Esclarecimento: o crédito correto da fonte ouvida nesta reportagem é dentista especializada em cirurgia e traumatologia buco-maxilo-facial, e não cirurgiã buco-maxilo-facial. Já a extração de qualquer dente só pode ser feita por dentistas, e não médicos buco-maxilo-facial como publicado entre 15h28min de 18 de julho e 10h13min de 14 de agosto. O texto já foi corrigido.
O caso da jovem Isadora Belon Albanese, 18 anos, que morreu após complicações provocadas pela retirada de dentes do siso, na cidade de Porto Feliz, no interior de São Paulo, em abril, chamou atenção para os cuidados pré e pós-operatórios necessários e as condições para a cirurgia. O fato foi tema de reportagem do Fantástico, da Rede Globo, no domingo (16). Na ocasião, ela passou pela extração em uma clínica, registrou dores fortes e e teve infecção, que causou a morte.
A chefe do Serviço de Odontologia Hospitalar e dentista especializada em cirurgia buco-maxilo-facial da Santa Casa de Porto Alegre, Luciana Zaffari, lembra que é necessário olhar detalhadamente várias etapas como a extração, os cuidados pré e pós-operatórios, o que pode ocorrer se o procedimento não for realizado e as vantagens de realizar a cirurgia em ambiente hospitalar.
Luciana ressalta que casos de óbito por extração de siso são raríssimos. O que pode levar o paciente a óbito, como no caso da jovem de São Paulo, que teve uma infecção generalizada, é uma bactéria, mas é difícil saber em que momento ela se instala.
— Mesmo assim, quando uma bactéria se instala após uma cirurgia, é possível ter o controle com antibioticoterapia. Então, é muito raro, porque morrer por septicemia derivado de uma cirurgia é pouco provável, ainda mais se tratando de extração de siso — afirma a dentista.
Quando a extração é necessária
A chefe do Serviço de Odontologia explica que nem todos os sisos necessitam ser removidos, mas que existem situações em que a extração é indicada, como nos casos de tratamento ortodôntico. A causa mais comum é quando as arcadas são pequenas, os dentes têm pouco espaço para acomodação, ficando apinhados ou fora de posição.
— Outra situação, bastante comum também, na qual a remoção está indicada, é quando a região destes dentes fica “inchada”, que é o aumento de volume, seguidos de dor, febre e mal-estar geral, chamamos este quadro de pericoronarite, ou seja, uma infecção causada pelo acúmulo de bactérias, ou cárie no siso — explica.
Luciana ressalta que os dentes do siso estão em uma região da boca de difícil acesso para higiene, agravado muitas vezes pela posição intraóssea e encapsulado da gengiva. Isso aumenta o risco de infecções, que quando recorrentes, podem predispor o surgimento de cistos, que necessitam de tratamentos mais complexos.
Cuidados pré e pós-operatórios
O procedimento de retirada do siso é considerado uma cirurgia de grande porte e por isso, como lembra a especialista, conhecer o paciente é fundamental. Realizar uma anamnese (entrevista para identificar sinais e sintomas) com o paciente, rever questões importantes da sua saúde, saber se ele fuma e bebe são essenciais, afirmam os odontologistas.
— O ideal é realizar entre 15 e 18 anos, no máximo 25, quando o osso é mais macio e quando esse dente não está tão firmemente preso à tábua óssea, tornando a realização da técnica mais tranquila e com isso o pós-operatório tende a ser melhor — esclarece Luciana.
Para pacientes mais jovens,. é indicado a presença de um acompanhante nas consultas que antecedem a cirurgia. O dentista especializado em cirurgia buco-maxilo-facial deve pedir exames de sangue para ver como está a imunidade, provas de coagulação do paciente, história de problemas cardíacos na família e outras questões prévias, pois em muitas ocasiões essa é a primeira cirurgia que um paciente faz, quando tem entre 15 e 18 anos.
Os cuidados no pós-operatório são importantes para uma recuperação plena. A dentista da Santa Casa aponta que os cuidados depois do procedimento consistem em higiene e alimentação adequadas, repouso, utilização de analgésicos para controlar a dor e antibióticos para combater infecções.
— Se o paciente não é alérgico, utilizamos um antibiótico de primeira escolha para cavidade bucal, pelo tipo de bactéria e pela flora bucal do paciente, como a amoxicilina com ácido clavulânico, também são utilizados corticoides para diminuição do edema e controle da dor, bem como soluções para bochechos com antibacterianos — conta a especialista.
Além disso, é importante o paciente ter cuidados em casa, colocar gelo no local, fazer repouso e ter uma dieta líquida e fria por alguns dias. Também é fundamental realizar revisões pós-operatórias após sete dias do tratamento e quinze depois. Se o paciente relatar dor intensa, no entanto, deve ir para revisão imediata, salienta Luciana.
O que acontece se a extração não é realizada
Quando a remoção dos dentes siso é recomendada o paciente deve realizar o procedimento, pois caso não faça, corre o risco de desenvolver abscessos submandibulares ou cistos maiores.
—A não remoção desses terceiros molares pode ocasionar lesões decorrentes de sisos que infectaram diversas vezes, onde o paciente faz uso de anti-inflamatórios, mas quando a dor aguda passa, ele pode desenvolver uma lesão maior e mais grave — alerta.
O procedimento deve ser feito em ambiente hospitalar
A chefe do Serviço de Odontologia Hospitalar defende que realizar a remoção do siso no hospital é mais seguro, pois evita riscos de sangramentos. Isso porque neste ambiente o controle é realizado de forma mais adequada do que em consultórios. Além disso, a administração dos medicamentos necessários pode ser feita por acesso endovenoso, reduzindo as possibilidades de infecções.
— Há ainda um controle maior da recuperação após o procedimento, pois quando ele vai para a casa, o paciente já está com a dor mais controlada e sem sangramento — avalia Luciana.
Protocolo padrão
Após perderem a filha, os pais de Isabela reivindicaram pelas redes sociais a criação de um protocolo padrão para a realização de extrações de siso, onde se expusessem de forma clara os riscos e possibilidade de identificar má conduta do dentista, por parte de pacientes e familiares. Apesar do pedido ter arrecadado cerca de 60 mil assinaturas pela internet, para a especialista a solicitação não faz sentido.
Luciana Zaffari afirma que, normalmente, o profissional para ser habilitado a trabalhar em um hospital, se qualifica dentro dos protocolos institucionais de cirurgia segura, garantindo assim que todos os cuidados sejam tomados para que o pós-operatório desse paciente seja o mais tranquilo possível. Além disso, a dentista argumenta que já existe um protocolo de quando se deve remover, como fazer e quais os medicamentos que devem ser utilizados.
— Mas infelizmente depende do bom senso do profissional em adotar as medidas necessárias, não há como os Conselhos Regionais de Odontologia controlarem o que acontece dentro dos consultórios — diz.