Mesmo sendo a neoplasia que mais mata mulheres no Brasil, o câncer de mama possui subtipos que ainda são desconhecidos por grande parte do público feminino. Essa informação foi constatada por uma pesquisa feita pelo Instituto Datafolha, sob encomenda da Gilead Oncology, da Gilead Sciences Brasil, que teve como objetivo investigar o nível de conhecimento das mulheres brasileiras sobre a doença. Os resultados apontaram que somente 11% das entrevistadas são capazes de indicar alguma das principais categorias do câncer de mama.
Flávia Andreghetto, diretora associada de oncologia na Gilead Sciences, explica que foram realizadas 1.007 entrevistas, entre 24 de novembro e 14 de dezembro de 2022, com um grupo de mulheres com idades de 25 a 65 anos, por meio de contato telefônico. O estudo quantitativo envolveu entrevistadas de todo o Brasil, sendo a maioria da região Sudeste (43%), e de diferentes classes sociais, com uma representação de 48% da classe C, 36% da D e da E, 15% da B e 2% da A. Conforme a especialista, resultados do questionário foram recentemente apresentados na maior conferência sobre cuidado aos pacientes com câncer, chamada Todos Juntos Contra o Câncer (TJCC).
De acordo com a pesquisa, a maioria das mulheres entrevistadas (69%) se considerada bem-informada sobre o câncer de mama, tendo médicos e a internet como principais fontes de informação. No entanto, Flávia destaca que os dados demonstram que ainda há uma barreira de acesso para o conhecimento sobre a doença, seja por etnia, classe social ou localização geográfica.
— O dado mais relevante da pesquisa foi que, apesar de nove em cada 10 mulheres já terem algum tipo de conhecimento sobre câncer de mama, as taxas caem bruscamente entre as mulheres negras de classes D e E, e com nível de escolaridade representado pelo Ensino Fundamental completo. As mulheres pretas (28%) e pardas (33%) relatam maior dificuldade para obter informações sobre câncer de mama em comparação com as mulheres brancas (20%) — exemplifica.
A especialista também ressalta que ainda é notoriamente básico o conhecimento que as mulheres dizem ter sobre a doença e que nove em cada 10 não souberam citar nenhum subtipo de câncer de mama quando solicitado. Segundo Flávia, apenas 3% das que mencionaram tipos da neoplasia comentaram sobre maligno e benigno, enquanto somente 0,08% falaram sobre o subtipo de maior gravidade: o triplo negativo.
— Conhecer o subtipo do câncer de mama é como conhecer o nome e o sobrenome de uma potencial doença e se tornar protagonista na discussão de opções terapêuticas com o médico. Cada subtipo de câncer de mama tem um perfil de evolução, gravidade e urgência para tratar. Estar ciente disso é estar ciente das suas oportunidades — enfatiza a especialista.
Diferenças entre os subtipos
Antônio Frasson, mastologista e coordenador do Centro de Oncologia do Hospital Nora Teixeira, da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, aponta que existem quatro grandes grupos de diagnóstico da doença.
O primeiro refere-se tumores hormônio dependentes, que representam cerca de 70% dos cânceres de mama. Dentro desse grupo, 50% são tumores luminais A, que têm uma proliferação celular mais lenta, enquanto 20% são luminais B, com proliferação mais rápida — por isso, são considerados mais agressivos.
Outros 10% dos cânceres de mama são chamados de triplo negativos. Nesse segundo grupo, a proliferação celular não tem relação com o hormônio estrogênio nem com o fator de crescimento epidérmico HER2. Já o terceiro abrange os tumores do tipo HER2 — são 20% dos diagnósticos da doença.
— Os tumores que se proliferam mais rápido são os triplo negativos, que também são os que mais demandam uso de quimioterapia e imunoterapia. Os HER2 também crescem muito rápido, porque têm uma superexpressão dessa proteína. Depois, vem o terceiro grande grupo, formado pelos tumores hormônio dependentes— resume o especialista, que também é titular do Grupo de Mama do Hospital Israelita Albert Einstein.
Metástase e proliferação
De acordo com Frasson, a principal diferença entre os subtipos é o comportamento de proliferação e o risco de metástase. O desenvolvimento de um tumor maligno significa que os mecanismos de controle de proliferação celular não funcionaram, assim, as células assumem uma “imortalidade” e, se não houver tratamento, elas se proliferam de forma descontrolada. Quanto mais rápido se as células cancerígenas se proliferarem, maior será o risco de que se espalhem — por isso é tão importante realizar um diagnóstico precoce.
— A avaliação do subtipo é feita inicialmente, com base nesses quatro grandes grupos. Existem parâmetros específicos que usamos para avaliar os riscos de crescer rapidamente e dar metástase em cada caso. Não tocamos em um paciente sem saber que tipo de tumor ele tem, é importante para definir o que precisa fazer na mama e no resto do organismo — comenta, destacando que cirurgia e radioterapia são tratamentos locais, enquanto a quimioterapia atua no restante do organismo quando há células que se proliferam muito rápido.
A hormonioterapia, acrescenta, funciona para os tumores hormônio dependentes e a imunoterapia é utilizada em casos de tripo negativo, estimulando o sistema imunológico do organismo a se defender:
— Se a base de crescimento é a HER2, usamos um medicamento anti-HER2, que inativa a proteína, fazendo com que ela pare de crescer. O tratamento depende do tipo de tumor que a pessoa tem, então quimioterapia não vai adiantar para tumores hormônio dependentes. É como usar antibiótico para uma infecção viral, não vai ajudar.
Andrei Gustavo Reginatto, mastologista e coordenador do Serviço de Mastologia do Hospital Fêmina, acrescenta que o câncer de mama também pode ser classificado pelo local onde se desenvolve. O mais comum é o ductal, que ocorre no ducto mamário, onde passa o leite.
O tratamento depende do tipo de tumor que a pessoa tem, então quimioterapia não vai adiantar para tumores hormônio dependentes. É como usar antibiótico para uma infecção viral.
ANTÔNIO FRASSON
Mastologista e coordenador do Centro de Oncologia do Hospital Nora Teixeira, da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre
O segundo mais diagnosticado é o lobular, que se forma nos lóbulos mamários, onde ocorre a produção de leite.
— O lobular é mais difícil de se identificar nos exames de imagem, então em grande parte se identifica pelo caroço, quando o tumor está mais avançado. Independente dos subtipos, os exames de rastreio identificam lesões antes da mulher senti-la. Se a pessoa se conhece muito bem, começa a sentir com um centímetro, mas o objetivo é identificar cânceres menores do que isso — ressalta.