurgias extensas e até mesmo mutiladoras, nas quais necessita-se de procedimentos reparadores no mesmo tempo cirúrgico, para que o paciente consiga ter uma fonação e deglutição adequadas, após o tratamento - explica Roncuni.
Após a cirurgia, o paciente ainda segue em acompanhamento com o cirurgião de cabeça e pescoço, realizando exames físicos. Em casos mais avançados da doença, o paciente também seguirá com acompanhamento multidisciplinar composto por médicos oncologistas e radioterapeutas, além de fonoaudiólogos, odontologistas e nutricionistas.
— Pacientes com câncer de boca têm risco aumentado do desenvolvimento de câncer de laringe e de garganta (orofaringe), além de também possuir chances de um novo câncer na cavidade oral. Por isso, o acompanhamento oncológico segue por um período de cinco a 10 anos — comenta Roncuni.
Em alguns casos, mesmo após a cirurgia há necessidade de um tratamento complementar com radioterapia e quimioterapia. Nestes procedimentos, o paciente fica exposto a novos riscos, como queimaduras e baixa imunidade.
— A radioterapia é um tratamento localizado, feito com radiação no local da lesão. Tem efeitos locais e fica como se fosse uma queimadura, então, a gente tem que cuidar muito os efeitos tóxicos, como mucosite, a inflamação da mucosa, queimadura da pele. A boca seca é um efeito bem comum também da radioterapia, enquanto a quimioterapia causa cansaço, náuseas, redução da imunidade, diarreia — explica Pruski.
O diagnóstico ocorre a partir da suspeita clínica e da avaliação do profissional adequado. A avaliação através do exame físico e o histórico do paciente, associado a biópsia e aos exames de imagem são fatores determinantes.
Cabe salientar que o Maio Vermelho é o mês escolhido para conscientização e combate ao câncer de boca no Brasil.
*Produção: Lucas de Oliveira