A espera para os exames preventivos contra o câncer de mama já não preocupa tanto em Porto Alegre. Em 12 meses, a fila para uma ecografia mamária ou ultrassonografia mamária bilateral caiu de 18.364 para 53 solicitações em espera, uma queda superior a 99%. Como Porto Alegre é referência, a fila também tem pessoas de municípios vizinhos.
O número é referente a setembro deste ano, conforme relatório da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). No mesmo mês, em 2022, apenas 176 exames estavam sendo ofertados à população e, por isso, não era atendida a demanda reprimida durante a pandemia. Na última atualização, a oferta era de 1.041 exames, ou seja, um incremento quase seis vezes maior.
Esse aumento na oferta havia sido confirmado pela prefeitura no ano passado. De acordo com o titular da SMS Fernando Ritter, uma das estratégias foi um maior investimento para realização de ultrassonografias mamárias.
— A queda ocorreu fundamentalmente porque o valor que se pagava pela ecografia mamária era de cerca de R$ 24,20 valor que o Ministério da Saúde repassava, pois era correspondente a tabela SUS. Como não estávamos conseguindo aumentar a oferta de prestadores de eco mamária, pois tinham prejuízo, fizemos uma complementação no valor que, agora, chega a R$ 78 por exame. Conseguimos fazer com os prestadores voltassem a se interessar pelo serviço — explica Ritter.
O exame é utilizado para diagnóstico e avaliação de pacientes. Em geral, a ecografia mamária é complementar à mamografia, pois identifica alterações não visualizadas no exame mamográfico. Também pode ser útil para realização de biópsias de nódulos. Quanto mais rápido pacientes com suspeita de neoplasia maligna (câncer) obtiverem os resultados dos exames, mais rápido será a introdução ao tratamento. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), um em cada três casos de câncer pode ser curado se for descoberto logo no início.
Conforme a SMS, esses serviços, em grande maioria, são contratados em hospitais ou clínicas, dependendo da disponibilidade das estruturas e de recursos financeiros. Os recursos que deram vazão às solicitações são próprios do município e derivados de emendas parlamentares, segundo a pasta.
Adoção de protocolo técnico
Outra estratégia da SMS para reduzir a fila foi a adoção de um protocolo com critérios técnicos para solicitação. Antes, sem o protocolo, pacientes com maior necessidade da realização do exame disputavam a mesma agenda de exame com os demais que não tinham urgência, sobrecarregando a fila de espera. Segundo a SMS, "as diretorias de Regulação e de Atenção Primária estabeleceram um protocolo com base nas recomendações da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia". A secretaria, a partir de janeiro deste ano, passou a regular esse exame com base no protocolo de critérios de solicitação e de prioridade da ultrassonografia mamária. As solicitações passaram a ser revisadas pela Atenção Primária e alguns casos não se enquadravam neste novo protocolo, que busca equidade e otimização dos recursos.
Moradoras da Capital relataram à reportagem que, depois mais de um ano na fila, a solicitação da ecografia mamária havia sido cancelada. Questionada sobre esses casos, de pessoas que podem ter perdido o encaminhamento ou não foram chamadas para o exame, a SMS afirma que, com a atualização dos processos, a orientação é de que as usuárias busquem a Unidade de Saúde de referência. A pessoa pode solicitar a reversão do pedido, que será atualizado e autorizado se atender os critérios de prioridade estabelecidos pelo protocolo. A SMS destaca que, "ao reverter a pendência, a data original de solicitação fica preservada para que o paciente não tenha prejuízo em relação ao seu tempo na fila".
Mamografia tem maior oferta
Já a fila da mamografia, exame realizado em um aparelho chamado mamógrafo, foi reduzida de 482 para 225 solicitações em um ano (de setembro de 2022 a setembro de 2023). A oferta, que era de 436, passou para 3.028 exames — significantemente maior do que a demanda.
A técnica da área de saúde da mulher da SMS, Rosa Vilarino, destaca a importância de manter em dia os exames preventivos e as visitas regulares à unidade de saúde.
— Hábitos saudáveis também contribuem para a qualidade de vida, como alimentação equilibrada, prática de exercícios físicos, evitando o fumo e o excesso de bebida alcoólica — afirma Rosa.
Parcerias com a SMS
Conforme a prefeitura da Capital, o Instituto da Mama do Rio Grande do Sul (Imama) irá disponibilizar 3.205 ultrassonografias mamárias, a partir de emendas parlamentares repassadas à SMS, no período de um ano. Outra parceria com o Imama concederá vale-transporte a mulheres com câncer de mama, que não possuem recursos para passagem, para ser utilizado no deslocamento para o tratamento. Aquelas que precisarem devem fazer contato com o Núcleo de Relacionamento com o Paciente do Imama, no WhatsApp (51) 9403-4249. Os recursos também são de emenda parlamentar.
A Liga de Combate ao Câncer prevê firmar acordo de cooperação, sem ônus para o município, no qual deve disponibilizar os seguintes exames: 720 mamografias em 12 meses, 120 ultrassonografias mamárias, 120 ultrassonografias transvaginais e 600 citopatológicos do colo do útero.
O câncer de mama em números
Depois do câncer de pele não melanoma, o câncer de mama é o mais incidente e a primeira causa de morte em mulheres de todas as regiões do Brasil. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), só neste ano, foram registrados 73.610 casos novos de câncer de mama no país, com um risco estimado de 66,54 casos a cada 100 mil mulheres. No Rio Grande do Sul, o número deve alcançar 3,7 mil. Em 2022, foram 1.432 mortes de mulheres pela doença no Estado.
Os dados da Secretaria Municipal de Saúde, por meio da Diretoria de Vigilância em Saúde, que mostrou que a Capital teve 168 óbitos por câncer de mama em 2023 (até 30 de setembro) e 223 em 2022.